Um dia de emoções fortes no Campo de Jogos Manuel António Saramago Peste, em Albernoa, onde, ao princípio da tarde do último sábado, foi inaugurado um piso sintético, e, horas depois, o Futebol Clube Albernoense conseguiu subir à primeira divisão do futebol bejense.
Texto e Foto | Firmino Paixão
Um dia histórico para a comunidade albernoense. Dois motivos de orgulho. A inauguração de um piso com relvado sintético, no campo de jogos do clube local, que, nessa mesma tarde, carimbou a subida de divisão. Dois sonhos cumpridos, de uma só penada. Coincidências felizes. Sim, Koincidências é o nome do projeto musical que animou a cerimónia de inauguração do campo de jogos, com a música popular portuguesa a servir de aperitivo às intervenções do costume.
As obras de requalificação do Campo de Jogos Manuel António Saramago Peste resultaram num investimento de cerca de 232 mil euros, comparticipados, em 150 mil euros, pelo município de Beja, 42 mil através do Fundo Crescer, da Federação Portuguesa de Futebol, e os restantes 40 mil euros da responsabilidade partilhada entre a União de Freguesias de Albernoa e Trindade e o Futebol Clube Albernoense.
Pedro Jonas, presidente do clube, não escondeu a emoção. Ainda pouco refeito das lágrimas de orgulho pela beneficiação do campo de jogos, eis que viu cumprido outro dos seus sonhos, o Albernoense “Rumo à 1.ª Divisão”, e confessou: “Num dia de festa nesta terra conseguimos construir igualmente uma grande vitória que nos dará, também, e, pela primeira vez na história deste clube, a possibilidade de irmos disputar a primeira divisão distrital da Associação de Futebol de Beja”. Coincidências, ou não, é um legado que este jovem dirigente deixará no clube. “Foi o que prometi às pessoas e foi o que cumpri até ao fim. Promessa feita, promessa honrada. O Albernoense está muito forte, está muito dinâmico, quem vier a seguir terá todas as condições”.
O anúncio de que, em breve, iria suspender o seu mandato nos órgãos sociais do cube pode ter surpreendido muita gente, mas Jonas explicou o porquê desse anúncio. “Tem o significado de querer fazer mais e melhor pela nossa terra. Tenho um projeto, em curso, que me obrigará a suspender o mandato. Não sei o que acontecerá, mas, albernoense por um dia, albernoense para sempre”. O “Diário do Alentejo” sabe que, nas próximas eleições autárquicas, Pedro Jonas será candidato à presidência da União de Freguesias de Albernoa e Trindade, liderando uma lista de cidadãos independentes.
Ora, na cerimónia de inauguração do piso sintético no Campo Manuel António Saramago Peste, onde usou da palavra, Pedro Jonas já tinha explicado a arquitetura financeira que tinha suportado o investimento, agradecendo às diferentes entidades todos os apoios institucionais, adiantando que “foi um percurso de muito trabalho e muita entrega”, relevando, igualmente, o apoio das pessoas próximas do emblema e dos patrocinadores que têm amenizado as dificuldades de um clube com a dimensão do Albernoense, que possui pouco mais de duas centenas de associados. “O Albernoense de hoje não é o Albernoense de há 10 anos”, sublinhou.
E prosseguiu: “E enquanto esta direção tiver forças, daqui a 10 anos irão pensar que aquilo que eu disse hoje será muito mais do que aquilo que estão a ver, porque o Albernoense cresce todos os dias, para todos e com todas, porque só assim é que esse crescimento fará sentido. Crescer unindo todas as forças, entidades institucionais, patrocinadores e colaboradores”. “Albernoa merece! O Albernoense merece!”, afirmou, ainda, Pedro Jonas, já empolgado, reiterando que esta obra “é de todos e para todos, porque foi com a ajuda de muitas pessoas que a obra se concretizou”. Antes de concluir a sua intervenção, Pedro Jonas deixou ainda a premonição: “Hoje ainda podemos continuar a fazer história, porque se vencermos o jogo, logo à tarde [que venceram] podemos subir à primeira divisão”.
Subiram. Foi o outro sonho cumprido por um coletivo de dirigentes que nunca escondeu a resiliência, a disponibilidade para fazer o melhor pelo seu clube, para procurar a melhor forma de dialogar com os parceiros que caminharam, lado a lado, com a ambição de um clube que, não há muito tempo, viu um seu atleta morrer no campo de jogos onde defendia as cores do clube.
Gefrison Candé tinha 28 anos quando, em janeiro de 2024, caiu inanimado, e sem vida, no relvado do Estádio Municipal de Mértola. Mas, neste dia histórico em que o seu clube alcançou conquistas pelas quais ele foi impedido, pela tragédia, de prosseguir a luta, Candé esteve presente. Ali ao lado, no seu memorial, nas camisolas dos antigos colegas, mas também na memória de todos os presentes.
O município de Beja esteve representado pela vereadora responsável pelo desporto, Maria João Ganhão, que sublinhou, com uma intervenção muito sentida: “Quero falar de e com o coração. Hoje é um dia de grande alegria e de grande orgulho para o nosso Futebol Clube Albernoense e para o desporto de todo o concelho de Beja”.
A inauguração deste campo sintético, disse a autarca, “mais do que a inauguração de uma infraestrutura, simboliza o compromisso de todos nós com o desporto, com o presente e com o futuro de novas gerações”. Este campo sintético, completou Maria João Ganhão, “é, simbolicamente, um espaço de esperança, de esforço e de memórias. Acredito que foram essas memórias, em homenagem a alguém muito especial, a quem foram buscar forças, num esforço coletivo que existiu para que este sonho se tornasse uma realidade”. Este campo é mais um tributo à sua memória”, em clara alusão a Gefrison Candé.