A aguardente de medronho “Medronho Original” da marca Júnior Jacques, produzido pela destilaria Alma Orgânica Unipessoal, situada em São Teotónio, Odemira, conquistou, recentemente, em Santarém, o prémio Melhor dos Melhores e a Medalha de Ouro no 5.º Concurso Nacional de Aguardentes Não-Vínicas Tradicionais Portuguesas 2020/2021. Três perguntas a Afonso Pereira, criador da Júnior Jacques Destiladores.
Quais as qualidades deste medronho, que lhe permitiu conquistar o júri?
Olhamos para a destilação como um processo químico/científico que obriga a estudo e compreensão, para obtermos os melhores resultados. Temos padrões de qualidade bem definidos, desde a seleção do fruto na apanha, passando pela fermentação e, depois, na destilação. Ao mesmo tempo, estamos exclusivamente dedicados à produção de aguardente de medronho – isso é importante para garantir que o sabor ao fruto fica preservado, e não misturado com sabores de outros destilados. Também o alambique deve ser uma peça com características próprias para a destilação de medronho. Nesse sentido, foi com muita pesquisa e apoio de investigadores da Universidade do Algarve (professora Ludovina Galego), assim como dos próprios fabricantes do alambique, que montámos uma peça única, que nos tem dado garantias de qualidade. Esse rigor técnico e científico, que aplicamos no nosso processo, faz parte dos nossos valores e da nossa marca. É essa inspiração e a herança que fui buscar ao meu avô Albano Pereira Júnior, farmacêutico de formação e professor catedrático.
Qual a importância que atribui a este reconhecimento?
Este reconhecimento é muito importante para a marca – estamos no mercado há pouco tempo, cerca de quatro anos, e um prémio destes dá-nos credibilidade junto do público em geral e em particular da comunidade local. Por um lado, é um reconhecimento do meu próprio trabalho e da qualidade dos produtos da nossa marca. Por outro lado, é também um prémio para o concelho de Odemira e todo o Sudoeste. Penso que esta zona tem sido um pouco desconsiderada no mapa nacional de produtores de fruto e de aguardente de Medronho. Mas a verdade é que aqui o medronheiro é uma planta abundante e continua-se a produzir medronho de muito boa qualidade. Foi aqui que encontrei o lugar ideal para a produção de medronho e foi aqui que tive a sorte e a oportunidade de aprender com grandes mestres, antes de me aventurar no meu próprio projeto.
Reforça este prémio a importância da valorização dos produtos tradicionais, em benefício do desenvolvimento local?
Sem dúvida, este prémio valoriza a produção local. A aguardente de medronho é um destilado único no mundo. Não se conhece outro país que trabalhe o fruto como nós o trabalhamos. Esta aguardente faz parte do nosso património cultural e, quando é bem tratada, não fica atrás de nenhum outro destilado. Além disso, o medronheiro tem um alto valor ambiental: por todo o país, mas em particular aqui no Sudoeste, há florestas lindíssimas em que o medronheiro prevalece. É, a todos os níveis, um património que deve ser preservado e valorizado.