Diário do Alentejo

Serpa, museu aberto, requalifica espaços culturais

20 de abril 2021 - 17:00

Texto Carlos Lopes Pereira

 

A Câmara de Serpa investiu na criação de sete novos espaços culturais nas diferentes freguesias do concelho, no quadro de uma candidatura a fundos comunitários europeu denominada Património Cultural em Rede, bem como de uma outra candidatura, reforçando assim o projeto “Serpa, Museu Aberto”, de salvaguarda e valorização do património cultural.

 

Trata-se de um conjunto importante de espaços culturais em todo o concelho, nos quais se requalificam edifícios já existentes dotando-os de novas valências e dinâmicas. O projeto envolve um investimento de um milhão e meio de euros, com 85 por cento assegurados por fundos europeus.

 

Segundo a autarquia, é deste modo continuada a estratégia do município de promover o desenvolvimento do concelho com base nos recursos terra e património e onde a salvaguarda e valorização dos valores e identidade locais são determinantes, criando simultaneamente incentivos novos para atrair visitantes e potenciar a criação de emprego.

 

Património Cultural em Rede, com uma candidatura aprovada a 23 de fevereiro passado, no quadro do Alentejo 2020, inclui a intervenção em seis edifícios, todos eles representativos da identidade e memória das populações e que agora vão ser dotados de novas funcionalidades. Importa referir que as intervenções serão feitas de forma faseada, ou seja, primeiro têm lugar as obras de requalificação dos edifícios e numa fase posterior as intervenções de museografia.

 

CASA DAS ARTES

 

Em Vila Verde de Ficalho, na antiga Casa do Povo, vai ser criada a Casa das Artes, com um espaço expositivo e cultural suportado na figura de Francisco Relógio, acolhendo de forma permanente algumas das suas obras e, também, obras de outros artistas da freguesia. Neste edifício vão ser disponibilizadas instalações para os grupos corais da freguesia terem a sua sede e local de ensaio, permitindo também que, quem quiser, possa assistir aos ensaios, sendo que a Casa das Artes integrará a Rota do Cante do concelho. Para além disto, o espaço exterior polivalente permitirá também a realização de outras iniciativas de animação.

 

CASÃO DO CANTE E LAGAR DE AZEITE

 

Em Vila Nova de São Bento, recuperam-se dois espaços, o Casão do Cante e o Lagar de Azeite. No primeiro, que vai ser instalado no edifício da antiga Cooperativa de Produção e Consumo, pretende-se a requalificação do edifício, dando-lhe um novo uso e restituindo-o à comunidade. Irá ser a casa dos grupos corais da localidade, um espaço comum para os grupos ensaiarem, confraternizarem e, também, poderem receber os interessados em assistir aos ensaios e contactar de perto com o cante alentejano e a sua história, sendo mais um local da Rota do Cante. Quanto ao Lagar de Azeite, vai ser feita a reabilitação e a musealização do antigo lagar de azeite de prensas hidráulicas, representativo da primeira etapa de industrialização destas práticas agrícolas, inserindo-o no contexto atual e valorizando-o enquanto espaço museológico e de interpretação cultural e histórica, com ênfase também nas questões relacionadas com o olival tradicional e a sustentabilidade ambiental, a valorização do património e dinamização turística.

 

CASA DA MEMÓRIA E TABERNA DOS CAMPONESES

 

Em Pias, vão igualmente ser criados dois espaços, a Casa da Memória e a Taberna dos Camponeses. A Casa da Memória vai funcionar no edifício da antiga escola primária da Rua do Jogo dos Paus e que deixou há muito de funcionar como escola. Será instalado um núcleo expositivo e interpretativo sobre o património histórico-cultural da freguesia, com destaque para o período da Reforma Agrária e os seus protagonistas. Quanto à Taberna dos Camponeses, espaço cheio de memórias e palco privilegiado do quotidiano da população da freguesia, adquirido pelo Grupo Coral Os Camponeses de Pias, pretende-se a requalificação do edifício, dotando-o de melhores condições para acolher a sede do grupo, promover o cante alentejano – este é mais um ponto da Rota do Cante do concelho – e, também valorizar a oferta turística. Neste espaço vai ser também instalado um apontamento expositivo para dar a conhecer a história, o percurso e as atividades deste grupo coral. 

CASA DA RESISTÊNCIA

 

Em Vale de Vargo, no Centro Cultural, vai ser instalada a Casa da Resistência, sendo o edifico alvo de trabalhos de conservação e qualificação para acolher um núcleo interpretativo e expositivo sobre a resistência antifascista. Este espaço será assim dedicado à histórica relação da freguesia com o acolhimento da clandestinidade política de oposição à ditadura, com disponibilização de informação de apoio à descoberta da história e preservação da memória das vidas dos militantes antifascistas, sendo também uma homenagem ao povo de Vale de Vargo que participou nas lutas contra o fascismo e que custou a muitos a perseguição e, bastas vezes, a prisão.

