Diário do Alentejo

José Bento Monteiro: atirador de Beja vence Taça de Portugal

24 de maio 2019 - 11:00

Texto Firmino Paixão

 

José Bento Monteiro conquistou recentemente a Taça de Portugal de tiro ao voo, numa competição que decorreu em Estremoz, com a participação de mais de duas centenas de atiradores. Uma conquista que o bejense, aos 70 anos, talvez já não perseguisse, mas que também não o surpreendeu, tal o histórico de participações que tem nesta prova desportiva. “É um troféu que toda a gente gosta de ganhar, porque é uma prova aberta a todos os atiradores”, diz.

A idade não pesa, garante José Monteiro: “Não pesa, nem nos retira qualquer das faculdades, antes pelo contrário, dá-nos experiência. Já tenho visto atiradores mais velhos do que eu vencerem outro tipo de competições”. E lembrou as palavras sábias do seu progenitor: “Nestas coisas, diziam-me o meu pai, é preciso termos 80 por cento de sorte, os outros 20 são da perfeição do atirador”.

O vencedor do troféu assume: “No passado ia sempre muito focado na vitória, agora não, vou mais numa de participar, conviver com os amigos, sem pressão e, desta vez, proporcionou-se, a prova correu-me de feição”.

José Monteiro atira pelo Clube de Tiro e Caça de Elvas há 36 anos, ele e o filho, Luís Monteiro, também vencedor de duas edições deste troféu e com um riquíssimo palmarés de títulos nacionais, europeus e mundiais no tiro às hélices.

A conquista do troféu responsabiliza-o, de alguma forma, mas confessa que nem se sente “muito incomodado com isso”. “Convidaram-me para o Campeonato do Mundo de tiro ao voo, que está a decorrer, nesta semana, em Guimarães, e eu não fui. São muitos dias, gosto mais de provas curtas. Os quilómetros já vão pesando no corpo. As provas que fizer no futuro serão mais perto de casa, mas continuarei a atirar enquanto puder, tenho de renovar o porte de arma por mais cinco anos, portanto, pelo menos, durante esse período ainda darei uns tiros”.

Por representar o clube elvense – “Tenho-me sentido lá muito bem, estou muito ligado a Elvas e, por isso, não será agora que vou mudar” –, a próxima edição da Taça de Portugal será realizada naquela cidade alentejana. Atirando em casa, irá repetir o triunfo? “Não é fácil. No palmarés deste troféu só aconteceu por uma vez o mesmo atirador ganhar dois anos consecutivos”.

“Quanto participamos numa competição é sempre com o pensamento na vitória. Nem a feijões alguém gosta de perder. Todos os anos tenho participado na Taça de Portugal. Desde muito novo que o faço. Já tinha ficado em segundo lugar, terceiro, quarto, quinto, sei lá, se calhar, em sétimo e oitavo. No ano passado até saí de Beja, sozinho, para o Porto. Neste ano voltei a competir. A prova disputou-se em Estremoz, fui lá ter com os amigos e correu bem. Desta vez conquistei a Taça de Portugal”.

José Monteiro tem um percurso de vida intimamente ligado ao armamento, ao tiro desportivo e à caça. “Faço tiro ao voo, tiro às hélices, no tiro aos pratos já não faço competições oficiais, só atiro informalmente, mas o tiro ao voo foi sempre a modalidade de que mais gostei. É a disciplina que mais se assemelha à caça e, então, o bom caçador também se distingue nestas coisas”.

Aos nove anos premiu pela primeira vez o gatilho de uma espingarda. “Lembro-me muito bem da primeira vez que atirei. Foi no monte da Borralha, perto de Vale de Rocins (Salvada). Tinha nove anos, o dono do monte era meu vizinho. Fui lá com o filho dele, andávamos à escola juntos e demos uns tiros num regador velho que lá estava na rua do monte. Os meus filhos também começaram cedo. Tem sido uma atividade transversal às nossas gerações”.

Do pai herdou também a arte de reparar e reconstruir espingardas, atividade que desenvolveu durante muitos anos mas, já encerrou a oficina. “Só trabalho para mim. Foi uma grande vivência. Estou sempre a ser questionado sobre problemas relacionados com as armas mas, atualmente, dou mais consultoria do que, propriamente, pratico. Aconselho quem me procura, digo-lhe que façam desta ou daquela maneira”.

A modalidade está com dinâmica, reconhece, embora atribua alguma recessão no número de praticantes, algo que imputa aos constrangimentos associados à Lei das Armas mas também ao aumento do preço dos cartuchos.

“São os dois fatores que contribuíram muito para o abrandamento da modalidade. No passado, íamos atirar aos pratos com um conto e quinhentos (7,5 euros) e atirávamos a 25 pratos, agora isso custa 20 euros. Só isso já dói. Depois as inscrições, a licença desportiva, que custa, no mínimo 150 euros, mais a licença de porte de arma e despesas com deslocações. Não é fácil”.

Outro dos segredos da família é a cura dos “cobros” (erupções cutâneas provocadas por herpes) através da queima de trigo tremês. “Sim, ainda na semana passada recebi quatro doentes. Enquanto existir trigo tremês, vou curando as pessoas, mas é pena que ninguém analise o produto que ali faço, porque, tecnicamente, talvez pudessem desenvolver um fármaco eficaz. Tenho dito isso a alguns médicos, mas ainda nenhum deu esse passo”, lamentou.

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