Diário do Alentejo

Promissor João Aurélio fez os três golos do Sporting Figueirense ao Desportivo da Sete

07 de março 2025 - 08:00
O “abono de família”

O Campo das Amarelas, em Figueira dos Cavaleiros, um pelado bem dimensionado e melhor cuidado, recebeu o jogo entre o Sporting Clube Figueirense e o Grupo Desportivo e Cultural da Sete (Castro Verde). Uma partida relativa à 19.ª jornada, da série B, do Campeonato Distrital da 2.ª Divisão, da Associação de Futebol de Beja.

 

Texto e Fotos Firmino Paixão

 

Uma partida que opôs o quinto ao último classificado. Duas equipas com percursos e argumentos antagónicos. O Figueirense a tentar recuperar o prestígio e a dimensão dos velhos tempos, o Desportivo da Sete a revelar a resiliência de um conjunto em que o amadorismo é levado ao extremo, mas que não abdica da complementaridade social para com o povoado onde, há cerca de 36 anos, foi fundado. Vamos ao jogo? Bora lá!

Quarenta e cinco minutos iniciais repartidos, com os visitados a criarem algumas oportunidades que não souberam concretizar ou esbarraram na boa exibição do guardião André Costa. O segundo período foi diferente. O Figueirense surgiu mais assertivo, em cinco minutos fez dois golos, o Sete marcou e diminuiu a desvantagem, mas uma grande penalidade cometida no interior da sua área deu origem ao terceiro tento dos locais. Todos com a assinatura de João Aurélio, um beringelense que é parente afastado dos gémeos Luís e João Aurélio. O seu treinador, João Doroteia, referiu-se-lhe como “o abono de família da equipa”.

“Uma vitória justa”, considerou Doroteia, técnico que chegou à Figueira dos Cavaleiros a coadjuvar Rui Marques, treinador que, a meio da época, substituiu Carlos Guerreiro no Castrense, mas que se mantém bem perto dos figueirenses. A ineficácia do primeiro período de jogo foi assim justificada por Doroteia: “A pouca organização do adversário acabou por nos desorganizar, também a nós, durante a primeira parte e não conseguimos materializar a nossa superioridade. Ao intervalo viemos para o balneário, corrigimos o que estava menos bem, entrámos mais determinados, mais focados, embora continuemos a pecar na finalização, mas isso não é de agora. Vamos continuar a trabalhar melhor esses aspetos”.

O percurso “a solo” deste jovem treinador tem sido bem-sucedido. Sublinhou: “Em todos os jogos em que estive à frente da equipa sofremos uma derrota e um empate, portanto, acho que tem sido positivo”. E mais, as metas estão atingidas: “O nosso principal objetivo era um lugar entre os cinco primeiros e, por ora, está conseguido, portanto, tendo apenas dois jogos por disputar [folgam na última jornada da prova], acho que o conseguiremos manter”.

Quanto ao plantel, recheado de juventude, João Doroteia comentou: “Temos aqui jogadores com grande capacidade para evoluírem, quer na equipa sénior, como nos juniores. A maior parte é júnior de primeiro ano, estão numa fase de aprendizagem, mas acredito que, no próximo ano, tendo mais experiência, possamos fazer aqui algo mais importante”. O próximo jogo do Figueirense será no terreno do São Marcos. “Um adversário muito difícil”, assumiu o técnico João Doroteia.

Conformado com a derrota, o treinador da formação do concelho de Castro Verde deixou a sua leitura do jogo: “Aguentámo-nos na primeira parte mas, na segunda, o adversário pressionou-nos mais e marcou dois golos, ainda respondemos e diminuímos a desvantagem, mantendo o resultado em aberto, mas cometemos uma grande penalidade e o jogo acabou aí”. Mas não deixou de acentuar: “O Desportivo da Sete é um clube muito peculiar, andamos todos aqui na base da boa vontade. Os jogadores não treinam, ou treinam pouco, depois isso reflecte-se dentro de campo. Somos ainda muito amadores, temos muitas fragilidades”. Uma avaliação muito realista. Na verdade, a equipa luta enquanto tem forças e enquanto as fragilidades não vêm ao cimo. Falta-lhe algo mais. “O que falta? Falta treinarmos mais vezes, falta mais compromisso com os treinos”, admitiu o treinador, admitindo, no entanto: “Nem sempre é fácil, devido aos compromissos profissionais que eles têm. Trabalham por turnos, precisam de descanso, o trabalho é muito duro, mas essa falta de preparação reflecte-se nos jogos; trabalham 12 horas por noite, no fundo da mina, e quando saem não é apetecível virem jogar à bola”.

Um cenário em que não é fácil, sequer, fixar metas, admitiu Ricardo Soares: “O objetivo que definimos era o de fazermos algo melhor do que na época passada. Mas não é fácil. Nunca conseguimos ter os mesmos 11. Hoje tinha 16 jogadores, e nove deles, mais de metade da equipa, estavam condicionados com pequenas lesões. Nunca sei com o que posso contar”.

O lado bom desta história é que as pessoas sentem o clube, o desporto tem uma função social naquele povoado. Ricardo Soares deixou um desafio: “Se lá for, tenho a certeza que não verá ninguém com camisolas do Ronaldo ou dos grandes clubes nacionais. Só se vêem camisolas do Desportivo da Sete e isso diz muito; alguma coisa se passa ali. Um amor como nunca vi igual e nós sentimo-nos contagiados. Repare que tenho lá miúdos com 14 e 15 anos que querem treinar com a equipa, e eu permito que o façam, é algo inexplicável”, concluiu.

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