Em Portugal, para além da feira de Ponte de Lima que se dá conta como sendo uma das mais antigas, criada por D. Teresa em 1125, outras foram sendo criadas em vários pontos do País devido ao monarca D. Dinis, que tinha como objetivo o povoamento das terras para garantir a sua defesa e o seu desenvolvimento económico.
Deve-se a D. Dinis a criação da mais antiga feira de Alvito, que foi datada em 1295 a 30 de dezembro. Por determinação régia era anual, tinha a duração de 15 dias e começava no Dia de Santa Maria, em agosto. Neste documento podemos constatar que era estabelecido a segurança de todos os que a ela viessem, quer na sua vinda, quer no regresso, e todo aquele que não o fizesse estaria em incumprimento, pagando seis mil soldos ao rei. Também não podiam ser penhorados por qualquer dívida durante a feira, assim como nos oito dias posteriores, salvo por dívida contraída na própria feira. D. Dinis estabeleceu que “…todos aqueles que veerem a esta feyra com merchandia paguem a mjm a mha portagem e todolos meus dereytos que Eu dever aaver dessa feyra” (transcrição retirada de Alvito: O Espaço e os Homens (1251-1640), Valério, António).
Contudo, apesar da boa intenção do monarca, esta feira terá tido pouco impacto, uma vez que teve uma curta duração. Até nós não chegou qualquer documentação a explicar o porquê, mas admite-se que tenha entrado em decadência e rapidamente tenha desaparecido devido ao aparecimento da crise no século XIV.
A Feira dos Santos, designação atribuída à feira de Alvito, em virtude da data da sua realização, foi criada por alvará de D. Henrique, datado de 1579. O primeiro alvará de concessão remonta a 24 de julho desse ano e nele estabelecia o monarca que se fizesse feira anual, com duração de três dias e início à véspera de Santiago. Respondia assim o rei à solicitação dos vereadores e do procurador do concelho, que lha pediram “…pera melhor provimento da terra e os moradores della poderem gastar as cousas que nella avya sobejas…”.
Todavia, a data não foi do agrado da câmara que, de imediato, pediu a D. Henrique a alteração da data. Facto esse que, devido à realização de outras feiras já nessa época, não contribuiria para o seu engrandecimento. De tal forma que pediram que se fizesse feira no primeiro dia de novembro, data assinalada no calendário religioso pela comemoração de Todos os Santos, por ser a mais conveniente. Ficou assim estipulado por alvará do mesmo senhor, datado de 3 dezembro do dito ano, que se instituiu a feira de Alvito com início a 1 de novembro. No entanto, esta feira já tinha algum tempo de existência, sendo que, em 1594, um senhor chamado Domingos Martins, especieiro, natural de Évora, veio confirmar a sua existência, dizendo que já vinha à feira há 16 anos. Ou seja, desde 1578. Era a câmara que, à sua custa, armava as tendas para as dar aos mercadores que a ela vinham para fazer negócio. Os mercadores e todos aqueles que vinham para vender, para além das rendas estipuladas nos emprazamentos, eram ainda obrigados ao pagamento de certos estipêndios ao rendeiro, bem como ao pagamento da portagem que incidia sobre os produtos entrados no concelho. Outro encargo a que tinham de se submeter era o da aferição, uma vez que ninguém podia vender os produtos sem antes irem ao aferidor do concelho e aferir todos os pesos e medidas. As primeiras realizações da feira eram na praça da vila, mas devido ao seu crescimento no século XVII a mesma foi transferida para o rossio do concelho, que se manteve durante muitos anos.
Atualmente, a dita feira dos santos e frutos secos, tal como é sobejamente conhecida, é realizada num novo espaço do município, no parque de feiras e exposições, que foi dotado e preparado com o intuito de apetrechar todos os feirantes e comerciantes de melhores condições para desenvolverem a sua atividade em pleno e atraírem consequentemente cada vez mais público a este certame que mantém a tradição há mais de 600 anos.
Referências: ANTT, Chancelaria de D. Dinis, livro 2, f1. 117vº Arquivo Municipal de Alvito