Diário do Alentejo

Mais de 400 atletas no evento desportivo que celebra a arte ancestral de transformação da uva em vinho

07 de dezembro 2024 - 08:00
Capital do vinho de talha
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

Carlos Papacinza (Núcleo Desportivo e Cultural de Odemira) e Liliana Veríssimo (Associação Académica da Bela Vista) foram os vencedores absolutos dos Trilhos do Vinho de Talha 2024, em Vila de Frades. São dois atletas a quem o primeiro lugar do pódio não é de todo estranho.

 

Texto Firmino Paixão

 

O “odemirense” Carlos Papacinza – venceu pela terceira vez, segunda consecutiva – e a lagoense Liliana Veríssimo – conseguiu o segundo triunfo na prova – vão tomando o gosto aos vinhos de talha de Vila de Frades.

Mais de 400 concorrentes repartidos por um trail de 12 quilómetros (235) e por uma caminhada de oito quilómetros (203), uma participação recorde. Um percurso desafiante, com uma parte urbana de passagem pelas grandes “catedrais” dos “palhetes que são brilharetes”, qual roteiro das adegas; depois, a escalada de 1,5 quilómetros até à ermida de Santo António dos Açores, de arquitetura maneirista, edificada no século XVII, e a inevitável passagem pela antiga vila romana de São Cucufate, outrora ocupada pelos frades da Ordem de São Vicente de Fora.

Fundistas e caminheiros largaram da artéria frontal à junta de freguesia, a rua Professor Cristo Fragoso, e a meta estava assinalada na zona frontal ao mercado, muito perto do Centro Interpretativo do Vinho de Talha, na praça 25 de Abril. Pelo meio, ficou um traçado paisagístico magnífico, onde “cantam os melros e cantam os pardais”, exigente, mas com um final retemperador, pois sempre “cantamos nós à festa do vinho”, como reza a moda de Vila de Frades.

Rui Raposo, presidente do município de Vidigueira, deu o mote: “Este é o ponto alto da produção do vinho de talha, do seu consumo e da experiência de provas, e estas pessoas vão ter um bocadinho dessa experiência inesquecível, nas adegas”. Então, Vila de Frades já não tem abades? “Não, mas tem adegas que são catedrais, é mesmo essa a ideia, tornar todo, e cada um desses espaços, numa catedral, para podermos receber e conviver com as pessoas”. Sim, porque o concelho de Vidigueira é um território “onde o tempo se vive” e estes trilhos, na terra natal de Fialho de Almeida, foram uma afirmação dessa ideia. “Sem dúvida, mas não só este trail, como tudo aquilo que nós conseguimos ir divulgando e promovendo. E em vários âmbitos, como a saúde e o bem-estar, o desporto, a gastronomia ou os vinhos. Aquilo que vamos sempre tentando é agregar e associar todos aqueles que são os nossos patrimónios e, desta forma, esta prova também serviu para isso mesmo”, assinalou o autarca.

O número crescente de inscrições é a prova de que as pessoas gostam da organização e da forma como são recebidos e isso, reconheceu Rui Raposo, “é um orgulho para toda a equipa e para todo um conjunto de parceiros que organizam esta iniciativa. É bom vermos que ela está a crescer cada vez e tem cada vez mais pessoas a aderir”. Uma iniciativa que se insere num programa que faz um apelo pertinente, “Mexe-te, se faz favor: Mais Saúde. Mais Desporto”. O autarca anunciou, por isso: “Vamos desenvolver outras iniciativas aproveitando o espaço recentemente inaugurado em Vidigueira, o Parque Verde Urbano, um espaço fantástico, e o objetivo é esse mesmo, é que esse espaço tenha vida, com esse incentivo que é ‘Mexe-te, se faz favor’, porque é importante para a nossa saúde. É esse o mote, neste momento, porque precisamos de nos mexer, precisamos de nos sentir bem e de estarmos em perfeita harmonia na comunidade e, para isso, nada melhor do que praticar actividade física que é o melhor para a nossa saúde”. O roteiro da prova também mereceu do autarca a afirmação: “Tentamos que os percursos tenham o máximo de interesse para as pessoas, não queremos que se tornem muito repetitivos, queremos que haja sempre uma novidade, porque é isso que faz com que as pessoas venham e voltem, para perceberem qual a próxima novidade”. De resto, prosseguiu: “Vila de Frades já foi sede de concelho e tem um historial muito interessante para darmos a conhecer às pessoas, mas o facto de termos as ruínas romanas e, desde há dois mil anos, se produzir vinho com uma técnica que vem desde essa época, é, desde logo, um facto histórico relevante”. Relevante também o facto de, dois dias antes da realização deste evento, o município ter empossado o cantor bejense António Zambujo como embaixador do Vinho da Vidigueira. Rui Raposo explicou: “Era algo que vínhamos a pensar desde há muito tempo. A proximidade que fomos tendo com os produtores de vinho, as dificuldades que íamos sentindo no próprio setor, então, achámos que o município tinha todas as condições, pela qualidade e pela excelência dos seus vinhos, de poder associar-lhe uma personalidade com grande notoriedade. Falámos com o António Zambujo, ele achou uma excelente ideia e aceitou-a de imediato, aliás, ele próprio tem aqui um projecto empresarial de vinhos. É um apaixonado pelo Alentejo”. Pois não, que não é: “Meu Alentejo/Enquanto isto se processa/O sol ferindo, sem pressa/Queima mais a tez bronzeada/O sol rasga a camisa/O homem queimado mais fica/E a vida é feita de brasa”.

 

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