Diário do Alentejo

Pandemia afeta produtores de porco alentejano

30 de junho 2021 - 09:15

O número de explorações pecuárias de suínos no Alentejo caiu para metade em uma década, mas no primeiro trimestre deste ano as exportações aumentaram 9,1 por cento. Por outro lado, com a pandemia, a produção de porco alentejano de montanheira reduziu cerca de 35 por cento e o preço resvalou 40 por cento.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

O número de explorações pecuárias com suínos caiu para metade no Alentejo. Eram 2590 explorações em 2009. São agora 1263, de acordo com o último Recenseamento Agrícola. Em 1999 eram 7395. Há cerca de duas décadas, eram 1051 as explorações com suínos em Odemira, 321 em Ourique e 275 em Serpa. Hoje são 203 em Odemira, 104 em Ourique e 98 em Serpa.

 

No setor específico do porco alentejano de montanheira, ao contrário do porco branco, a pandemia fez-se notar. Assistiu-se a uma quebra de 35 por cento na procura e de 40 por cento no preço.

 

A Associação de Criadores de Porco Alentejano (ACPA) venderia 20 mil porcos por cerca de 10 milhões de euros, porém, até ao momento, apenas conseguiram vender 65 por cento da produção, mas a um preço mais baixo.

 

No entanto, Nuno Faustino, presidente da Associação de Produtores de Porco Alentejano, diz haver sinais de uma ligeira recuperação dos preços já visível na bolsa espanhola. “É importante que isso aconteça, se não temo que o abandono da atividade seja grande”. Segundo este dirigente associativo, o Governo lançou uma linha de apoio de, no máximo, sete mil euros por exploração, o que “para os grandes produtores foi quase nada, mas para os pequenos foi importante”.

 

Quanto ao porco branco, Nuno Faustino acredita que passou quase incólume à pandemia muito devido às exportações para a China. Mas esta situação pode ser passageira: “A China tem neste momento um problema com a peste suína africana e, portanto, tem de importar. Quando resolverem o problema, vamos ter nós um problema”, alerta.

 

Marcelo Guerreiro, presidente da Câmara de Ourique, a “capital” do porco preto, diz que a quebra do número de explorações pode ser explicada pelo “desaparecimento de pequenos negócios”, o que foi compensado por um aumento da produtividade nas que ficaram ou apareceram de novo. Quanto ao mercado do porco alentejano, “um produto de alta qualidade” sofreu uma quebra devido ao encerramento da restauração e à inexistência de eventos.

 

EXPORTAÇÕES AUMENTAM

 

Depois de um ano de crescimento, em plena crise pandémica, a suinicultura portuguesa voltou a superar-se e registou um aumento das exportações superior a nove por cento nos primeiros três meses de 2021. Os dados foram divulgados pelo INE que revelou que, entre janeiro e março de 2021, o setor exportou um total de 53,8 milhões de euros, correspondentes a 27,6 mil toneladas, resultando num aumento em volume de 21,9 por cento.

 

A categoria que sofreu maior aumento foi a carne congelada que no primeiro trimestre de 2020 representou 16,2 milhões de euros e no mesmo período deste ano atingiu os 24,8 milhões de euros. Este aumento contrasta com a diminuição das saídas de suínos com destino a abate que sofreu uma redução de 19,7 por cento, fixando-se nos 17,2 milhões de euros.

 

A China assume-se cada vez mais como o destino preferencial das exportações nacionais da carne de porco, valendo o seu mercado um total de 19 milhões de euros no trimestre, seguindo-se no ranking Angola (4 milhões de euros), Cabo Verde (1,6 milhões de euros), Japão (1,4 milhões de euros) e Suíça (892,5 mil euros).

 

A exportação já vale mais do que o comércio intracomunitário, tendo totalizado 29,7 milhões de euros, ao passo que o comércio intracomunitário se ficou pelos 24,1 milhões de euros, como sempre, liderado pelo trânsito de animais vivos com destino a abate em Espanha.

 

AGRICULTURA COM RESERVAS DE ÁGUA SUFICIENTES

 

A ministra da Agricultura garantiu que o setor tem “reservas de água suficientes” para garantir atividade durante este verão. “Os dados que temos, nomeadamente para o Alentejo e Algarve, permitem garantir que, com o uso eficiente da água, não vamos ter dificuldade para a agricultura, incluindo o tratamento de animais“, disse Maria do Céu Antunes em entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios. “As reservas de água, neste momento, são as suficientes para podermos garantir a atividade agrícola”, disse a ministra na mesma entrevista, adiantando que “neste momento” não existe o risco falta de água. A governante disse ainda que mantém a sua confiança na conclusão da PAC durante a presidência portuguesa do Conselho da União Europeia, no dia 28 de junho, na reunião dos ministros da Agricultura.

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