Diário do Alentejo

Desemprego no distrito de Beja sobe 21 por cento

04 de junho 2020 - 11:05

O desemprego no Alentejo aumentou 25 por cento desde o início da pandemia, em fevereiro. No distrito de Beja o número é ligeiramente mais baixo (21 por cento), mas há concelhos, como por exemplo Castro Verde, em que a subida chegou aos 87 por cento.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

A situação é mais dramática no Alentejo Litoral. O número de desempregados inscritos no Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) em Sines, passou de 525, em fevereiro, para 1038, em abril. Um aumento de 97 por cento. Em Santiago do Cacém, o desemprego cresceu 53 por cento.

 

Em declarações ao “Diário do Alentejo”, Nuno Mascarenhas, presidente da Câmara Municipal de Sines mostrou-se preocupado com “o enorme impacto” que a perda de postos de trabalho, em consequência da pandemia de covid-19, está a ter “na economia local e, sobretudo nas famílias”, prometendo a adoção de “medidas de estímulo económico e de apoio às famílias” para que se possa “ultrapassar a crise o mais breve possível”.

Já Álvaro Beijinha, presidente da Câmara Municipal de Santiago do Cacém, refere que o seu município irá “retomar as empreitadas da responsabilidade camarária” para minorar a situação de desemprego, defendendo a importância de os “grandes projetos do Governo”, ligados à ferrovia e à ampliação do porto de Sines, não serem "abandonados”.

 

Só no complexo industrial de Sines já terão sido despedidos mais de 600 trabalhadores, de acordo com estimativas do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Sul. "São anos de contratos precários que deixam estes trabalhadores sem hipótese de recorrer ao subsídio de desemprego, ficando sem qualquer rendimento", diz Hélder Guerreiro, dirigente sindical.

 

Em causa, segundo Arnaldo Frade, delegado regional do Alentejo do IEFP, estão profissionais com vários anos de experiência, a nível nacional e internacional, muitos deles colocados em empresas de trabalho temporário e que "poderão" regressar à atividade assim que a atividade económica for retomada. Um dos casos é o da GALP, que suspendeu a atividade na refinaria de Sines até à primeira semana de junho, devido a "medidas extremas de contenção, quarentenas cada vez mais restritivas e à paralisação da maioria das atividades económicas”. Estas medidas criaram “restrições operacionais severas”, que levaram a “interrupções na cadeia de abastecimento, em particular por não ser possível escoar os produtos produzidos”, adianta a empresa, perspetivando o recomeço dos trabalhos para o dia 6 de junho.

 

A recentemente eleita secretária-geral da CGTP, Isabel Cameirinha, criticou esta semana o Governo por “as opções tomadas” não garantirem o emprego e os direitos dos trabalhadores”, nomeadamente aqueles que têm vínculos precários. Discursando em Sines, durante uma marcha organizada por aquela central sindical, considerou que “nesta altura em que o desemprego, a quebra de retribuições, o lay-off é tão intenso, é importante que haja ação e luta”.

 

A dirigente sindical referiu, particularmente, a situação dos “trabalhadores com vínculos precários” que “foram os primeiro a ser mandados embora pelas empresas que trabalham no complexo industrial de Sines e que asseguram um conjunto de trabalhos” que deveriam ser “postos de trabalho permanentes”, reclamou.

DESEMPREGO EM BEJA 

No distrito de Beja, o maior aumento em números absolutos aconteceu na capital. No concelho de Beja estão agora inscritas 1346 pessoas no centro de emprego, um aumento de 25 por cento em relação a fevereiro deste ano. Os primeiros dois meses de pandemia deixaram mais 270 pessoas sem trabalho. Número que apesar de "suavizado" pelo recurso ao lay-off de dezenas de empresas, se deverá ter agravado durante o mês de maio.

 

O numero de desempregados em Castro Verde subiu de 139 para 260 no espaço de dois meses (um aumento de cerca de 87 por cento), sendo um dos municípios mais atingidos pela contração da economia.

 

Em termos gerais, no Alentejo, os números do IEFP dão conta de 18 882 desempregados em abril, mais 3776 do que no mês de fevereiro.

 

Entrevistada recentemente pelo "Diário do Alentejo", Maria da Fé, coordenadora da União de Sindicatos do Distrito de Beja, explicou que o desemprego no distrito afeta, sobretudo, pequenos negócios, como oficinas, lojas, restaurantes, cafés, cabeleireiros, barbeiros, entre outros. Há também a referir o despedimento de trabalhadores que trabalhavam para subempreiteiros nas minas, mas, neste caso, “a maioria eram de fora da região”, não estando por isso contabilizados nos serviços regionais do IEFP. 

 

“O facto de o setor agrícola estar a funcionar e de uma grande percentagem do emprego ser em autarquias ou serviços públicos” (como saúde, educação ou segurança) e no “setor social” (como lares e creches) pode contribuir para que os números do desemprego não atinjam os níveis de outras zonas do País, refere Maria da Fé.

 

Em todo o caso, o Sindicato dos Trabalhadores da Industria Mineira (STIM) divulgou que a Lundin Mining, proprietária da Somincor, “suspendeu temporariamente” o Projeto de ZEP-Expansão do Zinco, nas minas de Neves Corvo, situação que, segundo Luís Cavaco, coordenador do STIM, pode traduzir-se “no despedimento de cerca de 1200 trabalhadores” que se encontram ao serviço de subempreiteiros.

 

Durante a crise provocada pela atual pandemia, António Bota, presidente da Câmara Municipal de Almodôvar, mostrou-se "apreensivo" quanto à notícia sobre "eventuais despedimentos levados a cabo por subempreiteiros que laboram nas minas", lembrando que "muitas famílias no concelho de Almodôvar dependem em parte, ou no seu todo, desta indústria mineira e dos postos de trabalho que a mesma gera".

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