Diário do Alentejo

Exposição de fotografia de Dinis Cortes, no Museu da Ruralidade

11 de agosto 2020 - 17:00

Médico. Fotógrafo de natureza e vida selvagem, desde 1980, frequentou e ministrou, nesta área, inúmeras ações de formação. Prémio Carreira atribuído pelo Fapas-Fundo para a Proteção dos Animais Selvagens e pela Câmara Municipal de Castelo de Vide pelo trabalho de divulgação científica e formação realizado na área de Natureza.

 

Autor de várias publicações de que se destaca o recente “Guia das aves do concelho de Vila do Bispo e Promontório de Sagres”, editado pela Câmara Municipal de Vila do Bispo. É atualmente assessor para a área de natureza e biodiversidade da empresa Wildscape. Uma exposição dos seus trabalhos está patente, até 6 de setembro, no Museu da Ruralidade, em Entradas, Castro Verde.

 

O que pode o público ver nesta sua exposição?

Na exposição podem ser visualizadas algumas das espécies de aves que ocorrem no concelho de Castro Verde e no denominado Campo Branco.

 

Como classificaria a riqueza da avifauna desta região?

O concelho de Castro Verde e limítrofes possuem uma das mais significativas presenças de espécies da avifauna portuguesa e europeia, de que são exemplo paradigmático as denominadas aves estepárias. A imponente abetarda, o mítico sisão ou o mimético cortiçol-de-barriga-preta são algumas das mais importantes. A classificação deste território como Reserva da Biosfera da Unesco vem credenciá-lo, nesta matéria, como da maior importância.

 

É a manutenção de espécies de aves emblemáticas do Campo Branco e de outras regiões do Alentejo compatível com a transformação, a que assistimos, da paisagem agrícola da região?

No que concerne especificamente á área protegida, nomeadamente a Zona de Proteção Especial, as culturas tradicionais estão mantidas e o ecossistema agrícola razoavelmente preservado. Nas áreas do perímetro de rega do EFMA-Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva, nomeadamente nos concelhos de Beja, Ferreira do Alentejo e Aljustrel, para referir aqueles onde me parece ocorrerem alterações mais profundas, poderá haver perda de habitat para algumas das espécies referidas, tendo estas que procurar outras zonas para habitar. Ao transformar os habitats está-se a modificar, também, o tipo de flora e fauna que os virão a povoar.

 

Tem esta exposição um papel pedagógico subjacente, no sentido da necessidade de salvaguardar a avifauna da região?

Este tipo de intervenção apenas preenche o aspeto cognitivo, ilustrativo, permitindo a identificação de algumas espécies e habituando o olhar às suas cores, atitudes, marcas de campo. É muito importante este primeiro passo de conhecimento das realidades. Mostra-se o que existe. A ave concreta. A sua plumagem e a sua atitude. O passo seguinte é a valorização deste património. O objetivo será conseguido quando existir, na generalidade das pessoas, a noção de que a destruição de um habitat de abetardas é tão grave como deitar abaixo a fonte centenária da aldeia ou queimar a árvore central do largo, que dá a sombra necessária para o convívio intergeracional, numa “mesa de jogo de sueca” no meio da vila. O entendimento da biodiversidade, como essência da sobrevivência da espécie humana, ainda não é, infelizmente, percecionado por toda a gente.

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