ARTES Luís Miguel Ricardo
“Sou e já fui uma série de pequenas coisas que me constituem: mulher, mãe, professora, escritora nas horas vagas.” Assim se define, numa frase, a escritora Olinda Gil, nascida em Beja há 38 anos e a residir, atualmente, em Aljustrel.
O percurso de Olinda Gil no universo da escrita, a escrita com ambições literárias, começa na adolescência, tendo migrado das aulas de português do secundário para as colunas do "DN Jovem", o mítico suplemento do "Diário de Notícias", responsável por dar vazão à criatividade e imaginação de uma geração com aspirações nas letras. Uma colaboração com a comunicação social que se estendeu pelos tempos de estudante do curso de Línguas e Literaturas Modernas, variante de estudos portugueses, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa. Feita professora, regressou à planície, regressou ao ponto de partida, mas do lado de lá da secretária do saber. Olinda Gil é professora de Português no Agrupamento de Escolas de Ourique.
Quando foi feita a descoberta a vocação para as letras?
Não lhe chamaria vocação, antes teimosia. E aconteceu na adolescência quando passei das aulas de Português para o "DNJovem".
Qual o registo literário de eleição?
O conto é o meu registo de eleição, mas também passo pela poesia, o infantil e o romance.
Viver no Alentejo, representa uma fonte de inspiração ou uma fonte de limitações?
Pode ser ambas as coisas, depende muito da forma como encaramos a vida e a escrita. O Alentejo pode ser a nossa inspiração para escrever algo de diferente e não apenas mais um livro igual a tantos outros. Claro que estamos longe do centro de tudo, mas cada vez menos isso tem importância, estamos cada vez mais próximos de um clique.
Dos trabalhos já desenvolvidos, algum que tenha sido mais marcante?
A obra “Sudoeste”, porque foi aquela onde consegui demonstrar o melhor de mim.
Qual a importância das novas tecnologias na vida literária de Olinda Gil?
Considero que podem ser um complemento àquilo que já se faz e já existe. Não acredito que alguma vez o digital ultrapasse o analógico nos livros, porque o livro é um objeto muito bem conseguido, que podemos emprestar, roubar, esconder, oferecer, sublinhar, rasgar, estragar, guardar preciosamente. Um livro pode ter inúmeras vidas, tantas quantas mãos e olhos conhecer. Mas o digital pode trazer novas oportunidades, novos leitores, pode fazer-nos chegar a leitores fora do nosso país, pode permitir a publicação de livros menos comerciais, pode permitir que um livro não morra com o fim de catálogo. Mas tudo depende da gestão que a editora e o autor fazem.
Para além da colaboração no "DN Jovem", Olinda Gil aderiu precocemente à moda dos blogues, tendo tido um primeiro, do qual nem se quer se lembra o nome, e logo de seguida colaborado num dos primeiros blogues em Portugal ligado ao universo da literatura ("na-cama.com"). Ao longo do seu percurso, escreveu textos para diversos espaços virtuais, publicou outros em revistas literárias, participou em coletâneas e antologias e, no ano 2000, ganhou o prémio literário “Lisboa à Letra”, promovido pela Câmara Municipal de Lisboa.
A solo, publicou vários livros, com destaque para o seu batismo na publicação, um batismo promovido pela própria, com uma edição de autor, da obra “Contos Breves” (2013); e no ano 2015 integrou o primeiro grupo de diversos escritores em quem a Coolbooks, uma chancela da Porto Editora, decidiu apostar para lançar o seu produto literário em versão e-book. E na Coolbooks publicou as obras “Sudoeste” (2015) e “Sobreviventes” (2016), que posteriormente a editora editou em papel.