Diário do Alentejo

Alentejo: Produção de vinho deverá chegar a 120 milhões de litros

28 de agosto 2021 - 08:45

A época de vindimas já arrancou na Alentejo e pode atingir os 120 milhões de litros. Apesar do aumento da temperatura que se fez sentir na última semana a qualidade dos vinhos não deve ser afetada.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

Um estudo da Universidade do Porto prevê um aumento da produção de uva para vinho no Alentejo entre os cinco e 10 por cento em relação a 2020, podendo atingir os 120 milhões de litros. A Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), através do seu presidente, Francisco Mateus, diz que esta subida se fica a dever às “boas condições atmosféricas registadas” e à ausência de pragas nesta campanha, o que permitirá que as uvas cheguem às adegas “sãs e, por isso, com uma maior probabilidade de resultar em vinhos de excelente qualidade”

 

O estudo da Universidade do Porto, em parceria com a CVRA, é o 22.º efetuado e, como habitualmente, chega no início das vindimas que, no Alentejo, se iniciam “de sul para norte” e prolongam-se por 10 a 11 semanas. As castas brancas, principalmente as utilizadas na produção de espumantes são as primeiras a ser colhidas. No último ano, no Alentejo, produziram-se 113 milhões de litros de vinho o que correspondeu a um aumento de 15 por cento em relação a 2019.

 

José Miguel Almeida, presidente do Conselho de Administração da Adega Cooperativa da Vidigueira, Cuba e Alvito, em declarações ao “Diário do Alentejo”, anunciou o início da vindima para a próxima segunda-feira, dia 23. “A produção deve ser superior à do ano passado”, que foi de oito milhões de quilos. “Até agora a campanha tem estado a correr bem. Apesar do calor dos últimos dias o verão foi pacífico e a maturação das uvas excelente”, explicou. Quanto à qualidade das uvas, José Miguel Almeida diz que “estão a revelar-se bastante equilibradas” e prevê que entrem na adega “em boas condições” para serem transformadas.

 

Também o enólogo Luís Morgado Leão, em declarações à Lusa, referiu que “as condições climatéricas não prejudicaram o normal desenvolvimento das vinhas. As uvas dos nossos associados apresentam indicadores positivos de que continuaremos a produzir vinhos com o patamar de qualidade por nós exigido e esperado pelos nossos consumidores.”

 

Recorde-se que esta adega promove um programa turístico de vindimas, no qual os enoturistas podem experimentar o processo de vindima e vinificação dos vinhos e que consta de visitas às vinhas, à vindima, a degustação de petiscos regionais na vinha, acompanhamento do processo de vinificação e visita às instalações da Adega na Casa das Talhas e uma prova de vinhos.

 

Já Augusto Palhaço, da Vitifrades, diz que a vindima está a começar “devagarinho”, visto as uvas não “estarem suficientemente maduras”. As vindimas para o vinho de talha “começam, normalmente no fim de agosto, pois quanto mais madura estiver a uva mais o grau sobe” e é isso o pretendido.

 

Augusto Palhaço lembra que a Vitifrades apenas trabalha em vinha tradicional, sem rega, o que permite vindimar entre seis e sete mil quilos de uva por hectare. Podiam aumentar a produção recorrendo à rega, mas, garante, que vão “manter a tradição”.

 

Mariana Lança, da Herdade Grande, refere ao “Diário do Alentejo” que “a expectativa é elevada em termos de qualidade”, mas em relação à quantidade não se verifica, como em outros casos, “um aumento de produção”. Pelo contrário, pode até acontecer um pequeno recuo. A situação explica-se pelo facto de parte das vinhas terem 15 anos e mostrarem um comportamento diferente daquelas que são mais novas.

 

No que respeita à vindima “vai terminar mais cedo” uma vez que o fruto amadureceu rapidamente. “Ao dia 18 a casta Antão Vaz já está pronta para ser apanhada”. Mariana Lança diz que “cada ano é um ano” e este foi influenciado por “temperaturas continuadamente altas (acima dos 30º)” o que acelerou o processo. Já quanto aos escaldões provocados pelas altas temperaturas dos últimos dias, daí resulta “apenas prejuízo”.

 

LÍDER NACIONAL

Segundo a CVRA, os vinhos do Alentejo vendem 40 por cento do total que é vendido pelas 14 regiões vitivinícolas registadas em Portugal. Dos 22,9 mil hectares de vinha, 30 por cento da produção destina-se à exportação, principalmente, para Brasil, Angola, Estado Unidos da América, Polónia e China. A CVRA recorda ainda que a região é uma das duas em todo o mundo que produz, há mais de dois mil anos, vinho da talha e que o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo é pioneiro em Portugal, o que permitiu uma certificação inédita e concorre para promover melhores práticas nas vinhas e adegas, produzindo uvas e vinho de qualidade e economicamente viáveis.

 

EXPORTAÇÕES SOBEM 20 POR CENTO NO PRIMEIRO SEMESTRE

As exportações dos Vinhos do Alentejo cresceram 20 por cento em valor e 14 por cento em quantidade no primeiro semestre deste ano, face a período homólogo de 2020, revelou a Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA). Em comunicado, a CVRA indicou que, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), as exportações de vinho alentejano representaram 32 milhões de euros de receita nos primeiros seis meses deste ano.

 

Os dados do INE mostram ainda que “cerca de 12 milhões de garrafas [foram] comercializadas para o mercado externo, o que se traduz em mais de nove milhões de litros exportados”, o que representa um aumento de 14 por cento, em comparação com o primeiro semestre do ano transato.

 

“Também o preço médio por litro de vinho acompanhou a tendência de subida, com um aumento de 5 por cento, para 3,48 euros por litro”, assinala a CVRA. Segundo Francisco Mateus, presidente da CVRA, estes resultados são alavancados pelos mercados brasileiro (mais 34 por cento em valor), suíço (mais 16 por cento), norte-americano (mais 7 por cento) e do Reino Unido (+ 123 por cento em valor).

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