O multifacetado associativismo desportivo existente no concelho de Beja recebeu um novo membro: o Beja Rugby Clube, formalizado por escritura pública lavrada no dia 2. No passado existiram duas tentativas de implantar o rugby nesta cidade, mas ambas goradas.
Texto e Foto | Firmino Paixão
A existência da Academia de Rugby do Colégio de São José, na cidade de Beja, já aqui tinha sido notícia, em janeiro deste ano, momento em que o técnico da modalidade, Pedro Pereira, deixou claro: “Os objetivos que nós temos traçados passam pela criação de um clube”. Se bem o disse, melhor o fez. O Beja Rugby Clube é uma realidade. Nasceu no passado dia 2, num cartório notarial da cidade. “Um marco histórico para a cidade de Beja”, assinalou Pedro Pereira, presidente do novo clube, regozijando-se: “Foi, sem dúvida, algo muito bom termos conseguido concretizar a iniciativa de criar mais uma modalidade desportiva para incluir os nossos jovens e contribuirmos para projetar o nome da cidade, e do concelho, a outros níveis”.
Ora, o primeiro passo está dado, mas há ainda um longo caminho para percorrer, admitiu. “Temos ainda pela frente um longo caminho, desde logo criarmos uma estrutura, um ponto, onde os atletas se possam fixar e possam treinar. Uma estrutura comunitária, porque queremos contar com toda a gente a apoiar o rugby nesta cidade e, acima de tudo, conseguirmos alguns apoios públicos e privados, porque todos eles serão bem-vindos e necessários para que este projeto corra da melhor forma e seja bem-sucedido”.
O projeto esteve alicerçado e deu os primeiros passos através do Colégio de São José. Agora, com a existência de um clube, a dúvida surge: qual será o papel deste colégio no futuro? “Esteve alicerçado no Colégio de São José, ainda está e irá continuar assim. O Colégio de São José é o nosso berço”, garantiu Pedro Pereira. E recordou: “Foi o espaço onde crescemos e onde criámos o bichinho. Foi o espaço onde algumas pessoas da cidade tiveram contacto com a modalidade. Caminharmos lado a lado com o colégio é a única forma como encaramos o crescimento deste projeto, porque o Colégio de São José também está em crescimento, está a aumentar a sua população escolar e esses alunos poderão, no futuro, ser nossos atletas. Por outro lado, tendo em conta todos os valores que o rugby representa, que coincidem com o tipo de valores que o colégio pretende, este projeto terá de andar sempre de mãos dadas”.
O clube tem, atualmente, cerca de três dezenas de atletas. Os mais jovens realizam convívios entre si, etapas para aprendizagem das regras, dos conceitos e dos valores da modalidade. Para o escalão mais avançado está previsto um jogo-convívio com um clube que tenha alguma proximidade. As orientações para o futuro são consolidar uma estrutura e prosseguir nesse caminho. Pedro Pereira sabe que já existiram duas tentativas anteriores para que o rugby fizesse escola em Beja. Sabe, porque as viveu de perto, porém, desta vez, está confiante, garantiu: “A nossa confiança é realmente muita, se não fosse, nunca teríamos dado o passo que acabámos de dar, que foi a formalização do clube. Estive presente nessas duas tentativas que existiram para que a modalidade se enraizasse em Beja e a única coisa que faltou, nesses dois momentos, foi a existência de apoios.
A cidade tem de apoiar esta iniciativa para que num momento seguinte possa crescer, porque tudo isto pode trazer nome à cidade. Temos na região o Clube de Rugby de Évora, o Rugby Clube de Montemor, o Rugby Clube de Elvas, clubes que são apoiados, principalmente, pelas instituições públicas, mas também têm apoios privados. São clubes que vingaram e que se têm mantido. Pelo menos, há 20 anos que conheço estes clubes em atividade e, desportivamente, o Clube de Rugby de Évora já esteve na divisão de honra, onde jogam os grandes clubes de Lisboa. Neste momento está lá o de Montemor-o-Novo e são clubes que nasceram em terras onde, supostamente, não existia cultura da modalidade, mas que, a partir do momento em que foram apoiados, cresceram e consolidaram-se. Tudo é possível, tudo pode vingar, mas, insisto, desde que os projetos sejam apoiados”.
A comunidade académica é um espaço de recrutamento, por excelência, e o presidente do Beja Rugby Clube tem isso bem presente: “Os passos que temos a dar são apresentarmo-nos à comunidade académica, quer nos agrupamentos escolares, quer no politécnico. O processo passará, inevitavelmente, por aí e pelo próprio Colégio de São José, onde temos que criar as nossas bases de formação, mas passará, também, por desmistificar uma coisa que se chama o medo dos pais, esse é o meu grande receio. Os pais terão de perceber que o rugby é um desporto bonito, mas não é violento como por aí se pensará. Esse preconceito é o nosso maior adversário”.