Diário do Alentejo

Monte da Rocha: Agricultores cancelam campanha de rega

15 de agosto 2020 - 09:35

A campanha de rega deste ano a partir da albufeira do Monte da Rocha, no concelho de Ourique, foi cancelada devido à seca. "Atualmente, toda a água que existe na albufeira está reservada para abastecimento público. Na nossa zona ficam três mil hectares por regar e é uma situação que afeta muitas pessoas”, diz Ilídio Martins, diretor-adjunto da Associação de Regantes e Beneficiários de Campilhas e Alto Sado (Arbcas).

 

Segundo o responsável da associação, com sede em Alvalade-Sado, no concelho de Santiago do Cacém, e que gere a albufeira do Monte da Rocha, o volume de armazenamento da barragem estava na passada sexta-feira em 9,4 por cento da sua capacidade total. “Há um conjunto de agricultores e famílias que tiveram que optar por outras alternativas, de agricultura de sequeiro, que é muito mais pobre, e vão sobrevivendo à espera do próximo ano”.

 

Desta forma, acrescentou, nos três mil hectares de regadio existentes no perímetro da albufeira, “ficaram por fazer culturas de milho, de tomate, algum arroz e pastagens”. Esta realidade leva o diretor-adjunto da Arbcas a defender que a ligação do Alqueva ao Monte da Rocha, através da albufeira do Roxo (Aljustrel), anunciada pelo Governo para 2022, avance “o mais rápido possível” devido à seca que atinge a zona sul do distrito de Beja (ver caixa). “O projeto já devia estar concretizado”, disse Ilídio Martins, acrescentando que, “dada a urgência de necessidade de água no sul do Alentejo”, esta empreitada “devia avançar com mais velocidade”.

 

A mesma opinião tem o presidente da Associação de Agricultores do Campo Branco, com sede em Castro Verde, para quem a ligação entre as albufeiras do Roxo e do Monte da Rocha já devia estar a funcionar. “Em qualquer país da Europa, mesmo pobre, essa situação já estava resolvida. Não sei o que se tem andado a fazer quando há alertas de todos os lados há muitos anos”, criticou José da Luz Pereira, considerando tratar-se de uma obra é indispensável ao futuro da região, “até porque hoje a função do Monte da Rocha não é só servir a agricultura” mas também o abastecimento público aos concelhos de Ourique e Castro Verde, assim como de parte de Almodôvar, Mértola e Odemira. “O que está lá de água é confrangedor”.

 

Em declarações à Lusa, o presidente da Câmara Municipal de Ourique insistiu na necessidade de o projeto de ligação da albufeira do Monte da Rocha avançar “o mais rapidamente possível”. Segundo Marcelo Guerreiro, “este projeto deve ser acelerado o mais rápido possível” e “concretizado”, por forma a “garantir o abastecimento público de água a estes cinco concelhos”, “permitir o fornecimento de água ao perímetro [de rega] já existente” e “para que possa ser criado um novo perímetro de rega” nos concelhos de Ourique e Aljustrel.

 

“As alterações climáticas vieram verdadeiramente para ficar e são constantes ano após ano, daí que mais se torne necessário essa ligação [a partir da albufeira do Roxo], por forma a garantir que a água do Alqueva chegue ao Monte da Rocha e se possa garantir o abastecimento às populações de cinco concelhos e também o regadio do perímetro de rega da albufeira”, argumenta.

 

Ainda assim, Marcelo Guerreiro garantia que, para já, o abastecimento de água às populações não está em causa devido ao “grande investimento que tem sido feito no âmbito da parceria entre os municípios e a [empresa] Águas Públicas do Alentejo (AgdA), que permitiu criar na albufeira do Monte da Rocha uma estação de tratamento de água (ETA) muito eficiente e que garante o abastecimento público nestes cinco concelhos”.

 

“De qualquer das formas”, continuou, “é certo que as alterações climáticas irão acentuar-se cada vez mais e os períodos de seca irão ser cada vez maiores. Por isso, aquilo que é necessário é preparar-nos para esses mesmos períodos e garantir o abastecimento público. E isso só é garantido através da ligação da albufeira do Roxo ao Monte da Rocha, trazendo a água do Alqueva a esta região”.

 

A ligação do Alqueva ao Monte da Rocha foi anunciada em fevereiro de 2018, em Beja, pelos então ministros da Agricultura e do Ambiente, Capoulas Santos e João Matos Fernandes, respetivamente. O projeto, previsto para 2022, resulta de uma parceria entre a Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA) e o grupo Águas de Portugal, através da AgdA.

 

MINISTÉRIO DIZ QUE OBRA É PRIORITÁRIA

A Barragem do Monte da Rocha insere-se nos projetos futuros, previsto no âmbito do Plano Nacional de Regadios (PNRegadios) e encontra-se em fase de elaboração do projeto de execução, estando prevista a sua conclusão para outubro de 2020, anunciou o Ministério da Agricultura. A ligação ao Alqueva será possível através do projeto Circuito Hidráulico e Bloco de Rega de Messejana, e representa um investimento previsto de 19 milhões de euros. Segundo o ministério, a obra permitirá regar uma nova área de três mil hectares localizados entre Messejana e Panóias. A rede principal fará ainda a ligação à barragem de Monte da Rocha permitindo o reforço de recursos hídricos da albufeira desta barragem, importante origem de água para abastecimento público e para o regadio do Alto Sado.

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