Diário do Alentejo

80% do azeite português é produzido no Alentejo

07 de setembro 2021 - 09:50

A produção de azeite no Alentejo quase duplicou nos últimos 10 anos, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). A região representa, agora, cerca de 80 por cento de todo o azeite produzindo em Portugal, devido sobretudo aos novos olivais intensivos e superintensivos plantados no perímetro de rega do Alqueva.

 

Texto Júlia Serrão

 

Mariana Matos, secretária-geral da Casa do Azeite, confirma “o peso crescente” do Alentejo na produção nacional de azeite “à medida que os novos olivais vão entrando em produção”. Dá conta que se continua a plantar “ainda algum olival”, que demora cerca de três a quatro anos a entrar em produção, o que significa que os números têm tendência a “otimizar-se”. A produção global de azeite da região Alentejo “representa entre 75 e 80 por cento da produção nacional todos os anos”, sendo que a “esmagadora maior parte” é proveniente dos novos olivais plantados no perímetro do Alqueva.

 

Este crescimento foi, aliás, decisivo para inverter a equação em termos de importação-exportação nacional: “Passámos a ser autossuficientes para o consumo interno, porque antes tínhamos que importar para as nossas necessidades”, diz Mariana Matos, esclarecendo que o País ainda importa azeite, mas muito menos.

 

De acordo com Gonçalo Almeida Simões, diretor executivo da Associação de Olivicultores do Sul (Olivum), que representa os novos investidores, 2013/2014 (o ano é contado desta forma, porque a apanha da azeitona acontece entre outubro e janeiro) foi o ano da grande viragem, em que “a exportação” nacional “ultrapassou a importação”, mas o panorama já vinha a evoluir nesse sentido desde 2005. Diz que “se olharmos para os números e tivermos em consideração quando é que o Alqueva começou a regar, quando se instalam os primeiros olivais no Alqueva e quando esses olivais começaram a produzir”, há uma clara coincidência entre uma coisa e as outras. Nesse ano foram produzidas 90 mil toneladas de azeite a nível nacional, 72 mil no Alentejo.

 

A importância da cultura do olival no Alentejo é “fortíssima”, sublinha a secretária-geral da Casa do Azeite, explicando que era um “setor que estava muito ‘adormecido’” mas com um potencial enorme, “como hoje se comprova, sendo que é uma cultura adaptada à região, mediterrânica”. Argumenta: “Das opções que existem para o regadio, o olival é das mais respeitosas e das mais sustentáveis tanto em termos de consumo de água como de fitossanitários, porque é uma cultura que já existia na região”. Sublinha ainda a sua relevância na economia local: “Criação de emprego e valor acrescentado na zona, que vem em grande parte do regadio e da valorização de uma cultura através do investimento que foi feito”, primeiro com o perímetro do Alqueva, e depois com o investimento privado.

 

A IMPORTÂNCIA DO ALQUEVA

Gonçalo Morais tem 34 hectares de olival de sequeiro, uma propriedade de família, de onde “normalmente” tira “à volta de 1000 quilos de azeitona por hectare”. Em 2020/2021 não tirou “absolutamente nada, pois foi um ano muito complicado”, comenta. Está otimista relativamente à próxima colheita que começa em outubro. “O meu olival e os olivais em geral, que eu conheço, estão muito bem compostos, pelo que, se tudo correr bem até ao fim, e ainda faltam praticamente dois meses para a safra, será um bom ano de azeitona e de azeite”.

 

As previsões do produtor coincidem com as da secretária-geral da Casa do Azeite e com as do diretor executivo da Olivum, com a respetiva salvaguarda que ainda faltam algum tempo até à safra. Em 2019/2020 a produção nacional foi de 100 mil toneladas de azeite, 80 mil do Alentejo. Com base na alternância cultural do olival – num ano produz mais, no ano seguinte menos e assim ciclicamente –, a produção de 2020/2021 “poderá andar pelas 150 mil toneladas, das quais 120 mil sairão do Alentejo”, prevê Mariana Matos, concluindo: “Portanto, o Alentejo já não é o celeiro de Portugal, mas o lagar de Portugal.”

 

Apesar de igualmente otimista, Gonçalo Almeida Simões fica-se por uma previsão mais conservadora: “120 mil toneladas, das quais 96 mil será o contributo” do Alentejo. A participação do distrito de Beja em termos de produção de azeite não é possível apurar: “os dados não chegam tão longe”, sublinha o diretor executivo esclarecendo que também não iam ajudar, uma vez que a transformação em lagar, nem sempre ocorre no distrito onde se encontra o olival.

 

Recorde-se que nos 120 mil hectares de terra irrigada pelo Alqueva, 60 por cento corresponde a olival. “Esse é o peso da cultura” que tornou possível, há sete anos, “dar o salto para a autossuficiência em azeite”, refere Gonçalo Almeida Simões, defendendo que o investimento do Alqueva “é muito importante porque atraiu investimento de várias empresas agrícolas – e à volta destas empresas de contabilidade, de maquinaria, manutenção e assistência” – que, no seu perímetro, cresceram “68 por cento” entre 2011 e 2019. “Veremos quais as culturas que se vão instalar nos 50 mil hectares que se preveem até 2023”. 

 

COOPERATIVA DE MOURA ACOMPANHA EVOLUÇÃO

A Cooperativa de Moura e Barrancos, a maior da região, extraiu na campanha de 2020/2021 cerca de 4000 toneladas de azeite, segundo o diretor de operações e de ‘marketing’. Henrique Herculano diz que não têm como avaliar “diretamente o sistema de condução dos olivais dos quais é proveniente a azeitona” que recebem. Explica, no entanto, que mais de 70 por cento dos 20 mil hectares da área de abrangência da Cooperativa “é conduzido em sistema tradicional de sequeiro, e cerca de metade do azeite” aí produzido “é passível de ser qualificado como Azeite de Moura DOP, ou seja proveniente de variedades tradicionais produzidas na região demarcada”: Cordovil de Serpa, Galega e Verdeal Alentejana. Conclui, referindo que o crescimento de produção da Cooperativa de Moura e Barrancos tem “acompanhado a evolução registada a nível nacional”, prevendo-se “uma possível campanha recorde” para 2021/2022.

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