Jorge Martins
O comboio da evolução da espécie não só parou como fez inversão do sentido de marcha.
A discussão pública tem girado, entre outros, em torno de um tema que não é novo, de todo, mas sim viralizado pelos diferentes canais que hoje temos à mão. Um tema que já não o deveria ser: o papel do homem, a supremacia do macho, o poder do patriarcado ou, simplificando, a liberdade da existência da mulher. Confuso? Não...
Tenho uma mãe (como, a dada altura da vida pelo menos, toda a gente!), uma irmã, como muitos, uma esposa (como ainda está convencionado ser possível e, até ao momento, mas sem garantia de futuro, socialmente aceite) e, mais relevante do que tudo neste contexto, em que temos de olhar o presente com os olhos no futuro, tenho uma filha.
Quando nos deparamos com personalidades, cujo alcance motivado pela exposição é imenso, acusadas de crimes sexuais múltiplos, outras que incitam ao comportamento primitivo, outras que não tendo qualquer exposição a ganham rapidamente ao partilhar vídeos de um crime que cometem num tom heroico, outros que num comportamento primário em corpo de adulto fotografam colegas de forma inapropriada e divulgam essas imagens, percebemos que nada disto faz sentido e pensamos que há mais, muito mais, para além do que não vemos.
Se existe quem defenda que o intestino é o segundo cérebro humano, no caso destas aves raras tenho para mim que é mesmo o primeiro e único que têm, tal é o resultado da sua produção.
Culpar as redes sociais por este tipo de fenómeno é como apontar as autoestradas como culpadas pelo aumento da sinistralidade. As redes sociais são um canal, uma ferramenta de comunicação que prolifera e eterniza, sim, a informação. Porém, a origem da mesma, e a sua gestão, é responsabilidade única e exclusiva dos utilizadores. Conclui-se facilmente, como já hei de ter defendido neste espaço num outro contexto, que falamos de pérolas a porcos, sendo que o curral está cada vez maior e as pérolas são também cada vez mais variadas.
Quando confundimos estupidez com masculinidade tóxica, estamos mal.
Se entendermos por masculinidade o conjunto de características estereotipadas que definem um género e no qual esse se revê, mesmo que não na sua totalidade, então não entendo onde pode a toxicidade entrar senão no vetor da estupidez que já é, em si, uma característica genérica e não associada a esta definição.
O que temos, defendo, são pessoas. E pessoas que por vezes são tóxicas, sim, e, espantem-se, também estúpidas.
Não podemos colocar no mesmo saco da discussão o tema de quem lava a loiça e o tema da violação de direitos fundamentais ou do próprio corpo. Se o primeiro é cultural e diz respeito a dinâmicas próprias com culpas repartidas, o segundo resume-se à palavra crime. E, por esse motivo, punido por lei (escrita e moral, diria!).
A discussão tem vários pontos.
Os pontos têm várias vistas.
As vistas têm vários rostos.
Mas há uma verdade única e sem “ses”: um crime é um crime. Um criminoso é um criminoso. E um estúpido, digo-vos eu, será sempre um estúpido.