Diário do Alentejo

1.º Torneio Ibérico Kayak Polo decorreu nas piscinas municipais de Ferreira do Alentejo

01 de março 2025 - 08:00
Só fazendo acontecer
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

O kayak polo regressou à região. Uma década depois de extinta a atividade da Associação Pagaia Sul, de Beja, e depois de a Ferreira Activa ter suspendido a sua atividade, os kayaks voltaram a flutuar.

 

Texto Firmino Paixão

 

A promoção do kayak polo, associada à intenção de repor a atividade no distrito de Beja e o intercâmbio com equipas espanholas, deram força à Ferreira Activa –Movimento Associativo de Ferreira do Alentejo, sob os auspícios da Federação Portuguesa de Canoagem, para a realização do 1.º Torneio Ibérico de Kayak Polo. Seis clubes, uma dúzia de equipas de diferentes escalões, pagaiaram no último fim de semana, revoltando as águas das piscinas municipais de Ferreira do Alentejo e revivendo momentos competitivos que já não se testemunhavam há cerca de uma década. Pode ser que esta semente frutifique.

O clube local reuniu alguns dos seus antigos praticantes com antigos atletas da Pagaia Sul (entre outros, José Diogo, Pedro Mestre e João Roque), juntando-se-lhes as equipas do Clube Kayak Polo Barra, de Oeiras, do Clube Fluvial de Coimbra, do Clube Naval de Portimão, do Clube de Canoagem de Setúbal e, vindo da região de Cádis (Espanha), do Club Kayak Polo de Arcos.

O evento, como revelou José Diogo Rosa Branco, presidente do Ferreira Activa, surgiu num cenário em que “o Alentejo, infelizmente, perdeu todas as equipas que tinha”. E acrescentou: “Nós, também, há cerca de 10 anos, que não tínhamos equipa, nem promovíamos qualquer organização. Surgiu um convite da parte da comissão de kayak polo da Federação Portuguesa de Canoagem para organizarmos um torneio de pré-época em que pudéssemos trazer equipas espanholas para competir e para melhorarem o nível competitivo das equipas dos dois países, e acedemos”.

Os objetivos eram claros, admitiu o dirigente: “O objetivo principal era, realmente, confrontar as equipas portuguesas com as espanholas, num espirito de pré-temporada, e os objetivos secundários passaram por trazer, novamente, uma prova para mexer um bocado com os antigos praticantes do kayak polo alentejano e também aproveitar as infraestruturas que possuímos em Ferreira do Alentejo, que são excelentes para este tipo de desporto, e, por outro lado, trazer pessoas ao nosso território para visitarem o concelho e a região”.

Será este o impulso para que a modalidade regresse à região? Não será fácil, considera José Diogo: “Seria possível desde que existisse alguém que pegasse nisto a tempo inteiro. A dificuldade é essa. Estamos numa região que demograficamente é de baixa intensidade e é difícil arranjarmos pessoas que queiram empenhar-se nisto. É um desporto exigente em termos de investimento em equipamento, a presença na água, durante o inverno, também é dura e não atrai jovens, exige muita dedicação e, neste momento, não aparece ninguém que queira fazer isso”.

Pelo apoio que dedicou a esta realização, a Federação Portuguesa de Canoagem parece empenhada, reconheceu: “A federação tem apoiado muito esta disciplina. O antigo presidente, Vítor Félix, era atleta de kayak polo. Portugal também obteve bons resultados em competições internacionais, nomeadamente, no último mundial, na China, e isso poderia ser um incentivo”. Por outro lado, a presença em competições internacionais exige algum investimento dos atletas e das famílias, embora a federação já possa dar maior contributo. Ainda assim, a perda de expressão da modalidade, não sucedeu, apenas, no Alentejo. José Diogo lembrou: “Sucedeu também na margem sul, em Amora, no Seixal, também no norte do País”.

O bejense Pedro Mestre, atleta internacional do Clube Naval de Portimão, que representou a Associação Pagaia Sul, revelou algum otimismo: “Temos esperança que, na região do Alentejo, se possa desenvolver de novo a modalidade, como já sucedeu no passado”. E até prometeu colaborar: “Eu estou disponível para vir cá ajudar a dar o primeiro passo, mas o que falta mesmo é alguém que agarre na modalidade e disponha do seu tempo para fazer acontecer alguma coisa. Os miúdos acabam por se arranjar, o investimento inicial consegue arranjar-se com algum esforço, mas falta sempre alguém que se comprometa em agarrar a modalidade e que leve os miúdos para a frente”.

Também treinador das equipas de formação do Clube Naval de Portimão, Pedro Mestre recordou os males do passado: “O que aconteceu em Beja e em Ferreira do Alentejo foi que os ciclos de renovação pararam. Criou-se um ciclo, mas não existia uma base e quando os velhotes começaram a envelhecer mais não aconteceu a renovação”. A receita, identificou-a Pedro Mestre: “É apostar forte na base, mas tem de se ir sempre renovando para fazer uma equipa de futuro. Esta é a minha visão das coisas, pois, em Portimão, tenho miúdos que vão para a universidade, irei perdê-los, mas já estou a criar alternativas a essas perdas”.

Pedro Mestre, recorde-se, competiu no campeonato do mundo em 2022, em França, no campeonato da Europa, em 2023, na Alemanha, e, em 2024, no campeonato do mundo, na China, cada vez com prestações mais honrosas, contudo, identificou: “Portugal cada vez tem menos equipas e menos competitividade. A solução são estes torneios com equipas espanholas ou esforçarmo-nos para competirmos lá fora”. Um bejense na alta-roda do kayak polo internacional.

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