Com algumas lacunas ao nível dos escalões de formação, o Clube de Patinagem de Beja mantém uma equipa de seniores masculinos a disputar o Campeonato Nacional da 3.ª Divisão e a Taça de Portugal.
Texto e Foto | Firmino Paixão
“Olhando, desportivamente, para o hóquei sénior em Beja, direi que poderá estar em risco. Temos aqui um grande fosso, não temos escalão de sub/15 nem sub/17”, considerou o treinador da equipa sénior do clube, Diogo Brantuas, admitindo ainda que nesta época privilegia a consolidação do grupo, mais do que a obtenção de resultados, o que não significa que não exista ambição na conquista de objetivos e na dignificação do emblema.
Quais são as expectativas do clube no presente Campeonato Nacional da 3ª Divisão?As expectativas, neste ano, passam por consolidar a união do grupo e fazer evoluir o modelo de jogo. Não estamos muito preocupados com os resultados, mas sim com a forma de jogar, com o compromisso dos atletas e com a intensidade de jogo. Olhamos para esses momentos como fundamentais e será através desses momentos de jogo que quantificaremos na nossa evolução, mais do que com os resultados. Não é uma visão pessimista, é uma visão realista, face às condições que nós temos. Não sendo essas as condições que nos definem, mas sim aquilo que vamos fazer para transformar essas dificuldades em algo mais concreto e palpável.
Quais são as dificuldades que têm no seu horizonte?As maiores dificuldades são transversais a todos os clubes do campeonato nacional de seniores que estão abaixo do Tejo: a ausência de recursos humanos. Seja de diretores, seja de delegados, treinadores ou atletas. Atravessamos uma seca de agentes desportivos a sul do Tejo. Olhando para o nosso clube, sentimos que temos uma equipa mais reduzida, um misto de jovens com jogadores mais velhos e isso cria-nos algumas dificuldades. Mas nós temos de nos agarrar aos aspetos positivos, porque a cidade de Beja merece ter hóquei em patins, o clube merece que a secção desta disciplina se mantenha viva e eu, e a minha equipa, estamos cá para manter essa chama viva. Com algumas dificuldades, mas traçaremos o nosso caminho, porque enquanto houver sonho existirá vida.
Admitiu que os resultados não o preocupam, mas são as vitórias que motivam e fidelizam os atletas, sobretudo os jovens, à equipa e ao clube…Certo. Mas eu nunca jogo para perder. E estar a dizer que o resultado não é o principal objetivo, não é hipocrisia, mas eu tenho de olhar para dentro do meu grupo e saber equilibrar a expectativa com a realidade. Todos os dias sonhamos com as vitórias, é o sonho que comanda a vida e nós temos uma motivação baseada nesse sonho. Então é esse sonho, essa motivação, que nos trazem todos os dias ao pavilhão para fazer evoluir o nosso jogo e para tornar vivo este compromisso que nós temos com a secção e com a cidade. Tentamos fazer o nosso melhor. A nossa motivação é o nosso combustível. Agora, sabemos que o campeonato é difícil e nós temos de ter noção das dificuldades que atravessamos. Todas as equipas têm um ciclo. Tenho muita pena, mas o ciclo da equipa sénior deste clube aproxima-se… não queria dizer do fim, mas temos alguns jogadores com 38 e 39 anos e depois temos os nossos jovens com 17 e 18, que, felizmente, seguem o ensino superior, muitas vezes fora desta cidade.
Com sinceridade, o hóquei em patins sénior em Beja está em risco de acabar?Existe um fosso, por inexistência de equipa sub/15 e sub/17. No hóquei em patins nós não formamos jogadores aos 14, 15 ou 16 anos. Temos de olhar um bocadinho mais para a base e reforçá-la para que, nos próximos anos, se consiga manter uma equipa sénior. Este ano já tivemos muitas dificuldades em construi-la. Vamos ser francos. Conseguimos alimentar este projeto da equipa sénior porque recrutámos dois guarda-redes na Força Aérea Portuguesa, dois jovens que estão na Base Aérea [N.º11, em Beja], que estavam desligados da modalidade há algum tempo. O nosso plantel é curto, mas a porta não está fechada. Quem quiser vir trabalhar connosco, quem sentir os nosso valores e quiser ter a nossa identidade e compromisso connosco, a porta está sempre aberta.
O clube tem miúdos com 15 anos na equipa sub/19, jovens com 17 e 18 anos nos seniores. Não lhes é pedido demasiado esforço?Costumo dizer que a necessidade promove a evolução. Precisávamos realmente de jogadores e tivemos que ir buscar esses atletas ao escalão inferior. São jogadores com qualidade, mas que chegaram a este patamar sénior por necessidade do clube. Tínhamos poucos seniores e tivemos de recrutar os nossos jogadores mais aptos para formar as equipas. Estamos a fazer um bom trabalho com eles, estamos a inseri-los, por isso dizia que a consolidação da união é o que mais me preocupa neste momento. Depois de termos um grupo bastante sólido poderemos pensar em intensificar o nosso modelo de jogo e jogar com a nossa própria identidade.
O clube disputará também a Taça de Portugal mas ficou isento da pré-eliminatória. Com que ambição?O objetivo é competir, lutar até ao fim. Acreditar sempre que é possível, sem nunca nos desligarmos do jogo, independentemente do resultado, e isso deixa-me orgulhoso desta equipa, porque – às vezes, parece uma frase inspiratória mas, na verdade não é – estamos sempre em luta até ao fim. Mas isso nem é só a minha identidade, é uma característica dos atletas, é uma característica do povo de Beja. Acho que os bejenses são lutadores e é nessa base que eu me suporto para disputarmos todos os jogos até ao final, independentemente do resultado. Prefiro ter 11 guerreiros a lutarem pelo resultado até ao final do jogo do que ter 20 jogadores sem alma.