Diário do Alentejo

Internacional Bebiana Sabino, docente da Escola Superior de Educação de Beja, disse adeus ao andebol

12 de julho 2025 - 08:00
Na hora da despedida…

“Seja através da investigação académica ou na minha vida pessoal irei sempre lutar por um papel mais ativo das mulheres dentro do desporto, para que elas possam ter oportunidades similares em relação aos seus pares. Podem contar sempre comigo. Essa será sempre a minha luta”.

 

Texto Firmino PaixãoFotos Federação Portuguesa de Andebol

 

Bebiana Sabino, portuense, de 38 anos, pivô da seleção nacional de andebol, despediu-se, depois de ter completado 150 internacionalizações, ao longo das quais marcou 250 golos. Ao longo da sua notável carreira de 28 anos, a docente da Escola Superior de Educação, do Instituto Politécnico de Beja, representou clubes como a União da Bela, o Alfenense, o Madeira SAD, o 1.º de Agosto de Luanda e o Colégio de Gaia. Conquistou seis títulos nacionais, nove Taças de Portugal, uma Supertaça, foi campeã de Angola e campeã nacional de andebol de praia. Recentemente decidiu terminar a sua carreira. Será que, na hora da despedida, o andebol passou a ter mais encanto? “Não sei se terá mais encanto, porque o andebol, na minha vida, teve sempre um grande encanto, pelo menos, ao longo de todos estes anos de prática”, recordou. Porém, admitiu: “Obviamente que sinto saudade. Foi uma decisão muito ponderada e que teria de acontecer, mais tarde, ou mais cedo. O andebol entrou na minha vida por acaso, mas permaneceu e tornou-se algo da minha rotina diária e, claramente, que vai deixar saudade”.

Outra dúvida que Bebiana suscitou é descobrir como irá viver sem o andebol: “Acho que esses serão os próximos passos. Terei de perceber como é que nós podemos, não sei… talvez suprir essa necessidade e também arranjar algo que nos coloque objetivos para lutar, porque acho que o desporto me deu muito isto de ter necessidade de manter sempre um objetivo e, por mais difícil que seja, e por semanas mais difíceis que eu tivesse tido, se eu não tivesse o andebol isto era tudo mais fácil. A minha vida era muito mais fácil, o meu trabalho, do ponto de vista profissional, era muito mais simples, mas havia sempre um objetivo lá no fundo que me obrigava a organizar”. E revelou: “Para conseguir aquele objetivo tinha de conseguir treinar de manhã, treinar à hora de almoço e à noite, tinha de conseguir encaixar as diferentes vertentes do treino na minha semana, porque havia sempre um objetivo e sabia que tinha de lutar e tinha de ser resiliente, extremamente organizada e planear a minha vida para o conseguir. Agora surgirão outros objetivos noutras vertentes, desportivas ou não”.

No momento em que anunciou a despedida, Bebiana Sabino partilhou a afirmação: “O andebol teve um peso importante na menina que eu era e na mulher em que me tornei”. Uma reflexão muito profunda. “Eu não sei o que seria sem o andebol. Não o posso dizer. Mas sei que o andebol me deu muitas coisas. Acima de tudo, ensinou-me a olhar para a vida de uma forma diferente. Perceber que o outro também influencia sempre as nossas decisões. As nossas decisões não podem ser somente a pensar em nós, mas também no outro, a pensar naquilo que é o melhor para a equipa. E temos de saber ouvir o outro e perceber o lado do outro. Além disso, tudo aquilo que possa ser resiliência, espírito de sacrifício, espírito de equipa, todos os valores que nós sabemos que o desporto nos pode dar, obviamente, contribuíram muito para aquilo que eu sou hoje em dia”. A antiga camisola número sete do conjunto nacional deu o exemplo: “O saber trabalhar em equipa, perceber que cada um contribui à sua forma e à sua medida com aquilo que pode, e dentro daquilo que são as suas possibilidades, para um objetivo comum. E que nem todos contribuímos para um objetivo comum da mesma forma, embora todos possamos perseguir esse objetivo comum da mesma forma, mas nem todos temos a capacidade de contribuir com tudo. Cada um contribui com aquilo que pode e com aquilo que são as suas maiores valências”.

A verdade é que Bebiana Sabino era a “BS7” da seleção. Um exemplo inspirador, admitiu: “Espero que sim. Que em algum momento tenha conseguido tocar alguém mas, acima de tudo, que tenha deixado o andebol melhor do que o encontrei. Tenho essa certeza. Se calhar, não aquilo que encontrei quando comecei a jogar, mas, depois, numa fase mais adulta, perceber que estas questões do desporto feminino traziam muitas dificuldades para as atletas e para as apostas no desporto feminino. Obviamente, não saio da modalidade como eu sonhei, do ponto de vista de deixar o andebol no ponto que gostaria. Mas saio com a consciência de ter feito tudo o que estava ao meu alcance para lutar no sentido de que o andebol feminino tivesse maior notoriedade. Que as pessoas olhassem para o andebol feminino com outro respeito e, acima de tudo, procurei sempre lutar para que as atletas tivessem uma maior visibilidade e tivessem melhores condições. Mostrei-me sempre disponível para que isso acontecesse. Para que, realmente, a mulher tivesse o seu lugar no desporto, em concreto, no andebol”.

Com algumas dúvidas quanto ao seu futuro na modalidade, Bebiana Sabino tem outras certezas e uma delas é que a Escola Superior de Educação de Beja continuará a ser o seu “porto de abrigo”: “É o meu local de trabalho, que me garante que a minha ligação ao desporto nunca será quebrada, porque também estou ligada a ele do ponto de vista profissional, embora numa outra vertente”. No incremento do projeto “Action Girls”, atalhámos. “Sim! Mas estes projetos de investigação carecem sempre de muito apoio financeiro no sentido de se conseguir depois desenrolar um sem fim de atividades para que possamos ter recursos humanos, para que essas atividades possam ser operacionalizadas, para além, naturalmente, da nossa muito boa vontade e das horas extras que dedicamos a este tipo de projetos, porque, para além da investigação, também para nós, do ponto de vista individual, estes projetos fazem sentido”, concluiu.

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