Diário do Alentejo

Piloto bejense Filipe Cameirinha estreará um novo Can Am na Baja TT Escuderia, em Castelo Branco

09 de março 2025 - 08:00
O instinto que nos move
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

A Baja TT Montes Alentejanos não é, decididamente, uma prova onde Filipe Cameirinha tenha conseguido estar ao seu nível. Tudo lhe tem acontecido. Uma pedra que se introduz no radiador, uma manga de eixo que quebra. São enguiços que impedem o bejense de brilhar na sua terra.

 

Texto Firmino Paixão

 

“O todo-o-terreno é o meu desporto preferido, o meu desporto número um. Gosto imenso, tenho lá grandes amigos, temos a nossa família do todo-o-terreno e gostava de ter mais tempo para dedicar a essa causa o que, infelizmente, não tenho. Mas vamos fazendo o que podemos”, garantiu o empresário bejense, de 47 anos, que, entre 21 e 23 deste mês, estreará um novo carro na Baja TT Escuderia, em Castelo Branco, segunda prova do Campeonato de Portugal de Todo-o-Terreno.

 

Já está a preparar esta competição?

Neste momento já deveria estar, mas vamos ter um carro novo, que chegou durante a Baja de Beja, já sem possibilidade de o estrear cá. Estamos a concluir a sua preparação e vamos estreá-lo em Castelo Branco.

 

O campeonato iniciou-se com os Montes Alentejanos, uma prova que nunca lhe corre bem…

Beja nunca nos corre bem. Temos aqui uma sina qualquer que não nos tem permitido brilhar. Era a prova onde eu mais gostaria de brilhar, porque estou em casa e tenho aqui todos os meus amigos. Mas nunca consegui ter uma etapa, já não digo uma prova, digo uma etapa, que me corresse bem aqui em Beja. E acontecem-me sempre coisas impossíveis. Neste ano, quando estava a arrancar, até comentei com o José Luís, o meu navegador: ‘O que será que nos irá acontecer agora?’. Fizemos um prólogo rápido, mas, à cautela, e passados oito quilómetros, sem batermos em nada, sem tocar em rigorosamente nada, partiu-se uma peça que, supostamente, era indestrutível. Acho que, na história, a única vez que uma peça destas partiu foi a nossa. Noutra vez entrou-me uma pedra no radiador, que custava a caber lá dentro. Não conseguimos perceber como é que conseguiu lá entrar. Portanto, aqui em Beja, nunca nos corre bem. Gostaria de fazer aqui um brilharete mas, por ironia do destino, até agora, ainda não consegui. O carro é bastante fiável, tem-no provado noutras provas, mas aqui não havia qualquer razão para que estas coisas acontecessem.

 

O que persegue neste desporto em todo-o-terreno?

Acima de tudo, a diversão. No ano passado fizemos um terceiro lugar no campeonato nacional, na nossa categoria, e foi um resultado extraordinário, tendo em conta que este desporto exige muito mais treino e mais dedicação do que aquilo que eu e a minha equipa podemos oferecer. Todos os anos digo que vou dar um pouco mais, que me esforçarei um pouco mais, mas quando chega a altura os afazeres profissionais não o permitem e sobrepõem-se ao prazer do desporto. Mas também há uma coisa que devo notar e que muita gente não tem a noção: os portugueses são os melhores pilotos de todo-o-terreno do mundo. O campeão do mundo e o vice-campeão são portugueses. Todos os anos temos campeões mundiais dentro de algumas categorias. Qualquer prova onde se consiga entrar dentro dos 10 primeiros é, desde logo, um grande motivo de orgulho.

 

Faz sentido termos a Baja TT Montes Alentejanos nesta região?

Faz todo o sentido. Eu, orgulhosamente, fui uma das pessoas que ajudou a prova no primeiro ano. Comprometi-me a não competir e ajudei na organização, acho que tenho aqui algum dedo meu posto. Faz todo o sentido, primeiro porque temos trilhos extraordinários. Temos a melhor região de Portugal para podermos organizar provas. Podemos, inclusivamente, diversificar percursos. Temos tanto território por explorar que o Alentejo, realmente, dava para fazermos aqui um campeonato, não só uma prova. Por outro lado, o distrito ganha muito com uma prova destas na região. São milhares de euros que entram nesse fim de semana, a restauração e a hotelaria ficam completas, a cidade enche-se de movimento, diria que, a seguir à Ovibeja, a Baja TT Montes Alentejanos talvez seja o final de semana mais promissor e mais interessante.

 

Quando sentiu o clique que o atraiu para este desporto?

Sempre adorei o mundo da competição e logo quando era miúdo. Com 15 anos comecei a correr de moto. Tinha uma 125 e era obrigatório ter carta de condução. Acho que, na altura, falsifiquei uma carta, federei-me e fui correr. Passaram 30 anos, já podemos contar estas coisas. Nessa altura já competia com a rapaziada mais crescida. Fiz o campeonato, estamos a falar dos anos 94 até 97, entretanto, até recebi um convite para integrar uma equipa oficial, mas isso coincidiu com a entrada na universidade. Tive que optar porque ou levaria a sério o mundo das corridas ou ia tirar a minha licenciatura.

 

Optou pela vida académica, claro?

Fiz uma opção da qual nunca me arrependi. Completei a licenciatura e preparei-me para o mundo empresarial mas, entretanto, o bichinho das corridas continuou cá. Fiz algumas tentativas para voltar a correr mas, entretanto, meteu-se a [herdade da] Figueirinha e não havia tempo para tudo. Comecei a adiar, mas também já não me sentia confortável para correr de moto e, em 2017, quando surgiram os Can Am FF3, joguei-me para a frente e comecei novamente a correr.

 

A exigência de uma corrida, em que se tomam decisões no momento, também o ajuda na gestão empresarial…

No todo-o-terreno conduz-se, muitas vezes, por instinto e, na vida empresarial, o instinto é o que mais nos move. Quando tomamos uma decisão tentamos que seja a mais acertada. No todo-o-terreno é tudo uma surpresa, nunca sabemos por onde vamos andar, decidimos à décima de segundo, e qualquer erro paga-se caro, portanto, aprendemos a conduzir por instinto e isso tem tudo a ver com o mundo empresarial. Acho que consigo agir da mesma forma, num lado ou noutro. No carro levamos a vida do navegador, na vida empresarial levamos a vida de muita gente. Temos de ser mais ponderados, mais cuidadosos.

 

Os automóveis são uma tradição que vem de família, do avô, do pai… isso teve peso nas suas escolhas?

Vou confessar-lhe que me apaixonei pelo mundo automóvel ao ouvir as histórias que o meu avô me contava, todas as aventuras que partilhou com grandes figuras do mercado automóvel nacional. Sempre gostei de carros e apaixonei-me por esse negócio. Antes de começar na Figueirinha ainda tive um pé nos automóveis, mas confesso que perdi todo o gosto que tinha por essa área. O paradigma do mundo automóvel mudou completamente e o meu próprio avô também já estava muito farto daquilo.

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