Diário do Alentejo

“Captar e fixar pessoas é uma das prioridades”

22 de dezembro 2021 - 09:15

“Captar e fixar pessoas” e “elevar todos os dias os níveis da qualidade de vida dos mertolenses estabilizados” no concelho de Mértola são as “prioridades mais prementes” de Mário Tomé, vice-presidente no anterior executivo que agora sucede ao também socialista Jorge Rosa na presidência da câmara.

 

Texto Nélia Pedrosa

 

Vai dar continuidade ao trabalho do presidente cessante, Jorge Rosa, ou este será um mandato de renovação?

Como em qualquer variável da nossa vida sempre que existe uma mudança é natural que a ela estejam associadas alterações no modelo de ação ou funcionamento. Lideranças diferentes, estilos diferentes. Contudo, no caso em concreto da gestão autárquica do município de Mértola, e atendendo a que 50 por cento do executivo atual assumia funções no anterior executivo, eu próprio e a vereadora Rosinda Pimenta, que tivemos ação direta no planeamento da estratégia de desenvolvimento de Mértola e dos projetos a implementar, é natural que os mesmos tenham continuidade. Será, portanto, um mandato de ação mista, continuidade do trabalho previamente planeado e, em simultâneo, lançar novos projetos e ideias, assentes numa liderança com estilo próprio.

 

Quais são as suas prioridades para o concelho de Mértola?

É expectável que o presidente da Câmara de Mértola diga que a sua maior prioridade é captar e fixar pessoas, eu digo que é uma das duas prioridades mais prementes, a outra é elevar todos os dias os níveis da qualidade de vida dos mertolenses “estabilizados” em Mértola. Captar e fixar pessoas faz-se, sobretudo, com emprego e habitação. Para esse efeito planeámos dois projetos base, a Estratégia Local de Habitação, que pressupõe, de forma global, a capacidade de colocarmos habitação no mercado a preços controlados, e a construção da nova Zona Empresarial e Logística como base para a criação de emprego.

 

Que outros projetos considerados estruturantes quer implementar neste seu primeiro mandato?

Não sendo possível fazer referência a todos, destaco a recuperação dos armazéns da EPAC, que se subdivide em três grandes projetos: Estação Biológica de Mértola, Centro de Interpretação da Biodiversidade do Vale do Guadiana e Centro de Patrimónios – Reservas do Museu e Arquivo Municipal, com destaque para a Estação Biológica de Mértola como um centro de valorização e transferência de tecnologia, focalizado na biodiversidade, na agroecologia e na cinegética. A conclusão e entrada em funcionamento do Lar de São Miguel do Pinheiro, um investimento que irá contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos idosos do concelho de Mértola e também para a criação de emprego, prevendo-se a criação de 35 a 40 postos de trabalho. Continuar a infraestruturação básica em domínios promotores da qualidade de vida das populações e da coesão territorial (saneamento, água, estradas). Outra vertente da nossa ação será a submissão e validação das candidaturas de Mértola a Património da Humanidade, do Geoparque Vale do Guadiana e da certificação internacional de Mértola como destino de turismo sustentável, visando a promoção da notoriedade do território.

 

Mértola foi dos concelhos do distrito de Beja que perdeu mais população, segundo o Censos 2021 (-14,7 por cento). Como é que será possível inverter o cenário?

Não há dúvida de que perdemos população, mas, principalmente, devido ao falecimento das faixas etárias mais elevadas, porque, mesmo assim, conseguimos abrandar o êxodo e atrair novos habitantes para Mértola. Já fiz referência nas questões anteriores à estratégia local para fazer face à problemática da densidade populacional, mas a questão da perda de população será sempre mais do que um problema de Mértola, é um problema de âmbito nacional, diria até mundial, e enquanto não for entendido dessa forma não será solucionado. Não existe qualquer município do interior com capacidade de só por si resolver o problema da densidade populacional. Tem de existir da parte do Governo central uma postura, e ainda que seja um chavão, de discriminação positiva para o interior, e existem tantas formas de o fazer e que todos sabem quais são. Que exista vontade política para o fazer, da nossa parte, localmente, existe e muita.

 

E no que concerne às alterações climáticas, qual deverá ser a estratégia a adotar pela autarquia?

Mértola passou de uma classificação de clima temperado para clima semiárido. Neste contexto, o cenário de risco local aponta para um aumento gradual da temperatura média, a redução e concentração da pluviosidade e o aumento de fenómenos climáticos extremos como as secas, as chuvas torrenciais, as ondas de calor ou a maior incidência de partículas e poeiras. A estratégia da autarquia tem de ser uma estratégia de território, isto é, de compromisso e participação ativa de todos os seus agentes neste propósito da mitigação e adaptação climática.

 

Qual o balanço que faz destas primeiras semanas de governação?

Excelente! Sabia o trabalho de qualidade que tinha sido desenvolvido e projetado por Jorge Rosa e as suas equipas, onde tive o privilégio de estar integrado, mas foi importante perceber que existe um potencial enorme, sobretudo humano, que permite ter a certeza que será possível fazer ainda mais e melhor. No campo pessoal senti verdadeiramente que é a concretização de um sonho, o sentir um orgulho enorme em ser presidente da Câmara Municipal de Mértola, do meu concelho, da minha raiz, da minha gente. Mas, sobretudo, tive a sensação clara, que se sobrepõe a esse sonho, da responsabilidade e espírito de missão em trabalhar todos os dias para elevar a qualidade de vida de todos os mertolenses, de trabalhar todos os dias para elevar Mértola ao patamar de excelência que merece.

 

 “TEMOS A ANTEVISÃO DE UM TERRITÓRIO QUE NÃO SE RESIGNA”

Como antevê o futuro próximo do concelho?

Com a inquietude de quem gere um território, mas com a tranquilidade de quem conhece muito bem Mértola e o seu potencial. Mértola tem uma matriz própria, uma identidade única e isso é inquebrável num território. Existe a evidência dos problemas estruturantes que nos afetam (a muito baixa densidade populacional, a elevada vulnerabilidade às alterações climáticas e o risco real de desertificação física e humana) mas acima disso temos a visão de um território que não se resigna, um território resiliente que toma nas suas mãos a ação, ensaiando soluções na pequena, média e grande escala, no curto, médio e longo prazo.

Comentários