O valor médio das pensões da Segurança Social pagas no Baixo Alentejo aumentou 21,2 por cento em 10 anos. O montante é, no entanto, inferior à média nacional, sendo, ainda, o mais baixo da região Alentejo. Comparativamente a 2011, os aumentos mais significativos observam-se nos concelhos de Castro Verde e Aljustrel e os mais baixos em Barrancos e Cuba.
Texto Nélia Pedrosa
De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), atualizados no início deste mês, o valor médio das pensões – invalidez, velhice e sobrevivência – pagas pela Segurança Social no Baixo Alentejo (NUTS III) é de 4690 euros anuais, mais 21,2 por cento do que em 2011 (3870 euros/ano).
Este montante é, no entanto, inferior à média nacional (5811 euros/ano), correspondendo a 80,7 por cento desse valor, sendo, ainda, o mais baixo da região Alentejo – Alentejo Litoral (5443 euros/ano), Alentejo Central (5174) e Alto Alentejo (4825). Mensalmente, os pensionistas no Baixo Alentejo recebem, em média, 335 euros. Em termos nacionais, o valor médio anual mais elevado regista-se na Área Metropolitana de Lisboa (7462 euros/ano) e o mais baixo no Alto Tâmega (3827).
Os dados disponibilizados pelo INE mostram igualmente que o valor médio anual das pensões é muito assimétrico no Baixo Alentejo, com os montantes mais elevados a serem registados nos concelhos de Aljustrel (5752 euros/ano) e Castro Verde (5486) e os mais baixos em Moura (4300) e Barrancos (3983).
Comparativamente a 2011, os aumentos mais significativos observam-se nos concelhos de Castro Verde (39,6 por cento), Aljustrel (30,4 por cento) e Almodôvar (27 por cento) e os mais baixos em Alvito (14,5 por cento), Barrancos (13,9 por cento) e Cuba (11,8 por cento).
Este valor médio das pensões pagas no Baixo Alentejo está abaixo do limiar de risco de pobreza (6480 euros/ano), ou seja, o limite do rendimento abaixo do qual se considera que uma família se encontra em risco de pobreza. Este valor foi convencionado pela Comissão Europeia como sendo o correspondente a 60 por cento da mediana do rendimento por adulto equivalente de cada país.
O presidente da União Distrital de Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) de Beja frisa, em declarações ao “Diário do Alentejo”, que os valores médios das pensões referentes ao Baixo Alentejo “incluem, certamente, ainda uma população que exerceu a sua atividade profissional antes do 25 de Abril e só obteve pensão de reforma graças ao regime instaurado no país democrático”. “Muitos deles eram trabalhadores agrícolas, ou donas de casa, que, infelizmente, nunca puderam beneficiar de um sistema de segurança social como o que hoje existe, pelo que nunca lhes foi conferida a possibilidade de fazerem os respetivos descontos para garantir uma pensão mais digna”, especifica Vítor Igreja.
Para além disso, situando-se o Baixo Alentejo no interior do País e sendo “constituído por uma população de baixas qualificações e onde a oferta de trabalho existente é, preferencialmente, para atividades indiferenciadas e mal remuneradas, será perfeitamente expectável que as pensões pagas pela Segurança Social sejam das mais baixas do País”, acrescenta.
A “quase inexistência de atividade industrial ou de empresas que requeiram pessoal especializado”, refere ainda o dirigente, “fomenta o afastamento da população mais qualificada e mais jovem, diminuindo a população e agravando o seu envelhecimento”.
MINAS JUSTIFICAM VALORES MAIS ELEVADOS EM ALJUSTREL E CASTRO VERDE O presidente da mesa do conselho geral do Núcleo Distrital de Beja da EAPN/Rede Europeia Anti-Pobreza sublinha, por sua vez, que “importa recuar até pelo menos 40 anos (período de início de descontos)” para “se compreender a realidade da região” de então. “A atividade principal era a agricultura, fundamentalmente de culturas de sequeiro, o trabalho era escasso e sazonal, o que levou muitos alentejanos a emigrar ou a procurarem oportunidades no litoral ou na Área Metropolitana de Lisboa”, diz João Martins.
Há quatro décadas, prossegue, “também não existia o rigor fiscal atual, o que levava muitas vezes, quer por interesse da entidade patronal e/ou do trabalhador, a não se declararem trabalhos pontuais, o que acarretou como consequência valores de pensões mais baixas na atualidade”.
O responsável salienta, ainda, que “os trabalhos melhor remunerados dos mineiros justificam que em Aljustrel e Castro Verde os valores das pensões sejam superiores” e que o aumento do valor médio das pensões verificado nos últimos 10 anos poderá justificar-se “com oportunidades crescentes e melhores remunerações decorrentes do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva e de as novas atividades económicas, como o turismo, a restauração, entre outras, ganharem mais expressão e proporcionarem melhor remuneração, a par de um melhor controlo fiscal”.
O valor médio das pensões no Baixo Alentejo, “abaixo do limiar de risco de pobreza, é um facto que só surpreende quem não lida diariamente com a dura realidade dos nossos idosos”, afirma o presidente do Secretariado Regional de Beja da União das Misericórdias Portuguesas. E lembra que “há mais de cinco séculos que as Misericórdias se entregam a cuidar dos idosos, dos desfavorecidos da sociedade, ancoradas nos seus valores e raízes, tendo como princípio o que magistralmente em tempos recentes o papa Francisco afirmou, ‘uma comunidade, um Povo, um Estado que não cuida dos seus idosos é um povo sem futuro, porque quem não cuida das suas memórias não tem futuro’”.
Francisco Ganhão sublinha que “por detrás destes números estão pessoas, estórias de vida, a sua grande maioria desenhadas com trabalho de sol a sol, empenho, dedicação e carinho para com os seus descendentes, com o propósito de lhes proporcionar ‘ferramentas’, as quais permitiram a ascensão social e melhores condições de vida. São seres humanos que merecem um tratamento digno, qualidade de vida e cidadania”.