Texto José Serrano
O Centro Unesco de Beja apresenta, até 31 de outubro, a exposição “Bonecos de Estremoz, Património Cultural e Imaterial da Humanidade”, integrada na iniciativa “Terra, Fogo, Água e Ar”. O “Diário do Alentejo falou com a vice-presidente da Badajan, Lénia Santos, entidade responsável pela organização desta exposição que contou com o apoio da Câmara Municipal de Beja, Município de Estremoz e Junta de Freguesia de Beringel.
Como nos apresenta esta exposição?
Os bonecos de Estremoz são únicos no panorama do património cultural português. Não apenas pela sua história, com mais de 300 anos, mas também pela especificidade da sua produção. É, por isso, relevante salvaguardar este património, quer na sua imaterialidade (saber-fazer), quer na sua materialidade (a estética), para que não se perca uma arte popular tão identitária do artesanato português. Pelas suas características, a produção tem merecido uma distinção especial no contexto nacional e internacional, fazendo por isso parte do Inventário Nacional de Património Cultural Imaterial e da Lista Representativa de Património Cultural e Imaterial da Unesco. O encanto deste património popular irá certamente cativar o visitante ao longo de um percurso onde se dá a conhecer o trabalho dos seus produtores e as diversas temáticas que fazem parte desta arte.
Que importância tem, para a Badajan, esta troca de experiências com outras geografias culturais, neste caso a região de Estremoz?
A Badajan pretende valorizar o património material e imaterial, intrínseco à olaria e aos oleiros de Beringel, consciencializando a comunidade para a sua importância. O património oleiro, identitário de Beringel, é uma herança a conservar e a promover pela sua importância na recuperação da história local. A experiência de Estremoz é inspiradora para nos ajudar a trilhar caminho para um maior reconhecimento do património local. É na partilha de experiências, na união de esforços e na troca de ideias que nos tornamos mais ricos e com um olhar mais alargado.
Qual a importância da exibição regular pública do património cultural para a sua preservação?
Sem a valorização e tomada de consciência da comunidade de origem do património é impossível haver preservação pois só preservamos o que valorizamos. O Centro Unesco de Beja tem neste campo uma importância enorme e por isso este evento “Terra Fogo Água e Ar” faz todo o sentido, por unir duas artes na modelagem do barro com dimensões e caminhos diferentes: por um lado, em Beringel, promove-se a olaria e, em Beja, os Bonecos de Estremoz, património da humanidade. Este centro tem ainda um espólio fantástico de Mestre Isaclino, um artista bejense. O que será feito de uma comunidade sem memória, sem identidade?
Qual os objetivos futuros da Badajan?
Continuar a dar pequenos passos no caminho da valorização da memória coletiva, do desenvolvimento local e na construção de soluções para um futuro a partir da essência e da nossa história.