Diário do Alentejo

Vítor Barros publica dicionário de linguagem popular do Alentejo

04 de novembro 2021 - 09:00

Foi recentemente publicado, pelas Edições Colibri, o “Dicionário de Linguagem Popular do Alentejo”, da autoria de Vítor Barros, obra que reúne parte significativa do vocabulário usado na região.

 

Texto José Serrano

 

Licenciado em Direito e em Línguas e Literaturas Modernas, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Exerceu a atividade docente, durante quatro anos letivos, no Baixo Alentejo. Atualmente exerce essa mesma função na Baixa da Banheira, Moita, lecionando Português na Escola Mouzinho da Silveira. Publica, com regularidade, artigos em livros, revistas e jornais, no âmbito da língua portuguesa. É transmontano por filiação e cultura.

 

Como nos apresenta este seu livro?

É um livro honesto, fruto de “trabalho de campo” e aturada investigação bibliográfica, que, ao contrário de alguns, reconhece o contributo insubstituível de diversos e bons seareiros, não fazendo passar por seu o que se deve ao labor de outros. É, pois, o resultado de um trabalho silencioso e meticuloso de quem tem respeito pelas palavras, pelos informadores e pelos coletores que as coligiram.

 

Como classifica o valor da linguagem popular para a identidade das gentes deste território?

O seu valor é incomensurável. A identidade cultural do povo alentejano não está só presente na sua paisagem, na sua gastronomia, no seu cante, na sua arte, mas também na sua linguagem. Este é um meio, talvez o principal meio, para expressar as idiossincrasias (emoções, caráter…) das gentes alentejanas. É também uma forma de resistência à uniformização linguística promovida pelos meios de comunicação social.

 

É a riqueza da linguagem popular diretamente proporcional à interioridade, ao isolamento das populações que a “constroem”?

Não sei se é diretamente proporcional, mas tem, sem dúvida, um peso significativo. Ela confronta-se diariamente com a globalização da linguagem corrente promovida pela escola e os “mass media”. É possível que nesse confronto saia golpeada, mas não mortalmente ferida. Cabe a cada de um de nós promovê-la. Este dicionário é o meu pequeno contributo.

 

Não tendo raízes no Alentejo o que o impulsionou a elaborar este trabalho?

Não sou alentejano, mas gosto do Alentejo e dos alentejanos. Foi em Mértola que fiz as melhores amizades: a professora Manuela Silva, da Mina de São Domingos, foi, para mim, a irmã que não tive. Foi aí que despertei para a especificidade linguística alentejana. A ideia do dicionário foi amadurecendo com as conversas entre copos com alguns amigos alentejanos da diáspora, residentes, tal como eu, na Baixa da Banheira.

 

O que gostaria que este livro presenteasse aos seus leitores?

Gostaria que os leitores/usuários deste dicionário o vissem como um gesto de carinho pelo Alentejo e os alentejanos.

 

Como nos apresentaria esta obra em linguagem popular alentejana?

Agora cá! A sua questão é muito exigente, e, por isso, vou fazer querena ao pedido, para evitar um abusinhão de palavras.

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