Diário do Alentejo

Vai uma batatada para a quarentena?

12 de abril 2020 - 09:50

Texto Francisco Alves

 

E que tal uma batatada para animar a quarentena? A receita foi escrita por Francisco Borges Henriques, “para uso da sua casa”, em 1715: “(...) lavem as batatas bem lavadas sem que lhe tirem as cascas porão ao lume e bem cozidas as tirarão e as esburgarão e pizarão em um geral muito bem pizadas e a cada arrátel de massa dois de açúcar e a porão em ponto de bola bem branco e o tirarão do lume e lhe desfarão a massa muito bem desfeita e então a ponhão outra vez no lume a corar mexendo a muito bem digo sempre para que se não pegue e ao meio de cozer lhe poderão deitar amêndoa muito bem pizada e aporão ao lume a comper como qualquer outro doce de Covilhete e não fique em ponto alto que ficara visgenta e assim farão Nabada”. Não se atualiza o português nem se simplificam as quantidades pois, por estes dias, o que não falta é tempo para tal.

 

Resolvida a batatada, pode ainda experimentar uns torresmos de batata-doce, como se faziam em meados do século XIX, com manteiga, salsa e gemas de ovo, umas batatas-doces “à leonesa”, de confeção bem simples, ou uns sonhos de batata-doce, para os quais é indispensável uma marinada de aguardente e casca de limão. Ao todo, são 18 receitas, reunidas por José António Martins em "As Mais Antigas Receitas de Batata-Doce nos Livros de Culinária dos Séculos XVIII e XIX", uma publicação em formato digital, editada pela Associação de Defesa do Património Histórico e Arqueológico de Aljezur e que o autor faz questão de enviar, de forma gratuita, a quem o solicitar através do email jajm2010@gmail.com

 

“Ao limitarmos o período de estudo do receituário associado à batata-doce não o fazemos por questões cronológicas, nem mesmo porque assim nos foi predeterminado. A escolha por estas balizas cronológicas foi simplesmente determinada pela situação da não existência de receitas para os séculos precedentes, atendendo que a aceitação da batata, em geral por parte da população europeia foi muito tardia, tendo a mesma sido designada por bastarda nos séculos XVI-XVII por parte da população inglesa, para além de lhe ter sido atribuída vários atributos, tais como desenxabida, flatulenta, indigesta, debilitante e malsã, adequada apenas ao sustento de animais, de acordo com a opinião de alguns médicos da época”, explica o autor.

 

Segundo José António Martins, na segunda metade do século XVI (1554) a batata é descrita “como um fruto do qual se alimentavam, sobretudo os escravos e animais, sendo as que eram cultivadas na Ilha Terceira descritas como possuindo um sabor a castanhas”. 

 

Recordando que no mercado editorial português existem centenas de receitas associadas à batata-doce, “umas mais antigas (a maior parte publicadas no principio do século XX) e outras muito mais recentes, com inovações e fruto da criatividade dos seus autores”, José António Martins revela que as receitas impressas neste livro “constituem as mais antigas, as originais, e que a partir destas, outras muitas foram dadas a conhecer, tendo como matriz as primeiras conhecidas e datadas dos séculos XVIII e, sobretudo, do século XX, sendo a batata-doce o principal e fundamental ingrediente”.

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