Diário do Alentejo

Rúben Lameira: "Eu não seria o mesmo artista se não fosse alentejano"

27 de março 2023 - 10:00
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Nasceu em Beja no dia 19 de dezembro de 1992, mas é natural do Rosário, freguesia do concelho de Almodôvar. Aos dois anos de idade emigrou com os pais para a Alemanha e por lá permaneceu até ao virar do século, altura em que regressou ao seu pedaço de Alentejo, ainda a tempo de frequentar a escola primária no Rosário, a secundária em Almodôvar e as aulas de piano, tendo chegado a terminar o 1.º grau destes estudos musicais.   

 

Contudo, o seu contacto com o universo musical deu-se no ano do regresso, mais especificamente no dia 24 de julho de 2000, altura em que integrou o grupo coral As Andorinhas do Rosário. 

 

O que se seguiu, em mais de 20 anos de carreira, foi um somar de projetos e de competências no universo musical. Em 2007, ingressou no Os Ganhões, de Castro Verde, grupo que, em parceria com Dulce Pontes, fez atuações por todo o País. Em 2011, participou em noites de fado, realizadas em diversos locais do Baixo Alentejo.

 

Em 2012, fundou, com Pedro Mestre, o grupo Os Cantadores do Sul e o grupo coral misto e juvenil Encantos, e fundou, sozinho, o grupo coral Os Amigos do Rosário. Em 2013, começou a ensaiar o grupo coral feminino As Andorinhas do Rosário.

 

 Em 2014, a convite do músico José Emídio, integrou os grupos A Moda Mãe e Adiafa e participou no segundo disco do grupo A Moda Mãe. Em 2015, fundou, em conjunto com José Emídio e Bernardo Emídio, o grupo de música tradicional e popular Os Vocalistas; com a dupla “Emídio” e alguns jovens cantadores fez nascer o grupo coral de Beja, gravando, logo no ano de estreia, o seu primeiro disco, com quatro temas; participou no disco “Campaniça do Despique”, de Pedro Mestre; gravou com os Ganhões de Castro Verde o disco “As nuvens que andam no ar”; e fundou o grupo coral masculino Os Amigos do Rosário.

 

Em 2016, integrou, com o grupo Adiafa, o disco “Na eira”, de Marito Marques; participou no disco do fadista Ricardo Ribeiro “Hoje é assim, amanhã não sei”; gravou o disco “Alentejo”, no grupo Adiafa; e gravou o primeiro disco do grupo coral Os amigos do Rosário. Em 2017, participou, com o grupo Os Vocalistas, no disco “Luz”, de Cuca Roseta; conquistou, com este mesmo grupo, um honroso segundo lugar na primeira edição em Portugal do programa “À capela”, na “RTP1”.

 

Em 2018, criou e ensaiou o grupo coral juvenil Os Picaretas, de Aljustrel.

 

Em 2019, ensaiou o grupo coral as Atabúas, de São Marcos da Ataboeira; e participou no segundo disco do grupo Os Dona Zefinha. Em 2020, iniciou o projeto “Bissexto de Modas” com o grupo Os Vocalistas, que consistiu em gravar, durante todo o ano, uma moda alentejana por dia, sem repetir nenhuma. Este projeto foi premiado pela revista “Grada” (Espanha) como “Melhor Iniciativa Musical de 2020”.

 

Em 2021, participou com o grupo Os Vocalistas no festival BA, realizando oito espetáculos pelo Baixo Alentejo. Integrado no mesmo grupo, foi convidado a dar voz ao álbum “A ponte” do percussionista/baterista Marito Marques, num trabalho em que participaram vários artistas portugueses de renome e que acabou sendo premiado em vários países. Com Os Vocalistas filmou “Bissexto”, o título do documentário realizado por Luís Godinho, que retrata a “resistência” do grupo durante a pandemia. Em 2022, alcançou, com Os Vocalistas, o segundo lugar na primeira edição em Portugal do “The Voice Gerações”, na “RTP1”; com a banda Adiafa participou na comemoração dos 20 anos do lançamento do êxito “As meninas da ribeira do Sado”, com presenças na comunicação social e uma tournée pelo País; experimentou dar aulas de cante alentejano nas escolas de Beja; e participou no projeto musical “Luzazul”, uma ideia de Ana Paula Figueira que desafiou vários músicos a musicar 10 contos alentejanos.

 

Eis Ruben Lameira, músico, ensaiador e professor de música, na primeira pessoa.

 

Texto Luís Miguel Ricardo

 

Como é composto o repertório dos projetos musicais em que o Ruben participa?

Comecei a minha carreira em grupos corais de cante alentejano. A minha ligação e convivência com os mais velhos muniu-me de um vasto repertório tradicional do cancioneiro alentejano. No projeto “Luzazul” e Adiafa temos alguns originais escritos pelo falecido Paulo Abreu Lima, um grande génio e amigo, e por Ana Paula Figueira, e musicados por José Emídio e por alguns músicos dos Adiafa. Com o projeto “Bissexto de Modas”, concretizado pelo grupo Os Vocalistas, demonstrámos a nossa preocupação para que não se percam algumas modas do cancioneiro. Assim, registámos e publicámos, nas redes sociais e no YouTube, 366 modas alentejanas. 

 

Que papel desempenha o Alentejo na carreira musical de Ruben Lameira?

Eu não seria o mesmo artista se não fosse alentejano. Se não tivesse convivido com estas gentes massacradas pela dureza da vida no Alentejo. “Ainda dura a teima” do desinvestimento na região. É algo demasiado evidente, mas esperamos melhores ventos cá para o Baixo Alentejo. Em tudo o que faço ponho lá o coração, e é claro que soa tudo a alma, a terra e a sol. É cinzento, por vezes alegre nas modas de baile, mas sempre com a dureza da vida na garganta. Eu vi nos olhos de quem me ensinava as modas alentejanas que cantar era muito mais necessário do que se imagina hoje.

 

Enquanto professor de música em escolas, como perspetiva o futuro da música alentejana?

Enquanto professor de cante, reparo num interesse que não havia no meu tempo de escola. Hoje não existe aquela vergonha, que eu não tive, mas que outros tinham, de cantar à alentejana. Os miúdos saem das salas a cantar e transportam isso para casa, e obrigam as famílias a ouvi-los cantar o nosso cante. Vejo isso com um sorriso no rosto e com bastante positivismo. Desde o início do cante nas escolas, já saíram cerca de 80 cantadores para grupos corais, musicais, do Alentejo. Isso é uma grande vitória. Enquanto a minha vida durar, o cante alentejano não morrerá. 

 

Alguma história ou momento inusitado experimentado ao longo da carreira?

São várias, mas recordo que no ano 2021, numa “aberta” da pandemia de covid-19, gravámos o documentário “Bissexto” com os cantadores e cantadoras seniores. Foi divertido ver a paixão enorme e a imensa vontade de cantar deles. E o entusiasmo era tanto que, em determinado momento, uns já se esqueciam da máscara e outros puxavam-na para o queixo.

 

Que sonhos artísticos moram em Ruben Lameira?

Sonho em lançar-me numa carreira a solo, o que penso estar para acontecer muito em breve. 

 

E o que está na “manga”?

Neste ano de 2023 estamos a preparar as comemorações dos 25 anos da banda Adiafa com a gravação de um novo álbum e alguns videoclipes. Também, neste ano, estou a pensar no meu disco a solo, que será, de certeza, surpreendente. Vou sair completamente da minha zona de conforto. Quero mostrar a minha versatilidade e penso que será bem aceite.

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