A Travessia da Planície é um excelente evento de caminhada e corrida pedestre, organizado, anualmente, pelo município de Castro Verde – em parceria com as juntas de freguesia de Entradas e de São Marcos da Ataboeira –, que cumpriu, no último fim de semana, a sétima edição com recorde de inscrições (250) nas diferentes vertentes competitivas.
Texto Firmino Paixão
As provas desenvolvem-se ao longo de um caminho agrícola de 10 quilómetros (asfaltado) e potencialmente submersível em épocas de excessiva pluviosidade, ao longo do qual se atravessam os leitos das ribeiras de Cobres e de Terges, cursos de água que, mais adiante, se juntarão num só e desaguarão no rio Guadiana. Aos 10 quilómetros de caminho agrícola juntam-se mais 1240 metros, correspondentes aos troços de saída e entrada nas localidades, sendo que o percurso oficial da corrida, e da caminhada mais extensa (existe uma segunda apenas com 7000 metros), ascende a 11,240 quilómetros, contados desde a avenida de Nossa Senhora da Esperança, em Entradas, até ao largo do Poço, em São Marcos da Ataboeira, ou vice-versa. Que pena a organização não fazer recuar (e não seria “pecado” que a Virgem não perdoasse) a partida para o largo fronteiriço ao Museu da Ruralidade – Núcleo da Oralidade, e, sim, suscitando aos concorrentes a visita ao espólio do século passado, dedicado às culturas cerealíferas e às profissões ligadas ao mundo rural. Um “pecado” que seria, eventualmente, atenuado com uma visita à ermida de Aracelis, no lugar do Salto, ali bem ao lado de São Marcos da Ataboeira. Entradas e São Marcos têm muito em comum, desde logo a presença da abetarda na sua heráldica, espécie que se pode observar ao longo dessas “veias” que correm pelo coração do “Campo Branco”. Depois, o apelo feito nas t-shirts dos atletas – “Descubra as paisagens da Reserva da Biosfera” –, camisolas que, no caso das mulheres, eram cor de rosa, assinalando que o mês de outubro é um tempo de consciencialização e promoção da prevenção e do diagnóstico precoce do cancro da mama. Bem, mas vamos lá para a corrida…O algarvio Daniel Martins (Areias de São João) repetiu o triunfo que, na época passada, tinha celebrado na vila de Entradas. Teve uma boa entrada e uma saída feliz, à semelhança de Raquel Trabuco, natural da cidade raiana de Elvas, que foi a vencedora absoluta do setor feminino e logo pela primeira vez em que “voou” da sua cidade para a região do “Campo Branco”, para dignificar a camisola do Beja Atlético Clube.No momento de dar voz aos protagonistas da corrida, ouvimos Daniel Martins confessar: “É sempre com grande gosto que corro no Alentejo, uma vez que a minha vida é dividida entre esta região e o Algarve, de onde sou natural. As provas são muito bem organizadas, esta foi uma excelente organização da Câmara Municipal de Castro Verde, com um percurso bem marcado, com a meteorologia favorável e os adversários foram os do costume. Dão sempre uma boa luta e fiquei feliz por ter ganho mais uma vez”. O atleta piloto veio de uma missão em Moçambique e curou uma lesão recente, mas admitiu: “Já corro, já ganho, e, sim, continuo a voar sobre a planície alentejana”.Quanto à vencedora feminina, Raquel Trabuco assumiu: “Foi a minha primeira presença nesta prova e fiquei imensamente feliz por a ter ganho. Era uma prova que tinha gosto em participar e quase que colidiu com outros compromissos. Mas, sim, consegui estar presente e ainda bem que vim, pois correu muito bem. É uma prova com um percurso bastante interessante, mas não é fácil e a concorrência também era bastante forte, porque estavam em prova outras atletas com muito valor”. À margem da corrida, aplaudindo os primeiros e confortando os que vieram depois, porém, todos eles vencedores, desde logo pela exigência da prova, encontrámos as autarcas das duas freguesias envolvidas nesta parceria. Sara Saturnino preside à Junta de Freguesia de São Marcos da Ataboeira e disse ao “Diário do Alentejo”: “É um evento que tem vindo a crescer de ano para ano. Hoje tivemos o dobro dos participantes das últimas edições, 250 inscritos. É uma prova muito dinâmica, que acaba por trazer muita gente à nossa aldeia e à nossa freguesia”. E reforçou: “O percurso é desenhado ao longo de uma paisagem privilegiada, permite momentos de prática desportiva a desfrutar da natureza e isso é muito valorizado pelas pessoas. Só por isso valerá a pena continuar esta organização”. Ana Guerreiro preside à Junta de Freguesia de Entradas e deixou a nota: “A prova tem evidenciado algum crescimento, quer em termos de qualidade da organização, quer em termos da presença de atletas, portanto, continuará a ser uma boa aposta para o futuro. Estaremos sempre disponíveis para integrar esta parceria. Se o município entender manter esta organização nós também mostraremos essa abertura”. Sobre a meta, um brasão, embutido numa parede de cal branca, com o apelo aos visitantes “Que leve muitas saudades quem São Marcos deixar/Para sentir a alegria de novamente voltar”. Mas, diremos nós, que venham com vagar e apetite para saborearem a boa gastronomia daqueles lugares.
