Diário do Alentejo

Rede de Bibliotecas: Poeta Alvitense: Raul de Carvalho

08 de março 2024 -

O poeta Raul de Carvalho nasceu a 4 de setembro de 1920 em Alvito, no Baixo Alentejo, e morreu a 3 de setembro de 1984, no Porto. Filho de um sapateiro e de uma doméstica, cedo começou a trabalhar. Teve vários empregos, tais como ajudante de farmácia, delegado de propaganda médica e funcionário da FOC Escolar. Fez o Curso Geral dos Liceus no Funchal, enquanto cumpria o serviço militar. De regresso a Lisboa, onde vivia, concluiu o Curso Complementar e ingressou na Faculdade de Direito, abandonando pouco depois os estudos. Frequentou o café Martinho da Arcada, contactando com personalidades do meio literário. Publicou o seu primeiro livro, As Sombras e as Vozes, em 1949, onde ressoam os sons e as mágoas de um Alentejo natal, que, aliás, ciclicamente irromperão ao longo do seu percurso poético. Neste, concorrerão influxos diversos: de um fôlego de raiz modernista, com breves incursões pelo surreal, à contenção lírica, ingénua, feita de memórias e coisas banais, envoltas numa transbordante ternura, ou à tentação da prosa lírica. A obra de Raul de Carvalho, alheada de discussões estéticas, é a emanação de uma voz, tímida e introvertida, mas sem dúvida genuína.

Foi colaborador das revistas “Távola Redonda”, “Cadernos de Poesia” e, entre 1951 e 1953, fundou, com António Luís Moita, António Ramos Rosa, José Terra e Luís Amaro, a revista literária “Árvore”, cujo ideal estético não recusava a inserção da poesia no universo social e que viria a ser extinta pela censura em 1953. Em 1955, publicou Poesia I e Mesa da Solidão. Nesse mesmo ano, foi-lhe atribuído, em Siena, o Prémio Simon Bolívar, no Concurso Internacional de Poetas de Siena.

Parágrafos (1956) e Talvez Infância (1968) – obra impregnada por reminiscências de Alvito – contêm alguns dos seus mais belos poemas em prosa. Uma Estética da Banalidade (1972) representa uma opção estética que apostará no registo do quotidiano, o que é confirmado por um dos últimos títulos publicados, Poesia Instante (1984). Deixou ainda um número considerável de inéditos, no seu espólio. Duas antologias (uma de 1965, organizada por Afonso Cautela e Liberto Cruz, e outra de 1975, organizada por Serafim Ferreira) e a reunião das obras publicados em Obras de Raul de Carvalho – I (Editorial Caminho, 1993) são, a par de alguns estudos críticos e da inclusão de Raul de Carvalho em antologias de prestígio como as Líricas Portuguesas (organização de Jorge de Sena) e, mais recentemente, em alguns manuais escolares, o garante de que ficará na história da literatura portuguesa como um dos nomes importantes da poesia da segunda metade do século XX.

Em 1997, a Câmara Municipal de Alvito, ao instituir o “Prémio de Poesia Raul de Carvalho”, homenageou este autor local e apoiou e divulgou novos talentos na área da poesia, como Leonilde Leal, Arlinda Mártires, Fernando Fitas e Xavier Zarco.

Foi realizado ainda um estudo sobre o autor e a sua obra intitulado “A construção do sujeito na poesia de Raul de Carvalho”, por Maria Luísa Leal e editado pela Câmara Municipal de Alvito, em 1996.

Em 2008, decorreu ainda a “Bienal Internacional Raul de Carvalho”, promovida pela Câmara Municipal de Alvito, num evento que incluía secções de fotografia, pintura, prosa e conto, poesia e escultura e que vinha ainda substituir o prémio de poesia.

Em 2011, publicou-se o livro Lembras-te Raul, em homenagem ao autor, editado pela Câmara Municipal de Alvito e pelo Centro de Investigação em Linguística e Literatura pela Universidade de Évora.

 

Biblioteca Municipal Luís de Camões – Alvito

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