Em declarações ao “Diário do Alentejo”, o presidente da Câmara de Beja, Paulo Arsénio, confirma que o projeto está pensado para ser desenvolvido em Beja, Ponte de Sor e Évora, mas diz que “em março, o que estava em cima da mesa era a possibilidade de uma parte da engenharia do projeto” ser desenvolvida no Baixo Alentejo, não tendo existido ainda nenhum contacto com o município por parte dos promotores.
O autarca refere que o aeroporto tem “alguns constrangimentos”, desde logo a existência de apenas três lotes destinados a atividades industriais: um da Hifly; outro da BJ Aviation (reparação de aviões); e um terceiro que era da Aeroneo mas que, apesar de estar vago, não tem dimensão para a instalação de uma fábrica com a envergadura exigida.
No entanto, existe um terreno de 39 hectares, contíguo ao aeroporto, que é propriedade do Estado, no qual “a câmara está interessada”. Para além deste, existe um outro, com 36 hectares que é de privados, que está dentro da área de expansão do aeroporto.
Paulo Arsénio refere ainda que, neste momento, “a placa de estacionamento apenas tem capacidade para cerca de 12 aeronaves, e quando a MESA começar a operar – o que estará para breve – quarto ou cinco estarão sempre ocupadas”.
Quanto à Força Aérea Portuguesa, o autarca diz estar convencido de que não se oporia à instalação de uma infraestrutura desta natureza uma vez que, há um ano, quando reuniu com o general Joaquim Borrego, Chefe do Estado General das Forças Armadas, lhe foi comunicado que a única operação “incompatível com a atividade militar” seria a da instalação de uma escola de aviação.
Ao contrário de Beja, o município de Ponte de Sor já realizou algumas reuniões com o consórcio e, segundo Hugo Hilário, presidente daquela autarquia do distrito de Portalegre, “a avaliação que foi feita reconhece que o aeródromo municipal reúne as condições exigidas para a aeronave operar”. O autarca disse ainda saber que “este investimento está previsto ser tripartido entre Beja, Ponte de Sor e Évora”.
MAIS DE 30 EMPRESAS
O projeto prevê o envolvimento de “mais de 30 empresas e universidades nacionais e internacionais, nomeadamente ligadas aos programas como o MIT”, envolve um investimento global estimado na ordem dos “164 milhões de dólares”, ou seja, à volta de 140 milhões de euros, afirmou o diretor do CEiiA.
No entanto o programa, que está na fase inicial, conta com financiamento de fundos comunitários, nomeadamente através do programa operacional regional Alentejo 2020, “mas a grande fatia” do montante “vai ser assegurada pela DESAER e pelo CEiiA e, numa segunda linha, por investidores”, sobretudo internacionais, explicou Miguel Braga.
“Os 20 milhões de euros que temos neste momento é para a fase de desenvolvimento que vai acontecer” em Évora, onde o objetivo passa por “ter 50 engenheiros a trabalhar em permanência e dedicados em exclusivo ao desenvolvimento do programa até ao final do ano”, adiantou.
A ATL-100 é uma aeronave “de transporte leve, para operar em pistas com condições não muito exigentes, com um alcance de 1 600 quilómetros”, e que poderá “transportar até 19 passageiros”, mas que “em duas horas pode ser transformada”, passando para carga ou vice-versa, sendo “uma alternativa para zonas menos desenvolvidas do ponto de vista de infraestruturas, em África ou na América do Sul”.
“VELHOS DO RESTELO”
“Os velhos do restelo que ainda dizem que no Alentejo não há vida, venham a Évora aprender como se faz inovação de ponta para o mundo.” A frase é da ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, que esteve presente no lançamento do programa ATL-100. Para a governante “são projetos como este que mostram ao País que o interior não é só agricultura, floresta, também é ciência e tecnologia.” A ministra considera que “a construção integral de uma aeronave, desde o seu desenvolvimento até à sua industrialização, no Parque Tecnológico de Évora, envolvendo Évora, Beja e Ponte Sor, significa que podemos ter ciência e tecnologia, envolvendo em rede os autores importantes do território.” Confrontada com aquilo que é necessário fazer para trazer investimento para o Alentejo em outros setores, a ministra da Coesão Territorial disse “ que o setor da aeronáutica permite alargar o investimento a outros setores. Só este projeto está ligado a 30 empresas, que podem aprender com ele e produzir depois para outros projetos. Estamos a falar de dezenas e dezenas de trabalhadores qualificados que vão trabalhar neste projeto e da própria capacitação que vai ter na atividade económica”.