Diário do Alentejo

Rede de Bibliotecas: Luís Amaro

05 de abril 2024 - 12:00
Foto | Arquivo fotográfico da famíliaFoto | Arquivo fotográfico da família

Francisco Luís Amaro nasceu em Aljustrel a 5 de maio de 1923. Foi autodidata. Aos 12 anos aprendeu sozinho a escrever à máquina no cartório do poeta Adeodato Barreto, em Aljustrel.

Não tardou a ver publicado um artigo seu, no semanário “Ala Esquerda” de BejaRumou a Beja aos 13 anos incompletos para fazer um estágio gratuito no “Diário do Alentejo”, onde aprendeu a rever provas, tendo colaborado como cronista e compositor em verso na imprensa local. Aqui, travou conhecimento com o poeta Mário Beirão, o romancista Manuel Ribeiro e com o jornalista Julião Quintinha, antes de um trabalho assalariado na biblioteca municipal. Mais tarde, aos 16 anos, foi para Estremoz, para secretariar o jornal “Brados do Alentejo”, dirigido por Marques Crespo e relacionou-se com o poeta e artista Azinhal Abelho e a sua paixão bibliófila foi crescendo cada vez mais.

Em 1941, apadrinhado por Agostinho da Silva, que não conhecia pessoalmente mas era assinante dos seus Cadernos Culturais e Antologia, foi para Lisboa e começou a trabalhar na livraria Portugália, lugar de tertúlias por onde passaram importantíssimas figuras da cultura e da literatura. As suas funções estavam divididas entre o atendimento ao público e o escritório. Começou o seu percurso de eminente revisor de provas literárias com a reedição de In IlloTempore de Trindade Coelho.

Mais tarde, foi para a Portugália Editora, onde esteve quase três décadas, e lá conheceu muitos escritores que se tornariam seus amigos, como Sebastião da Gama, Vergílio Ferreira ou David Mourão-Ferreira, entre muitos outros. Foi, conjuntamente com António Luís Moita, António Ramos Rosa, Raul de Carvalho e José Terra, cofundador da revista de poesia “Árvore”, e colaborador de outras revistas literárias como a “Seara Nova” e a “Távola Redonda”.

Na Portugália, em 1954, conheceu José Régio que começou a editar e a reeditar na Portugália Editora. Por sua iniciativa, Luís Amaro também esteve envolvido na revisão e edição de obras de outros escritores entre os quais, Adolfo Casais Monteiro, Mário Beirão, Manuel Teixeira Gomes.

A sua posição como secretário de uma editora de grande relevância na vida cultural portuguesa, sobretudo nos anos de 1940-60, permitiu que tivesse contacto com muitos escritores e tradutores, o que lhe proporcionou competências acrescidas para as funções que haveria de desempenhar numa revista institucional de literatura. A importância e a qualidade do seu trabalho levaram-no à Gulbenkian, e à revista “Colóquio/Letras” na qual foi durante 25 anos sucessivamente secretário de redação, diretor-adjunto e consultor editorial.

Em 1971, foi convidado para trabalhar na revista “Colóquio/Letras”, primeiro como secretário de redação, por indicação de Hernâni Cidade e Jacinto do Prado Coelho, e depois entre 1984 e 1989, como diretor-adjunto. Posteriormente, e até 1996, foi consultor editorial da mesma revista.

Luís Amaro, mais conhecido pela sua atividade editorial e de investigação literária, organizou, entre outras, a edição de Ensaios Críticos Sobre José Régio e da Poesia Completa de Mário Beirão.

Desenvolveu uma atividade poética curta, mas com muito significado. O único livro que publicou, até 1975, Dádiva, reúne poemas escritos entre 1942 e 1949. Já depois do 25 de Abril de 1974, no livro Diário Íntimo voltou a reeditar os 60 poemas, já editados em Dádiva, acrescentados de mais 35. Este livro faz parte integrante da prestigiada coleção de poesia das Iniciativas Editoriais.

A poesia de Luís Amaro, nas palavras de Júlio Conrado (Página da Educação, n.º 197, série II), “impõe-se como texto neorromântico a partir do qual o autor desvenda o seu magoado universo anímico”.

O crítico literário, Serafim Ferreira, in “Luís Amaro ou a Poesia como Dádiva”, (Página da Educação, n.º92), citando Jorge de Sena, diz que a sua poesia caracteriza-se “por um tom muito discreto e vagamente angustiado, que não chega ao confessionalismo e se mantém numa pessoal reserva quase solipsista e desencantada, em que a amargura de um ser isolado encontra notas muito puras, de uma bela musicalidade íntima”.

Em 2002, foi condecorado pelo Presidente da República com o Grau de Comendador da Ordem do Infante Dom Henrique.Luís Amaro poeta, bibliófilo e investigador, homem afável e generoso, colocou os seus conhecimentos enciclopédicos, nas áreas da literatura e das artes, ao serviço de editores, revisores, escritores e académicos que o procuravam, imensas vezes, para resolver problemas de fixação de texto e ou para confirmar bibliografias. Do seu espólio fazem parte centenas de cartas, resultantes da sua correspondência com figuras de relevo das letras portuguesas.

Segundo José da Cruz Santos publicado no “Jornal de Letras” de 29 de agosto de 2018: “Se a imensa correspondência que Luís Amaro dispersou fosse selecionada e reunida, teríamos talvez o retrato mais completo e amoroso do Portugal literário do século XX”. Morre aos 95 anos, no dia 24 de agosto de 2018.

Em 2007, a Câmara Municipal de Aljustrel para homenagear esta ilustre figura do panorama literário português decidiu atribuir o nome de Luís Amaro à Biblioteca Municipal, mas só agora em maio de 2024 esta pretensão será concretizada.

Biblioteca Municipal de Aljustrel

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