Diário do Alentejo

Jorge Barroso: "Um livro leva-nos a sermos pessoas diferentes!"

25 de julho 2022 - 16:00
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Jorge Barroso nasceu em fevereiro de 1965 e é natural da freguesia de Rio de Moinhos, concelho de Borba. Ao longo do seu percurso de vida experimentou múltiplas vivências, sendo hoje, o Jorge homem e o Jorge artista, o resultado dessa fusão de momentos profissionais, formativos e artísticos.

 

Assim, foi escriturário no Grupo Marcerpor, SA, em Vila Viçosa, entre os anos de 1984 e 1996; foi proprietário da Livraria “Pedra Filosofal”; frequentou o curso de Ação de Formadores e o curso de História de Arte; foi formador de “Práticas Artísticas e Intervenção Social”, no Centro de Dia de Rio de Moinhos; cursou e trabalhou em Londres, em Serviço de Home Care/Adult Social Care; trabalhou como waiter em bares de carisma mexicano e inglês; foi bibliotecário escolar entre 2008 e 2012, foi Animador Sociocultural, no Centro de Apoio a Deficientes Profundos Luís da Silva, no ano de 2017.

 

Atualmente  é docente de Literatura na Universidade Sénior da Santa Casa da Misericórdia de Borba; é formador de uma Oficina de Escrita Criativa, no Agrupamento de Escolas de Borba, é curador da pequena Biblioteca Livre de São Tiago de Rio de Moinhos; é pintor com obras expostas em Portugal, Espanha e Inglaterra, país onde viveu entre 2004 e 2006; é membro da Watford and Bushay Art Society; é sócio da ASSESTA – Associação de Escritores do Alentejo; e é escritor com várias obras publicadas, umas assinadas com o nome de identidade, outras, as dos géneros romance histórico, ficção, conto infantil e infantojuvenil, assinadas com o pseudónimo Jorge Dipo D´Origo.

 

Deste vasto espólio de textos editados, destacam-se: Poiesis – Volume VII, antologia de poetas, 2002; O Último Lusitano, romance histórico, 2004; Filhos do Trovão, romance histórico, 2009 e 2014;  Onde estás meu filho?, ficção, 2010, 2012 e 2013; Abraça-me com a tua sombra, ficção, 2010, 2012, 2013 e 2014; De longe te hei-de amar, ficção, 2014; Um lugar chamado sempre, ficção, 2019; O silêncio do teu olhar, ficção, co-autor, 2018; O pote da peste e o pote de ouro, infantojuvenil, 2011; Uma estrela caiu do céu, infantojuvenil, 2012, A borboleta que bebia o vento e o sol, infantil, 2016; A raposa e o raio de sol, infantil, 2015; As lamúrias da formiga Margarida, infantil, 2014 e 2015; O maior espetáculo do mundo, infantil, 2019.

 

Texto Luís Miguel Ricardo

 

Quando e como foi descoberta a vocação para as letras?

A vocação pela escrita e também pela pintura manifestaram-se desde muito cedo. Um livro leva-nos a sermos pessoas diferentes! Na minha infância não havia livros em casa. Jamais me esquecerei dos dias em que a biblioteca itinerante vinha ao centro da minha aldeia trazer os livros que, de outra forma, não os teria lido. De mês a mês aquele “Largo do Arrabalde” era para mim o centro do mundo. A leitura fazia-me viajar para lugares fantásticos. Emilio Salgari, Alexandre Dumas, Daniel Dafoe, Enid Blyton. Em suma, clássicos para crianças e adolescentes foram as minhas maiores influências, levando-me a sonhar com personagens em atos de coragem, bravura e valores.

 

Qual o registo literário de eleição?

Os géneros literários a que me dedico são o romance histórico, a ficção, o conto infantil, o conto infantojuvenil e a poesia. Todavia, o meu registo de eleição é o romance histórico, porque ensina duas histórias: a do romance e a da época em que é escrito. Escrever um romance de época é verdadeiramente empolgante e envolvente.

 

Quais as motivações para escrever? Onde se vai beber inspiração?

Ler muito é uma boa motivação para escrever. Observar outros géneros e tentar novos estilos. Anoto passagens diárias, sonhos marcantes, para mais tarde os converter em trama ficcional. Gosto do isolamento, de passar longos momentos no campo, de ouvir o som do vento, das aves, o suave rumor das águas nos riachos, para mais tarde os evocar na escrita.

