Diário do Alentejo

Crónica de Né Esparteiro: “A Mão do Diabo”

26 de agosto 2020 - 16:00

Tenho o hábito de datar os livros que compro. Assim, quando comecei a folhear “A Mão do Diabo”, verifiquei que adquiri o livro em 2012, já lá vão oito anos, e que, por qualquer motivo, ficou perdido entre tantos outros, leituras adiadas para “dias com mais tempo”.

 

Não sou grande fã do estilo literário de José Rodrigues dos Santos, mas leio avidamente a maioria dos seus livros. Porquê? - perguntar-se-ão. José Rodrigues dos Santos desenvolve uma pesquisa de cariz jornalístico e transporta-a para os romances, abordando de forma ficcionada temas relevantes, com base em factos verídicos que, de outra forma, algumas vezes nem poderiam ser expressos.

 

“A Mão do Diabo” situa-se, incontornavelmente, neste âmbito: não é um grande romance, a trama não é demasiado elaborada, o epílogo pode prever-se desde muito cedo. Mas, afirmo-o convictamente, li o livro de fio a pavio, sem esmorecer o interesse em nenhum momento da narrativa. O livro vale – e muito! - pela conversa entre Tomás Noronha, o professor universitário apanhado, sem esperar, pelo terramoto da crise financeira, e que explica demoradamente à agente da Interpol, uma rapariga nova e atraente - como não poderia deixar de ser - alguns dos contornos da crise financeira recente, desde a Grande Depressão de 1929 e as lições que daí se (não) retiraram, às administrações americanas subsequentes que repeliram algumas leis que regulavam os mercados, à criação do euro e suas implicações.

 

Como em quase todos os romances onde o professor Noronha é figura principal, também aqui ele se vê a braços com o decifrar de um criptograma enigmático, que esconde a chave para a descoberta de um DVD comprometedor, essencial para desvendar a verdade oculta sobre a crise.

 

Num julgamento histórico, o Tribunal Penal Internacional irá apontar os verdadeiros responsáveis pela crise financeira, e o DVD misterioso irá revelar conversas determinantes entre personagens fictícias de instituições reais.

 

Quero destacar as últimas linhas da “Nota final” do próprio autor, onde refere os principais livros e artigos consultados, políticos, economistas, gestores e pessoas que preferem manter o anonimato que o ajudaram nestas pesquisas, e uma última frase reveladora sobre o DVD: “…quando lá atrás disse que o conteúdo do DVD … era “ficção”, espero, amigo leitor, que tenha estado atento e reparado na forma como escrevi a palavra “ficção”. Entre aspas, claro”.

 

Caro leitor, espero ter conseguido aguçar-lhe o apetite para este livro.

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