Diário do Alentejo

Custódia Gallego:"Para pensar é no Alentejo que quero estar"

14 de dezembro 2021 - 16:50

Texto Luís Miguel Ricardo

 

Custódia Gallego nasceu em Beja há 62 anos e cresceu em Portalegre em casa dos seus “abuelos” e da titi Nana. Aos 17 anos trocou o Alentejo pela capital, para estudar medicina, mas foi na representação que encontrou a “praia” da vida. Terminou o conservatório em 1984 e, munida das ferramentas artísticas que por lá conquistou, começou a utilizá-las no curso da Comuna, na dança e no teatro, na televisão ou no cinema. Um percurso eclético, repleto de experimentações na arte de representar, mas jamais completo, pois Custódia Gallego mantém, em permanência, a mente aberta para novos saberes, considerando que tem sempre muito a aprender com os novos criadores de espetáculos de teatro, de ficção para televisão e outras plataformas, com os novos cineastas e com novas formas de comunicar.

 

Ao longo da sua carreira de atriz, já viu o seu trabalho reconhecido por diversas vezes, com prémios, nomeações e homenagens. Contudo, é nos convites para trabalhar que encontra o maior reconhecimento e sentido para aquilo que faz. “São esses os prémios que dão satisfação”, refere a atriz, nascida na capital baixo-alentejana.

 

Quando e como foi descoberta a vocação para a representação?

Fui-a descobrindo ao longo da minha formação no início da vida adulta, sobretudo quando fui para a faculdade e comecei a tomar contacto mais direto com as artes, área que não tinha feito parte dos meus consumos em Portalegre. Via cinema e ouvia música, principalmente com as minhas amigas espanholas. Já adulta e já em Lisboa percebi que havia uma faculdade de teatro e fui lá parar, empurrada pela curiosidade e fascinada pela magia da arte do teatro. As minhas influências foram todos os dramaturgos e todas as técnicas foram-me dando ferramentas para experienciar e descobrir o prazer desta comunicação que é a representação.

 

Dos vários registos de representação, algum que seja o de eleição?

Não tenho nenhum registo preferido. Prefiro não fazer muito tempo o mesmo, o ideal seria ao longo do tempo fazer um espetáculo de teatro, um filme, uma novela, dobragens, publicidade e animação, sempre sentindo que estou a superar desafios.

 

Que papel desempenha o “ser alentejana” na carreira de Custódia Gallego?

Nasci no Baixo Alentejo, cresci no Alto Alentejo e na Estremadura espanhola e vivi em Lisboa, por isso: a cultura, o clima, os horizontes e as gentes, moldaram a minha curiosidade e o meu ponto de vista sobre o que quero fazer na vida, assim, ser alentejana é a maior e a menor fonte que alimenta a minha profissão.

 

E que memórias se mantém do “teu” Alentejo?

As memórias que o Alentejo me deixou, e espero que continue a deixar, são os bons momentos de convívio com aquela paisagem e é a paz que me transmite. Sempre que preciso de pensar, de ler, de investigar e de sentir sem interferências, é lá que quero estar. Também me sinto responsável por não desiludir os outros e sentir e viver como uma alentejana: as dificuldades são para ser vividas com paciência, mas com eficácia.

 

Que tipo de ligações são mantidas com o Alentejo?

Só ligações emocionais. Sempre que faço parte de uma produção teatral ou cinema, faço tudo para poder ir ao Alentejo e “mostrar o trabalho de casa ao pai”.

 

Dos trabalhos desenvolvidos ao longo da carreira, alguns mais marcantes?

Não quero ser injusta para qualquer trabalho realizado, porque todos me deram uma sensação gratificante de desafio superado, mas o primeiro, por ser o primeiro e por ter recebido um prémio fora de Portugal, num festival, foi especial. Mas também foi especial o monólogo “Vulcão”, por ter sido feito quando eu ganhei coragem para o fazer. O “Esquece Tudo o que Disse”, por ter sido a prova, para mim mesma, que podia fazer cinema. “Laços de Sangue”, porque foi dos projetos em que senti que o trabalho de confiança com o outro é fundamental e é uma arma milagrosa. E, lá está, agora tinha toda uma lista de espetáculos, de realizadores, de novelas, de series, de dobragens, e, como são muitos, serve o etcétera.

 

Que sonhos artísticos moram em Custódia Gallego?

Ter propostas de trabalho que transpareçam que é a mim que querem para construir aquele objeto artístico. Ser desejada é das melhores sensações. Se os futuros convites vierem de gente nova, com propostas de novas linguagens, então é a satisfação de sentir que ainda consigo ser surpreendida e surpreender.

 

O que tem “manga” a curto e médio prazo?

Dois filmes de realizadores portugueses, dois personagens que me deixam ansiosa por começar, um espetáculo de teatro e depois uma novela.

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