Diário do Alentejo

Festival BA: 150 espetáculos no Baixo Alentejo

09 de julho 2021 - 10:05

Texto Marta Louro

 

Promovido pela Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (Cimbal), em parceria com as 13 câmaras que a compõem, o evento é cofinanciado a 100 por cento pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (Feder), através do Programa Operacional Regional do Alentejo 2020. Jorge Rosa, presidente da Cimbal explica que a ideia surgiu na sequência da candidatura à Programação Cultural em Rede no Baixo Alentejo, com o objetivo de “apoiar e ajudar na retoma cultural e artística”, ao mesmo tempo que quer contribuir para “a manutenção das atividades culturais e artísticas, tendo em conta os prejuízos decorrentes da suspensão total ou parcial da atividade cultural, em contexto de pandemia da covid-19”.

 

A iniciativa que “envolve um conjunto alargado de profissionais da cultura do Baixo Alentejo”, dá especial destaque às expressões artísticas como o teatro, a dança, a música e o cante. “O Festival BA visa dinamizar e desenvolver o património cultural, enquanto instrumento de diferenciação e competitividade do território”.

 

Num total de cerca de 150 espetáculos, uma parte dos municípios vai assumir diretamente a gestão da programação, e outra parte decidiu criar uma programação conjunta “onde cada um dos municípios terá 14 espetáculos iguais”.

 

A programação cultural é “muito variada e intensa e vai durar até meados do próximo ano”. O Festival BA vai, por um lado, “recuperar a dinâmica perdida nestas áreas por via da pandemia”, e por outro”, ajudar a “recuperar o sistema psicológico” da população que muito tem sido afetado, nestes últimos tempos., acrescenta Jorge Rosa, recordando que o território do Baixo Alentejo “é muito cultural, com uma programação e dinâmica” que se debruça “na tradição e na cultura do nosso povo, que deve ser mantida e valorizada”.

 

O Festival deu o “pontapé de saída” em Castro Verde, com um concerto com Buba Espinho, junto à Igreja de Nossa Senhora dos Remédios. Em declarações ao ‘DA’, o músico enaltece a iniciativa e fala “numa quantidade impressionante de concertos” que são realizados apenas com profissionais da região. “Ter centenas de espetáculos só com prata da casa é maravilhoso e significa que a nossa cultura está de boa saúde”.

 

Ter a oportunidade de “abrir” o certame, diz Buba Espinha, foi um “orgulho”. E explica: “Apresentei o meu álbum em 2020 e não pude ir para a estrada, estou a faze-lo agora em 11 concertos deste festival. Sentir o calor das pessoas e ver que, de alguma forma, consomem a minha música, deixa-me cheio de vontade para continuar”. O músico está a “aproveitar” a iniciativa para “incluir novos temas” que farão “parte do novo álbum que está a preparar”.

 

José Diogo Bento é outro dos artistas que vai percorrer o Baixo Alentejo, no âmbito do BA. O cantador entende que a iniciativa “vem em boa hora para ajudar os artistas locais”, assim como “serve também para as pessoas” que se viram obrigadas a “cortar relações” com os espetáculo culturais.

 

“É muito importante poder dar concertos em todas as localidades do Baixo Alentejo, é muito bom. O Alentejo é muito grande, e no caso do Baixo Alentejo onde está a decorrer a iniciativa, levar a viola campaniça e o cantar ao despique e ao baldão a Barrancos, é uma conquista”, refere Pedro Mestre, outro dos artistas presente na iniciativa. “Por vezes esquecemos aquilo que é nosso, e isso faz falta às pessoas, ainda para mais durante a pandemia. Fazer cultura, desta maneira é sem dúvida motivo de sensibilidade e respeito por aqueles que a fazem, sobretudo, aqueles que fazem cultura de tradição e que têm menor destaque a nível nacional”.

 

Segundo Pedro Mestre, a “cultura do Alentejo está a viver um momento, que nunca tinha vivido, em termos de atividade dos grupos corais. Os grupos corais também mereciam ter uma iniciativa deste género. A maior parte dos grupos continuam parados, não têm atuações nem convites para voltar a atuar”.

 

“Pouco tempo depois do cante alentejano ter sido considerado património imaterial da humanidade, surge uma pandemia para quebrar tudo e faz com que este tipo de formação de cante alentejano esteja em risco”, refere o músico, sublinhando que “preparar um espetáculo neste festival e durante a pandemia nunca pode ser da mesma forma, porque não podemos ter em palco as pessoas que desejaríamos ter, não podemos trabalhar da mesma forma em termos de valor de cache, porque temos de ter em conta a situação que existe e ter espírito de colaborar porque é preciso fazer ver às pessoas que o mundo do espetáculo tem de voltar ao ativo”.

 

Este festival, refere, faz com que aos poucos “seja possível ir educando as pessoas para a música e para os espetáculos. Aos poucos, a população começa a sair de casa e a ter menos receio. As pessoas já têm saudades de viver normalmente, porque afinal éramos muitos felizes e não sabíamos”.

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