 

Que papel desempenha o Alentejo na escrita de Jorge?

O “nosso” Alentejo é um lugar inspirador! As suas áreas planas, as históricas igrejas, os edifícios de época romana, as aldeias encantadoras e até a forte gastronomia servem de incentivo à literatura. Tenho obras escritas nos géneros romance histórico e infantil, editadas e por editar, cujas tramas são passadas no Alentejo.

 

Dos trabalhos desenvolvidos ao longo do percurso, alguns mais marcantes?

É difícil nomear os meus trabalhos mais marcantes atendendo ao facto de escrever diferentes géneros literários. Cada género é, por assim dizer, expressivo. Por exemplo, o romance histórico O Último Lusitano, foi uma obra que me encheu de orgulho pelo facto de ser prefaciado pela escritora Maria Alberta Meneres. Uma obra relevante passada na Era do caudilho da Lusitânia – Viriato, que desejo ver reeditada. Já na área infantojuvenil, identifico a obra O pote da peste e o pote de ouro, baseada numa lenda da minha aldeia e com ilustrações magníficas do artista plástico madeirense Paulo Sergio Bejú, que teve enorme aceitação aquando das apresentações no Continente e na Madeira.

 

Algum momento mais marcante vivido ao longo do percurso de autor?

Um dos momentos mais marcantes foi o pedido do meu editor, na altura, desafiando-me a escrever uma obra infantil sobre a ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica). Havia sido diagnosticada à sua mãe esta terrível doença. Por respeito, escrevi a obra num ápice e intitulei-a de “A Borboleta que bebia o vento e o sol”, procurando evitar, na narrativa, emoções fortes, para não atingir os sentimentos dos pequenos leitores. Foi uma situação embaraçosa, atendendo ao facto de conhecer a doente, que, pouco tempo depois, veio a falecer. Contudo, a respetiva obra foi escrita com enorme generosidade e foi enriquecida com magníficas ilustrações em origami. Um projeto que a Associação Portuguesa de Esclerose Lateral Amiotrófica muito elogiou e agradeceu.

 

Qual a opinião sobre o universo literário em Portugal e no Alentejo?

Ser escritor em Portugal é uma tarefa desafiadora, porque há enormes dificuldades na publicação de obras. As burocracias das editoras, talvez por culpa dos governantes, refletem-se no nível cultural, o que prejudica a formação de novos leitores. Somam-se as dificuldades económicas e o abuso das editoras nos preços dos livros. Muitas livrarias e editoras independentes fecham portas um pouco por todo o país, sendo impossível competir com os grandes grupos editoriais. Por outro lado, existem editoras independentes que exigem ao autor valores muito elevados pela edição da obra e, por vezes, com fraco apoio em todo o processo editorial. Já os grandes grupos preferem apostar em autores estrangeiros contemporâneos e de sucesso.

 

E o Acordo Ortográfico?

A meu ver, o Acordo Ortográfico é uma aberração! Felizmente há muita gente que se recusa a usá-lo, apesar de ser aplicado no ensino. Os jovens, talvez, já o adotaram. Há consoantes mudas que vieram baralhar as pessoas. Não existe justificação para tal. Concordo ser importante “unificar” a língua portuguesa, mas só quando todos o fizerem. Angola e Moçambique não aceitaram. E ao contrário de nós, os brasileiros mantêm as consoantes. É simplesmente uma desordem linguística.

 

Que sonhos literários/artísticos moram em Jorge?

Tenho obras em gaveta, nos vários géneros literários, que desejo ver editadas, assim como diversos acrílicos, óleos, técnicas mistas sobre tela para exposições em galerias num futuro próximo. Não desistir é o que me faz conquistar tudo o que sonho.

 

O que está na “manga” a curto e médio prazo?

Tenho como projetos a curto e médio prazo a edição, em formato EBook, do poemário Atmosferas Reservadas, na Elefante Editores (Editora de poesia); o lançamento de uma obra de ficção, baseada em factos reais, sobre o homicida de Beja, Francisco Esperança, já aceite e aprovado em editora, assim como outros géneros literários em apreciação. No que concerne à pintura, há a confirmação de exposições a realizar em 2022 e 2023.

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