Diário do Alentejo

Beja: Empresários temem agravamento da pandemia

09 de julho 2021 - 09:40

Atendendo à evolução da pandemia no País, a Associação do Comércio, Serviços e Turismo do distrito de Beja e o Nerbe estão preocupados com o eventual regresso de restrições. A concretizar-se, iria “colocar em causa muitas empresas”.

 

Texto Nélia Pedrosa

 

A Associação do Comércio, Serviços e Turismo do Distrito de Beja encara “com muita preocupação” um possível agravamento da pandemia de covid-19 na região, atendendo à situação epidemiológica que se tem vindo a verificar, sobretudo, na região de Lisboa e Vale do Tejo e no Algarve. Devido à evolução da pandemia no País, o Governo acabou por decidir “não avançar, para já, para a próxima fase de desconfinamento”, que inicialmente estava prevista para a passada segunda-feira, dia 28 de junho.

 

Anabela Guerreiro, coordenadora geral da associação, diz, em declarações ao “Diário do Alentejo”, que “um possível recuo nas medidas de desconfinamento no distrito de Beja vem agravar ainda mais a situação económica dos estabelecimentos, em particular dos cafés, restaurantes, hotelaria e comércio em geral”. E lembra que os impactos da crise provocada pela pandemia “foram devastadores” para os comerciantes do distrito, “implicando mudanças estruturais, quer ao nível da tipologia de negócio, quer no quadro de pessoal”.

 

Neste último semestre, revela, a associação tem conhecimento “de oito empresas associadas que, pelo imperativo dos constrangimentos provocados pela pandemia, tiveram que encerrar, o que representa a perda de 12 postos de trabalho”.

 

“CONTRARRELÓGIO PARA RECUPERAR”

 

“Vai ser dramático para as empresas caso haja um recuo”, considera, por sua vez, David Simão, presidente da Associação Empresarial do Baixo Alentejo e Litoral (Nerbe/Aebal). “Tanto no comércio, como nos serviços, lutamos muito para recuperar a confiança dos nossos clientes e qualquer interferência nessa confiança pode significar uma diminuição do consumo e, consequentemente, do volume de negócios para as empresas que podem ficar em situações complicadas porque esgotaram todas as suas reservas no último ano”, adianta o responsável, salientando que “houve uma preocupação transversal a todos os setores de manter os seus funcionários, aproveitaram-se todas as medidas de apoio à tesouraria, mas essas medidas estão a chegar ao fim”. Por isso, diz, “é premente manter todos os cuidados recomendados pela Direção Geral de Saúde (DGS), manter as pessoas nos seus locais de trabalho com a possibilidade de estarem operacionais e manter a confiança dos consumidores”.

 

David Simão sublinha que o Nerbe tem alertado os associados para a manutenção das medidas de segurança, “porque estamos em contrarrelógio para recuperar o ano anterior”, sobretudo, nas áreas mais afetadas pela crise, como o turismo, a restauração e o alojamento local. Na “medida do possível”, tem facilitado, também, à DGS, “contactos das empresas, nomeadamente, das que têm mais funcionários, para que se possam agilizar as campanhas de vacinação”.

 

O empresário realça ainda como preocupante o caso do concelho de Odemira – que integra o grupo, segundo a DGS, “dos que registam, pela segunda avaliação consecutiva, uma taxa de incidência superior a 120 casos por cem mil habitantes nos últimos 14 dias (ou superior a 240 se forem concelhos de baixa densidade) –, porque “continua sem haver uma análise aprofundada das situações específicas” do território. “Continua a haver um fecho dramático para os empresários daquela área, uma situação que precisa de ser resolvida com uma urgência enorme”.

 

Com a pandemia de covid-19, realça o dirigente, tem-se notado, também, “uma falha generalizada nas cadeias de fornecimento das matérias-primas, dos fatores de produção”, uma situação considerada preocupante e que “tem sido acompanhada de alguma especulação, de um aumento generalizado dos preços das matérias-primas, o que nos deixa muito receosos para os futuros próximos”.

 

Apesar do cenário, David Simão diz que se tem vindo a registar uma recuperação por parte das empresas do distrito, com o processo de desconfinamento iniciado em meados de março. “É lógico que isto aumenta conforme assim vai aumentando o fator confiança das pessoas. O que se nota também é que as empresas reajustaram os seus serviços, os seus hábitos, no completo respeito das medidas de segurança – higienização dos espaços, distâncias de segurança, postos de trabalho equipados com medidas de proteção –, por isso não podemos desprezar todo esse investimento para voltarmos com um passo atrás precipitado e pouco ponderado. Isso poderá colocar em causa muitas empresas”.

 

FIM DAS MORATÓRIAS “É PREOCUPANTE”

 

Também segundo a coordenadora geral da associação do comércio, “constata-se uma melhoria significativa após a aplicação das medidas de desconfinamento”. As “empresas foram retomando a atividade gradualmente, contudo, estão longe de conseguir recuperar o volume de negócios que tinham em época pré-pandemia”, sublinha.

 

Para tentar enfrentar os problemas financeiros decorrentes da crise provocada pela pandemia, alguns empresários foram obrigados a reinventar o negócio, nomeadamente, “os restaurantes com o ‘take away’ ou o pronto-a-vestir com as vendas ‘online’”. Na generalidade das empresas, diz Anabela Guerreiro, “as mudanças foram bem-sucedidas, noutras, ficaram um pouco aquém das expectativas”.

 

A associação vê também com preocupação “os tempos após as moratórias [de crédito], que se prevê terminarem já em setembro. E a verificar-se haverá certamente muitos estabelecimentos que não vão aguentar-se abertos. Esperemos que até lá o Governo possa ajudar com alguma solução”, conclui.

 

COMÉRCIO AINDA NÃO RECUPEROU

 

Com um salão de cabeleireiro de portas abertas há seis anos, em Serpa, Cátia Silva está já a preparar “o segundo fundo de maneio” desde o início da pandemia, caso seja necessário encerrar pela terceira vez. Embora não tenha funcionários, “há despesas que se mantêm”, como a prestação de crédito da loja, diz. “Tenho muito receio [de um novo confinamento] por isso já me vou preparando”, sublinha. E adianta que, devido à pandemia, optou por cortar “algumas despesas consideradas mais supérfluas”, evitando, por exemplo, “ligar o ar condicionado e desligando as luzes o máximo de tempo possível”, até porque, apesar das medidas de desconfinamento em vigor, “nota-se uma redução no serviço”. “A pessoa que vinha ao cabeleireiro regularmente passou a vir menos vezes. Faz apenas o necessário. Porque estará a ser afetada pela crise ou a pensar no futuro, dado que não sabemos no que é que isto vai dar”. Com o decréscimo da realização de casamentos, batizados e outras festas devido à pandemia, e com as restrições ainda em vigor em termos de lotação, também o pronto-a-vestir de Manuel Dores, aberto há 30 anos em Almodôvar, ainda não conseguiu recuperar o volume de vendas. A isso, acresce, a expansão do comércio ‘online’ desde o início da pandemia. “Estivemos fechados [nos períodos de confinamento] e as pessoas têm medo de vir às lojas. O negócio já não estava muito bem, por causa dos centros comercias e das autoestradas para o Algarve, com a pandemia ainda se agravou mais”, diz o comerciante.

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