Texto Luís Miguel Ricardo
É fotógrafo, é italiano, tem 68 anos e ciranda por terras lusas há quase uma década. Antes, ainda em território transalpino, foi funcionário na Câmara de Alexandria. Porém, quis o destino que, na sua primeira vinda a Portugal, conhecesse Vila Nova de Milfontes e se apaixonasse pela vila costeira e pela região. Uma paixão que fez com que, quando a reforma o abraçou, fosse à costa alentejana que veio desaguar. E pela costa assentou arraiais, e pela costa continua a residir.Eis Francesco Castellani na primeira pessoa!
Quando e como foi descoberta a vocação para a arte da imagem?
Desde os anos Oitenta que me apaixonei pela fotografia, e foi uma paixão que aconteceu e cresceu em proximidade com alguns amigos da altura e que também partilhavam esse entusiasmo pela arte pictórica. Feita a descoberta, frequentei, durante vários anos, uma associação fotográfica, a qual considerei uma escola de permanente aprendizagem. Nessa associação ia confrontando as minhas fotos com as fotos de colegas mais experientes, e ia estudando as melhores formas de iluminar os alvos, chegando a fazer experiências de impressão na câmara escura.
Quais foram os primeiro-alvos da objetiva de Francesco Castellani?
Os primeiros alvos das minhas fotos foram os meus filhos.
E como evoluiu a fotografia na vida de Francesco?
Como estava a trabalhar na Câmara de Alexandria, acabei aproveitando e projetando na minha atividade profissional os saberes associados a esta paixão. Assim, e fazendo fotos de retrato, segui, em Itália, as atuações de alguns grupos musicais.
O que caracteriza a sua fotografia?
Gosto sobretudo de fazer retrato, de captar a expressão de uma pessoa: o que está a fazer, uma emoção, um gesto de mãos, qualquer coisa que liga a foto ao momento que está a ser vivido. Por este motivo, não uso iluminação artificial e, mesmo nos locais internos, prefiro a luz ambiente.
E em Portugal, que tipo de trabalhos tem desenvolvido?
Aqui em Portugal já fiz fotos para grupos de teatro, grupos musicais e eventos de outro tipo, como, por exemplo, apresentações de livros, momentos literários e outros momentos culturais. Ou seja, continuo a participar em eventos, mas sem ter vontade de fazer fotos que impulsionem o turismo, que, na minha perspetiva, já está muito desenvolvido e que conta com muitos fotógrafos amadores a fazerem-lhe publicidade.
Algum trabalho que tenha sido mais marcante?
Gostei muito da colaboração com um grupo musical chamado Furasté, formado por músicos e cantores de vários países, incluído italianos. Este grupo, para além de apresentar peças musicais dos territórios de origem dos músicos, divulga ideais de igualdade e afirma-se contra qualquer forma de racismo.
Fazendo uma retrospetiva do percurso ligado à fotografia, que momentos mais relevantes passaram pela sua objetiva?
Em Itália tive oportunidade de me aproximar, por várias vezes, de pessoas ilustres do mundo institucional, cultural e desportivo. Por exemplo, no ano 1983, tive ocasião de fotografar o Presidente da República, Sandro Pertini, “o presidente partigiano”, durante a sua visita a Alexandria. Fotografei também Umberto Eco aquando da inauguração da Biblioteca Cívica de Alexandria, sua cidade natal. E tive também oportunidade de conhecer e fotografar, entre outras, personalidades como don Andrea Gallo, “o padre comunista”, e o seu grande amigo Moni Ovadia, ator e cantor ebreu que utiliza a sua arte para denunciar, em primeira mão, as injustiças existentes na sociedade; Gino Strada, o fundador da Emercency, a estrutura sanitária gratuita que opera a nível mundial, sobretudo, em zonas de calamidades e guerras. E quase por acaso tive também oportunidade de fotografar Maria Grazia Cucinotta, atriz que foi realizar uma visita a Alexandria como embaixadora da Unesco. E na minha objetiva entrou também o grupo musical Jethro Tull, famosa banda rock inglesa, na única atuação que fez em Alexandria.
Que ambições artísticas moram em Francesco?
Penso que tenho a ambição de todo o fotógrafo, que é a ambição de fazer fotografias que não sejam “postais ilustrados”, ou seja, ter a capacidade de criar fotos invulgares, sejam elas originadas pela capacidade do olhar do fotógrafo ou com a ajuda de momentos casuais. Exemplificando: durante as últimas férias, no lago Transimeno, em Itália, encontrei um tempo meteorológico instável e com bastante chuva, o que, normalmente, não é sinónimo de boas condições para a criação de boas fotografias. No entanto, essas mesmas adversidades acabaram por originar uma combinação de cores quase irreais que me permitiram fazer fotos muito particulares.
E os sonhos que o habitam?
Os meus sonhos como fotógrafo são, essencialmente, continuar a fotografar tal como aconteceu nestas férias em Itália e, quem sabe, talvez vir a escolher, dentro do enorme número de fotografias que já possuo, o material para a produção de um álbum.
O que falta fotografar?
O que me falta fotografar!? Sou um fotógrafo “de momento”. Capto aquilo que vejo no momento. Deste modo, não procuro o que quer que seja em particular, limito-me a captar aquilo que acontece.