Diário do Alentejo

LuzAzul promove coesão através da música

12 de agosto 2021 - 14:20

Texto Marta Louro

 

Chama-se LuzAzul e nasceu “como nascem muitos projetos: de quase nada”. É assim que a escritora Ana Paula Figueira descreve o projeto da qual faz parte e que “surgiu com base num conjunto de intenções e afinidades” que juntam vários músicos da região Alentejo e não só.

 

“Eu escrevia as letras. Não queremos mostrar o melhor nem o pior de nada do que se está a fazer, mas sim, apenas, ser diferente”, explica.

 

“Os LuzAzul juntaram-se para este projeto, mas não se vão esgotar neste projeto. Os músicos integram outras formações e atuam em nome próprio. Eles são amigos e são pessoas que já têm um currículo musical extensíssimo”.

 

A ideia surgiu porque se “percebeu que existia um espaço que não estava explorado para se revisitar tradições saídas do cancioneiro. Falamos de novas letras – singelas e simples – que mantêm as marcas do que é a música popular, através de um rejuvenescimento”.

 

“Os LuzAzul estão a fazer este trabalho com o Alentejo, mas amanhã podem fazer com os Açores, com a Madeira ou com o Minho. Para isso basta que existam pessoas que escrevam para eles aquilo que eles gostam de trabalhar nesta vertente. O projeto nasce no Alentejo, mas é um projeto de coesão territorial, que permite fazer uma visita por vários locais da região. O objetivo é promover a coesão territorial através da música”, acrescenta Ana Paula Figueira.

 

O projeto já está a dar frutos. “Âmbria – a música no território e o território na música”, é o nome do álbum que será lançado na primeira semana de setembro e apresentado no concerto no Pax Julia, no próximo dia 18 de setembro.

 

A escolha da capital do Baixo Alentejo para a apresentação do trabalho prende-se com o facto de Beja ter sido o primeiro município a colaborar com os “LuzAzul”. O CD, composto por 10 temas, anuncia uma “visita pela região do Alentejo”. Cada tema tem um padrinho, que é alguém que está ligado à música, ao território e ao espaço que está a ser cantado. Entre os padrinhos estão António Ceia da Silva, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento do Alentejo (CCDR) Alentejo, o padre Cartageno, Fernando Romba, primeiro secretário da Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (Cimbal), o geógrafo João Ferrão e o antropólogo Paulo Lima. “O objetivo foi oferecer várias dimensões”, diz Ana Paula Figueira, segundo a qual trata-se de “um projeto de música, mas acaba por ser mais do que isso. Não é melhor nem pior, é simplesmente diferente. É tudo inédito. Mas com uma raiz forte na tradição”.

 

O músico José Emídio diz ao “DA” que o LuzAzul “surgiu através de um convite feito por Ana Paula Figueira para musicar umas letras”. Começou a compor as músicas e “às tantas reparámos que isto ia parar a um trabalho” com potencial para ser editado em CD. “Neste momento, estamos a finalizar o álbum. Primeiro foram escritas as letras, depois compostas as músicas, e por fim os arranjos musicais e as gravações. O processo está a decorrer bastante bem”, garante.

 

O grupo é composto por três músicos e três instrumentistas. Para além de José Emídio (voz e viola campaniça), fazem parte deste projeto Adriano Alves (baixista), Bernardo Emídio (voz), João Frade (acordeonista), Ruben Lameira (voz) e Tiago Oliveira (guitarrista). “A grande diferença deste projeto para outros do qual faço parte são os temas originais. Aquilo que cantamos nos outros grupos é o cancioneiro alentejano, ou seja, o que já foi feito. Com os LuzAzul estamos a fazer o que ainda não foi feito. É uma diferença abismal”, diz José Emídio.

 

“Estamos a trabalhar temas do Alentejo, mas estamos a inovar e a contar histórias novas. As pessoas conhecem-nas, mas nunca foram feitas em música e em textos. O que estamos a fazer chama-se tradição. Estamos a contar histórias antigas, nos tempos de hoje, para que sejam recordadas e ouvidas no futuro”.

 

“A nossa intenção”, prossegue, “é fazer coisas que sejam ouvidas amanhã. O dar certo é muito relativo, não podemos estar à espera de um superêxito porque na música tradicional e no musical popular é difícil haver uma explosão, mas nunca se sabe”. No concerto de dia 18 de setembro, José Emídio espera já ter o CD pronto. “A iniciativa vai servir para lançar o trabalho”.

 

Outro dos músicos envolvidos no projeto, o acordeonista João Frade, e autor de duas modas, refere que os Luz Azul “permite-nos explorar um bocadinho mais do ponto de vista musical. Todo o lado poético e das histórias musicadas são muito interessantes”. E acrescenta: “Não sendo alentejano, tenho um enorme respeito e carinho por toda esta herança musical. Sempre tive uma certa afinidade e sempre me identifiquei muito” com a cultura alentejana. Ao longo dos anos fui colaborando com alguns artistas do Baixo Alentejo e fui-me apaixonando por esta cultura que é muito forte”.

 

OS VOCALISTAS RECEBEM DISTINÇÃO

 

Os músicos que integram os LuzAzul estão também envolvidos noutras formações, com conceitos distintos. Bernardo Emídio, José Emídio e Ruben Lameira, por exemplo, fazerem parte de Os Adiafa e de Os Voscalistas. Recentemente, este último grupo foi considerado pela revista espanhola Grada como “a melhor iniciativa musical de 2020” devido ao seu "Bissexto de Modas", projeto que consistiu na gravação e publicação ‘online’ de 366 vídeos com músicas do cancioneiro tradicional alentejano.

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