 

CASA DO RIO

 

Em Brinches, já noutra candidatura, submetida em maio de 2020, no quadro do Leader – medida 10 (Renovação de Aldeias – Proder), e que está em vias de aprovação, vai ser criada a Casa do Rio, no edifício da Sociedade 1.º de Junho. Mais uma vez, alia-se a requalificação do edifício a novas funcionalidades, sendo que este espaço vai ser dedicado ao rio Guadiana e à sua ligação com a população, disponibilizando um conjunto de ferramentas informativas de apoio à interpretação e descoberta do rio e do seu património natural e histórico-cultural. A Casa do Rio terá, assim, uma exposição permanente sobre o rio Guadiana e a sua biodiversidade e terá, também, um espaço polivalente que permitirá a organização, preparação e dinamização de atividades dirigidas à população local e a outros públicos, para promover o turismo cultural, gastronómico, de natureza e aventura. Continuará a ser um espaço para a comunidade, mantendo-se também a sua componente de espaço multicultural e funcionando como sede de várias associações.

 

TERRA E PATRIMÓNIO

 

Para o presidente da Câmara de Serpa, Tomé Pires, o grande objetivo dos investimentos em curso, na área cultural, “é o desenvolvimento do concelho através de uma estratégia consolidada de salvaguardar e valorizar os seus recursos, tendo como premissa a sustentabilidade e a melhoria da qualidade de vida, reforçadas pelo papel da identidade cultural”. Por conseguinte, “ao definirmos os recursos terra e património como os grandes pilares desta estratégia, estamos já a assumir um compromisso grande no trabalho nas áreas do património cultural material e imaterial, no património ambiental, na dinamização da economia e nas potencialidades da agricultura e das indústrias agroalimentares”. Mas, sobretudo, “nos fatores que possam contribuir para o desenvolvimento integrado e sustentado deste território, sempre com o foco primeiro em quem aqui vive, em quem aqui desenvolve os seus projetos, e em simultâneo, criando igualmente novas atractividades, novas dinâmicas geradoras de investimentos, com grande foco também no turismo cultural”. Daí também os outros projetos em andamento – especifica o autarca serpense –, “todos eles complementares desta linha de trabalho, dos quais saliento a requalificação e dinamização dos mercados do concelho, os Passadiços do Pulo do Lobo, a criação da Zona Industrial Agroalimentar de Serpa que inclui o Centro de Transformação Agroalimentar do Alentejo, entre muitos outros”.

 

Todo o território concelhio  como espaço museológico

 

A par dos sete requalificados espaços nas chamadas freguesias rurais, na sede do concelho há o Museu Municipal de Etnografia (atualmente em obras de requalificação), o Museu Municipal de Arqueologia, a Galeria Municipal de Arte Contemporânea, o Centro Interpretativo do Queijo (em fase de conclusão, no renovado mercado municipal) e o Museu do Cante (também em fase de conclusão), todos eles integrando o plano estratégico para a rede museológica do concelho intitulado “Serpa, Museu Aberto”.

 

O presidente da Câmara de Serpa, Tomé Pires, explica esta ideia de museu aberto: “Este conceito decorre da estratégia traçada pelo município há muitos anos e que preconizava um desenvolvimento do concelho assente na cultura e no património, no quadro da qual se criaram um conjunto de espaços e de atividades – o Centro Musibéria, a Casa do Cante, o Encontro de Culturas, entre muitos outros”.

 

A partir de 2016, acrescenta, “foi redesenhada este estratégia sob o ‘chapéu’  de ‘Serpa, Museu Aberto’, com o objetivo de dar um novo impulso e um caráter multidisciplinar às políticas de salvaguarda do património, definindo-se todo o território concelhio como um espaço museológico, um museu aberto integrado na vida das populações, valorizando e promovendo os espaços museológicos já existentes – e aqui cabe referir também o Museu do Relógio, museu privado e que é essencial nesta dinâmica alargada –, e criando novos núcleos englobando o património material e imaterial do concelho, a sua biodiversidade e especificidades locais. No fundo, é a lógica de ‘isto estar tudo ligado’ (como canta Sérgio Godinho), reforçando as complementaridades existentes”.

 

O autarca disse ao “Diário do Alentejo” que o Centro Interpretativo do Queijo abrirá quando o Mercado Municipal de Serpa reabrir, ou seja, em finais de abril ou maio, “dependendo também da evolução da pandemia”. O Museu do Cante, que integra todas as valências da Casa do Cante e do Centro Interpretativo do Cante, “abrirá em junho ou julho, segundo as nossas previsões”. Quanto ao Museu Municipal de Etnografia, “esperamos que reabra até ao final deste ano”.

Comentários