Diário do Alentejo

Carlos Azedo: “O Alentejo é a origem e o destino!”

15 de julho 2024 - 09:30

Luís Miguel Ricardo

 

“No dia em que o meu pai faleceu, a minha filha comunicou-me que estava grávida e, no dia seguinte, sem parar, comecei a escrever!”

 

Nasceu em Serpa há 62 anos e por Serpa permaneceu até concluir o ensino secundário, ocasião em que rumou à capital para estudar Educação Física e para dar os primeiros passos na carreira docente. Porém, as raízes serpenses e a possibilidade de se efetivar no ensino oficial público trouxeram-no de volta à casa de partida. Uma casa de partida que passou a ser de chegada. Uma casa de chegada que passou a ser casa de permanência. Uma permanência que já leva mais de três dezenas de anos. Assume-se como homem das ciências, mas também como homem das expressões e da linguagem escrita.“Ler sempre foi uma constante e a escrita uma inconstante atividade, que nos últimos dois anos se tornou algo imprescindível”, refere, partilhando que, na atualidade, lê essencialmente para investigar e para produzir conteúdos literários.

Em setembro de 2023, a culminar um processo criativo de um folego vertiginoso, atiçado pelo destino, publicou o seu primeiro livro, Olá, Helena!.

Eis Carlos Azedo na primeira pessoa!

 

Quando e como foi descoberta a afinidade com as letras?

Quando andava na escola primária, o que preferia eram as redações. As redações e inventar histórias e personagens. Depois, quando me afastei do Alentejo, comecei a escrever sobre a minha terra. Digamos que sou influenciado por todos esses elementos. No entanto, há um nome que habita de forma permanente o meu pensamento e que, quanto mais o desvendo, mais perto lhe vou ficando, e esse nome é Fernando Pessoa.

 De onde lhe brota a inspiração para a escrita?   

Vou responder com um poema [da sua autoria]: “Inspiração/ O que me inspira/ É o ar que se respira./ A minha inspiração/ É o bater de um coração./ /Sinto-me inspirado/ Quando sou amado./ Deixo-me inspirar/ Por quem gosta/ De me escutar./ Inspirar-me-ei/ Naquilo que sei./Não, não tenho musa/ Isso já não se usa./ Sou uma alma apaixonada/ Por tudo/ E por nada”.

 Qual o objetivo da sua escrita?

Não tenho, na escrita, mais qualquer objetivo a não ser viajar para dentro de mim próprio e depois contar o que vi, senti e ouvi. Nem sequer estou preocupado em editar ou publicar. Desejo apenas continuar a viagem interminável.

 

Olá, Helena!. Que livro é este?

Vou levantar um pouco do véu sobre este livro, partilhando a sua sinopse: “O que levará um homem famoso e com uma carreira profissional de sucesso a trocar uma vida onde nada lhe falta por um lugar remoto no meio do nada, apenas para perseguir o sonho de tornar-se escritor, arriscando a sua estabilidade material e emocional? Resistirá a uma bela e inteligente admiradora secreta, irá recuperar a mulher, o seu primeiro e único amor, suportará visões e encontros com almas penadas de escritores famosos, conseguirá resgatar da desertificação um lugar povoado de analfabetos sábios? E tornar-se-á verdadeiramente um escritor? Quem são, afinal, os escritores?”.

 Que papel desempenha o Alentejo na escrita de Carlos Azedo?

O Alentejo é a origem e o destino! Sobra o percurso, não é!? Também ele é feito aqui, onde me desloco, como se viajasse numa máquina do tempo.

 Algum momento inusitado experimentado durante este percurso ligado à escrita?

Por exemplo, estar numa esplanada em plena baixa lisboeta e ser abordado, sem propósito, por uma senhora, que eu nunca vi, nunca conheci e que me diz:  “Estou a ler um livro de um escritor desconhecido, alentejano, que me faz adormecer a chorar e acordar bem-disposta! Você nunca ouviu falar!? Pois olhe, compre o livro! Recomendo-lhe! Chama-se Olá, Helena! e custa só 12 euros!”.

 E sobre o acordo ortográfico?

Como bom anarquista, escrevo como me apetece, desde que as palavras que escolhi façam sentido na minha cabeça.

 Que sonhos literários moram em Carlos Azedo?

Desejo não sonhar, não ter expectativas algumas. Apenas quero escrever cada vez mais, pensando e acreditando que o faço cada vez melhor. Mas não sei, não.

 E o que está na “manga”?

Se tivesse dinheiro, gostaria de ver editada a minha segunda obra, que até já está terminada e revista e com título: Uma Viagem Imaginada. Depois, vem a poesia, que amo acima de tudo. Mas, por favor, não me chamem poeta e nem tão pouco escritor, pois sou um modesto aprendiz. É o que eu sou.

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