Quando, há 10 anos, em Paris, a Unesco inscreveu o cante alentejano na lista representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade da Unesco foi a festa grande para os alentejanos, onde quer que estivessem. O dia 27 de novembro de 2014 marcou para sempre uma história comum feita de resistência e amor, mas trouxe também uma maior responsabilidade para todo o processo iniciado há anos na salvaguarda, valorização e divulgação desta nossa forma de cantar, da nossa cultura e identidade. Marcou, também, o fim de um ciclo intenso, o da candidatura, e o início de um novo período, em que o cante passou a mostrar-se ao mundo inteiro, porque a ele pertence.
Este reconhecimento deve-se, em primeiro lugar, aos cantadores e cantadeiras, homens e mulheres que souberem manter viva esta expressão maior do povo alentejano e que foram perseverantes na sua transmissão e salvaguarda. Foi esse o motor e a força para a constituição de um processo de candidatura liderado pelo município de Serpa e outras entidades.
Serpa é a comunidade representativa do cante, tal como ficou definido no dossiê de candidatura, e a Casa do Cante (hoje Museu do Cante) a entidade responsável pelo Plano de Salvaguarda. E, nestes 10 anos, muitos passos têm sido dados no apoio ao movimento coral e nas ações previstas para a sustentabilidade do cante, embora este tenha de ser um trabalho aberto, permanente e consistente, para cumprir o Plano de Salvaguarda. E em diálogo com o mundo, aprofundando questões como a paz, a solidariedade e a coesão social.
É importante realçar nestes anos todo o movimento já criado em volta do cante, um movimento forte em que o sentido de comunidade e espírito de partilha devem ser, cada vez mais, fortalecidos. O cante tem vindo a passar por transformações, com novas abordagens livres e criativas, originando um movimento expressivo baseado nesta prática que une o povo alentejano, cruzando-o com outros géneros e estilos. E, em todo este processo de agregação de projetos criativos, o cante já ganhou muito, ultrapassou barreiras e alargou fronteiras e foi gerando novas dinâmicas, sem deixar de honrar e preservar as suas raízes.
Neste décimo aniversário, e por estes dias, são muitas e diversas, um pouco por todo o lado, as iniciativas de celebração do cante, desde os espetáculos aos debates e conferências, passando pelo convívio formal ou informal entre os vários grupos e o envolvimento da comunidade.Por todo o Alentejo, para além de todas as iniciativas que têm vindo a ser realizadas ao longo do ano sob a égide deste acontecimento, a data terá o seu ponto alto durante o mês de novembro, nas dezenas de iniciativas que terão lugar por todo o País, traduzindo a atual abertura, criatividade e força do cante, aliadas a um trabalho de criação em coletivo com toda a comunidade.Viva o cante!Viva o Alentejo!