Diário do Alentejo

Os Diários de Lanzarote

07 de dezembro 2023 - 15:45
Quarta-feira, 27 de setembro de 2023
Foto | D.R.Foto | D.R.

Texto | João de Carvalho 

 

O Juanjo pôs à minha disposição o carro que foi comprado por José Saramago aquando da atribuição do Prémio Nobel da Literatura. O carro está velho e tem alguns problemas, tens de ter em atenção a temperatura da água – disse-me. Assenti imediatamente com a cabeça e proferi um sim cheio de entusiasmo. Os privilégios sorriam e acumulavam-se na minha ansiedade. Ainda assim, tudo correu bem durante a primeira curta viagem que fiz com o carro. Dirigi-me, durante a tarde, à Fundação César Manrique e visitei-lhe o interior. A história da vida de César Manrique é a de um multifacetado artista que tinha a natureza como base da sua criação. Mas um homem das artes que se revele hedonista carrega mais liberdade que os outros e isso favorece-o; assim foi César Manrique, um artista hedónico (amante devoto de Lanzarote) que adorava descansar com as suas amigas nas “bolhas” da ilha. Essas “bolhas” são cavidades vulcânicas que têm a assinatura de César Manrique, sendo que foi o artista espanhol o autor da arquitetura desses locais onde a temperatura é refrescante e os bancos de couro bastante convidativos. Foi a imaginar uma tarde de festa com César Manrique, sob o som dos blues, nos longínquos anos 80, que saí da Fundação.

Dirigi-me a Casa e sentei-me na cadeira perto da pedra negra. No centro do quintal, respirei fundo, olhei Fuerteventura e o mar e, num pensamento honesto, contrariei Saramago. Não, a humanidade e o seu mundo não têm um remédio. Mas como é bom o universo ser infinito e estar neste exato sítio que é de Saramago.

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