Diário do Alentejo

Crónica de Vanessa Schnitzer: Verão Verde

22 de julho 2022 - 13:00
“Um crepúsculo quente envolve os dias, e o apelo sussurrante e sibilino que escorre de certas vasilhas da Alsacia” (Eça de Queiroz, Maias)
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A alentejanice que me perdoe, mas temos que passar o Douro. O tempo é de Verdes, frescos leves e pouco alcoólicos que convidam a finais de tarde intermináveis com família e amigos, a refeições sem regras, a petiscarias com sabor a mar. Neste tempo, onde impera o descanso, o convívio, a diversão, a descontracção, e as sensações dilatadas pelo ar baforento da canícula, nada se oferece mais apropriado aos nossos copos do que um fresco minhoto, honesto e de boa lavra. Como diria o eterno Eça: “ “…e então hoje estou com uma destas sedes que só me satisfaz o Vinho Verde” (Eça de Queiroz, Cidade e as Serras).

Pela grande diversidade que exibem, sejam brancos, rosés e tintos, é possível encontrá-los na flor da idade, leves e joviais, ou com um perfil mais complexo, mineral e sofisticado a pedir tempo ao tempo. OVinho Verde não é somente um estilo, mas um vasto mundo por descobrir.

 

No território do noroeste de Portugal, um manto verde e exuberante desce das serras, cobre os vales interiores, prolonga-se pelas planícies e estende-se até o mar (...) No horizonte mais vasto da paisagem, o verde impõe-se como a marca maior da identidade de toda a região (Manuel Carvalho, autor de “As cores do Vinho Verde”). Sob a designação de “Vinhos Verdes” existe uma enorme diversidade, que resulta de uma conjugação importante de factores: cultura, tipos de vinhos, e o mais importante - a amplitude climática, que se desdobra numa paleta variada de estilos de vinhos brancos perfeitos, que justificaram a divisão da Região Demarcada dos Vinhos Verdes (RDVV) em nove sub-regiões: Amarante, Ave, Baião, Basto, Cávado, Lima, Monção, Paiva e Sousa.

 

Apesar da grande diversidade que caracteriza este tipo de vinhos, existe um aspecto que todo Vinho Verde mantém em comum: o frescor da “agulha” fina que o gás carbónico adicionado lhes confere. Não é por acaso, que são considerados os vinhos mais típicos do país, aqueles que expressam a verdadeira portugalidade: “tão uno na sua individualidade, e tão variado nas suas expressões de vida e beleza”( ÁlvaroDomingues); “os vinhos que se escondem para lá do Mediterrâneo” (Orlando Ribeiro).

 

No entanto, é preciso fazer notar que os Vinhos Verdes brancos foram aqueles que mais evoluíram nos últimos anos, e muitas vezes de forma injusta, escondidos por debaixo do manto preconceituoso que se apoia nas mais terríveis aberrações que circulam por esse mundo fora, impedindo que o vinho Verde seja congratulado com a distinção que merece. De tal forma, que existe um mundo escondido do grandepúblico, que se iguala em estilo aos grandes vinhos brancos do mundo, com a sua abençoada frescura, uma inconfundível mineralidade sensorial, ou então mais encorpados, com enorme precisão de fruta, ou uma intensa explosão floral.

 

E para proteger contra os violentos ataques de ansiedade estival, é melhor ter à mão um Verde branco, onde tudo é perfeito, tudo é paixão!

 

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia!

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