Diário do Alentejo

Juan Tejera: "Como não tenho qualquer curso de arte, considero-me um autodidata"

02 de setembro 2022 - 19:00
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Juan Tejera, também conhecido por Senhor Passarinho, um epíteto herdado do pai, a quem chamavam de João Passarinho e que era correeiro de profissão, nasceu em 1941, é natural de El Granado, Huelva, Espanha, mas está radicado em Serpa desde tenra idade, localidade onde desaguou na companhia dos pais e do irmão.

 

Por terras serpenses trabalhou, entre os 16 e os 59 anos, no ramo comercial, mais concretamente na área dos tecidos e confeções.

 

Nunca participou em qualquer tipo de concurso artístico, mas uma forma de arte singular correlhe nas veias e desfila nas ruas da cidade que o acolheu ainda em tempos de meninice.

 

Texto Luís Miguel Ricardo

 

Como se caracteriza Juan Tejera enquanto artista? Como não tenho qualquer curso de arte, considero-me um autodidata.

 

Quais os principais trabalhos realizados? No ano de 1970, e destinado às festas da Páscoa, em Serpa, executei um trabalho em gesso representando a ressurreição de Cristo em tamanho natural. Posteriormente, realizei outros projetos destinados às festas da Páscoa, tais como réplicas de monumentos de Serpa: igrejas, muralhas e outros edifícios históricos, com vista à participação nos cortejos históricos e etnográficos. Um trabalho que executo desde 1980. Logo no primeiro ano (1980) construi em gesso e em tamanho natural uma representação da Última Ceia. Um trabalho que, mais tarde, foi adquirido pela Câmara Municipal de Serpa. Durante vários anos também colaborei na elaboração dos festivais de patinagem artística de Serpa. Também executei uma réplica da estátua existente em Serpa, representando o Abade Correia da Serra, assim como as figuras do cante alentejano, comemorando a distinção do cante como património imaterial da humanidade. Nos últimos anos de mandato presidencial do Engenheiro João Rocha, em Beja, também executei as réplicas do Convento de Dona Leonor, igreja da Misericórdia, Torre de Menagem e muralhas.

 

Quando começou esta aventura pelo universo da arte? Comecei, desde miúdo, a fazer brinquedos de madeira e cartão, assim como trabalhos em barro e desenhos. Em meados dos anos setenta comecei a frequentar, por correspondência, um curso de construção civil, começando a partir daí a executar projetos de arquitetura nos tempos livres que a minha ocupação comercial me deixava.

 

Foi explorada mais alguma arte construtiva para além daquela que consagrou Juan Tejera? Trabalhei desde 1970 na execução de projetos de construção civil. Uma arte que permanece até à atualidade.

 

 

Que papel desempenha o Alentejo na arte de Juan Tejera? Adoro o Alentejo a sua beleza e a sua tranquilidade, mas não consigo identificar uma influência direta nos trabalhos que executo.

 

Dos projetos desenvolvidos ao longo da carreira, alguns que tenham sido mais marcantes? Dos vários trabalhos que executei muitos me marcaram, mas poderei destacar a Última Ceia, as figuras do cante alentejano e a igreja de Santa Maria com a Torre do relógio.

 

 

Como identifica as temáticas para criar? No caso dos monumentos históricos destinados ao cortejo histórico, a maioria são sugeridos pala Câmara Municipal, e só uma pequena parte são concebidos por opção própria.

 

Como é estar há 40 anos a construir os quadro/esculturas do cortejo etnográfico de Serpa? Sinto imenso prazer na realização de todos os trabalhos, tanto nos monumentos históricos como nas figuras regionais. Os trabalhos proporcionam-me, para além de prazer, uma ótima sensação do gosto pelo que faço.

 

O que se retém deste longo e duradouro trabalho de equipa?   Além de alguns percalços físicos, muitos momentos de boa disposição e camaradagem com os colegas das oficinas.

 

Que sonhos artísticos moram em Juan Tejera? O maior sonho é, enquanto me for possível, continuar a colaborar com este projeto do cortejo etnográfico de Serpa.

 

O que está na “manga”? De momento vou proceder à recuperação das figuras da Última Ceia, pois durante largos anos estiveram em deficientes condições de resguardo. 

 

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