Nasceu em julho de 1973, em Angola, e desaguou em Portugal dois anos depois, trazendo como destino a cidade de Moura, no coração do Baixo Alentejo. Localidade e região onde se mantém até à atualidade, localidade e região que lhe viram nascer, desde tenra idade, o interesse pelo desenho e pelas artes em geral. “Desenhava de tudo um pouco que tinha à vista, e passava o tempo livre a criar.”
Uma paixão que lhe havia de traçar o percurso académico, concluindo a licenciatura em professores do 2.º Ciclo – variante Educação Visual e Tecnológica. Ao longo deste trajeto, foi-se mantendo, ativamente, vinculada ao universo das artes, realizando exposições e participando, com outros artistas, em pinturas de murais, cujo tema incidia, maioritariamente, sobre o Alentejo e as suas tradições. Ainda nesta valência da pintura, mantém ativo, há seis anos, um projeto promovido pela União de Freguesias de Moura e Santo Amador, cuja temática é «a prevenção aos maus-tratos na infância».
Para além dos murais, realiza uma multiplicidade de pinturas, quase todas feitas por encomenda, com destaque para o retrato, vertente na qual se diz sentir realizada enquanto artista, tendo já efetuado centenas deles.
Dos trabalhos realizados ao longo do percurso artístico, destacam-se: a participação no Workshop de Tapeçaria; a participação no Concurso de Decoração de Montras; a participação numa exposição promovida pelo atual presidente da Câmara Municipal de Moura, onde expôs os seus trabalhos, juntamente com mais três artistas; o Curso de Artes Decorativas, pintura em cerâmica, tecido e trabalho de aplicação de estanho; a participação em exposições de pintura, em Moura e Pias; a participação na Exposição de Pintura “ Sentimentos”, no Espaço VocCafé, no Algarve; e a participação na pintura de nove murais na Feira Empresarial de Maio, em conjunto com a artista plástica Carmo Sargento.
E enquanto a arte que lhe corre na alma não é suficiente para a sua sustentabilidade, vai desempenhando funções de Professora de Leitura no âmbito do “Projeto A a Z - Ler Melhor, Saber Mais”, promovido pela Universidade do Minho, lecionando em Moura, Pias e Vale de Vargo, e dinamizando aulas de Atividades Extracurriculares (AEC), também na sua cidade adotiva, na disciplina de Artes. Nos tempos livres, que são em menor quantidade do que desejava, derrama a sua inspiração e talento sobre as telas, acrescentando novas obras ao seu espólio artístico.
Eis, na primeira pessoa, a artista plástica Rosa Valente.
Texto Luís Miguel Ricardo
Quando e como foi descoberta a vocação para o universo da arte? Comecei a desenhar com cerca de nove anos, porque o meu pai tinha muitos livros em casa e tinha uma coleção de livros sobre animais com muitas fotografias. E pronto, usando esses livros, comecei a desenhar à vista. Numa fase ainda muito precoce, fiz um retrato do meu pai a lápis de carvão.
Que papel desempenha o Alentejo nas criações de Rosa Valente? O Alentejo é e será sempre um lugar que me inspira. Já pintei, várias vezes, paisagens alentejanas em diversos suportes, e gosto, particularmente, de pintar flores, searas, entre outros.
Dos trabalhos desenvolvidos ao longo da carreira, alguns que tenham sido mais marcantes? Todos os meus trabalhos foram marcantes e ajudaram-me a crescer como pessoa e como artista, mas é nos retratos que me sinto feliz, porque não pinto apenas rostos, pinto vidas.
Como são identificadas as temáticas alvo de criação artística? As minhas criações são muito diferentes daquilo que pinto “normalmente”, gosto muito de pintar mulheres que representam a força, a coragem, os sacrifícios etc.
Alguns momentos marcantes vividos ao longo do percurso artístico? Felizmente já tive muitos episódios marcantes. Por exemplo, as reações das pessoas quando viram o que lhes pintei. Muitas agarraram-se a mim a chorar. E são estas reações que me dão força para continuar. Tive um outro episódio muito marcante, que foi numa ocasião em que pintei um pequeno troféu sobre a paz, para entregar a Sua Santidade, o Papa Francisco, e o mesmo foi-lhe entregue, em mãos, no Vaticano. Também posso referir as pinturas dos murais, durante as quais o público, em geral, interage comigo, fazendo perguntas, elogiando, criticando e, muitas vezes, até oferecendo a sua ajuda para participar na obra.
Qual a opinião sobre o universo das artes plásticas em Portugal e no Alentejo? Na minha opinião deveriam valorizar mais os artistas. Muitas vezes há pessoas que dizem que querem seguir artes, e a “sociedade” tem sempre a mania de questionar: «mas para que servem as artes!?» Pois eu digo que as artes poderiam, para não dizer – podem -, ser uma das disciplinas mais importantes no currículo escolar! Felizmente, fui sempre sendo puxada ou requisitada, por assim dizer, por amigos ou conhecidos para fazer trabalhos de pintura, mas tenho consciência que o reconhecimento do meu trabalho aconteceu muito tarde, e que aconteceu através da grande montra que são as redes sociais. Foi através das redes sociais que me realizei como artista.
Como foi vivido este período de “stand by” no mundo? Foi vivido com altos e baixo, com muita ansiedade e sentimentos de impotência por não poder fazer muito. E continuei a pintar. Fiz alguns quadros que podiam retratar a dor e o sufoco, entre outros sentimentos e emoções.
Que sonhos e ambições artísticas moram em Rosa Valente? Felizmente, vou realizando aos poucos alguns dos meus sonhos. O meu maior sonho era ter um atelier só meu, e que pudesse viver exclusivamente das artes.
O que está na “manga” a curto e médio prazo? Vão sempre aparecendo novos projetos, novos desafios. E como eu gosto de novos desafios! Aqui estou eu sempre de braços abertos para as artes! Neste momento, tenho um novo projeto na “manga”, que é mais um sonho que se vai realizar, e que consiste em ser ilustradora de um livro de um escritor aqui da “terra”, de Moura, ao qual, desde já agradeço a lembrança e a confiança no meu trabalho. A arte está em todo o lado para aqueles que veem a vida com amor!