Diário do Alentejo

Seiscentos atletas participaram no 1.º Trail da Terra do Sol, em Amareleja

23 de novembro 2024 - 08:00
O sol é que alegra o dia
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

A primeira edição do Trail da Terra do Sol reuniu seis centenas de atletas na vila de Amareleja. Uma terra genuína! Uma vila com filhos ilustres e particularidades que dela têm feito uma terra singular, senão única. A terra onde, em julho de 1928, nasceu a grande Eunice Munhoz.

 

Texto Firmino Paixão

 

A organização desta primeira edição do Trail Terra do Sol foi da secção de atletismo da Sociedade Filarmónica União Musical Amarelejense (Sfuma), coletividade fundada em 1858, cuja banda filarmónica atual conduziu os 600 atletas, em cortejo, entre o Pavilhão das Cancelinhas (local do secretariado) até à praça da República, onde seriam dadas as partidas para os diferentes desafios. Uma singularidade que trouxe para o exterior do centro social muitos dos 70 idosos ali residentes, dois deles centenários.

A praça da República, como acontece em muito lado, é o coração da vila. Alberga a casa do povo, a sede da Sfuma, o posto de turismo e a torre do Relógio, que tem essa, outra, singularidade de ter nascido no séc. XIX para ser igreja e que hoje é um espaço multiusos. Não muito distante deste núcleo central, na rua da Escola, está a Casa Memória Eunice Munhoz, inaugurada em 2021, ainda com a presença da grande atriz dona Eunice, que, não muito longe dali, tem uma placa toponímica na rua onde nasceu e viveu, no número 39 da rua Eunice Munhoz. Mas voltemos ao trail.

Uma organização muito bem conseguida, como admitiu José Banha, um dos responsáveis, também vereador da Câmara Municipal de Moura. “Os resultados estão à vista de todos. As pessoas acreditaram em nós e vieram. A equipa de trail da Sfuma existe há um ano, tempo em que temos participado em várias provas na região e isto já é quase uma família e, por isso, cada vez existem mais praticantes. É um desporto saudável, permite desfrutar da natureza e conhecer paisagens onde, de outra maneira, nunca lá iríamos, e isso é uma grande mais-valia”. A promoção do território é uma das prioridades, assegurou. “Procuramos as melhores paisagens, os melhores pontos de observação e é isso que encanta as pessoas, muitas vezes até param para fazer o registo de imagens para memória futura. Nesta modalidade não se corre e anda apenas, também se observa, também se desfruta de imagens inesquecíveis, da imensidão paisagística que temos no Alentejo, e em particular aqui na Amareleja, como o baldio das Ferrarias, que é uma mancha florestal com cerca de 700 hectares que está por explorar e tem trilhos magníficos. No final, pedimos às pessoas que avaliassem esta organização, porque isso será um incentivo para continuarmos”.

A tempestade que, recentemente, assolou o Sul do território nacional criou algumas preocupações mas, na manhã de domingo, o sol brilhava, não estivéssemos nós na vila que tem maior número de horas de exposição solar por ano, também recordista das elevadas temperaturas (47,4º centígrados em 2003). Mas estes eventos terão, eventualmente, intenção de revelarem-se como exemplos de vida saudável para as comunidades locais. Neste caso, isso faz todo o sentido, considerou o autarca dali natural, explicando: “A Sfuma tem quase 170 anos de história, o seu core de atuação é a filarmonia e nós, há um ano, criámos uma secção de atletismo. As pessoas, inicialmente, estranharam, começámos com 10 atletas e, neste momento, temos mais de 50. Normalmente até se dividem de forma a estarmos em vários trails que acontecem na região. Até porque a interação com essas pessoas faz com que elas, mais tarde, aqui venham”. A Amareleja é, sublinhou José Banha, “uma terra de talentos e de oportunidades”. E lembrou que, além de dona Eunice, “Gonçalo Ramos tem aqui as suas raízes, é um nome sonante no futebol, porque atingiu patamares de relevo internacional. Mas é filho de peixe. O pai, Manuel Ramos, foi um jogador de eleição. O filho mais novo, Lourenço, também já está no Benfica. São referências extraordinárias. No mundo artístico temos Ana Arrebentinha, que está a conseguir um sucesso extraordinário por esse país fora, a fazer rir os outros, tocando em áreas que, normalmente, as senhoras não tocam”.

Outrora a maior e mais populosa freguesia do País, Amareleja tem histórias que fazem jus à sua história de terra de gente genuína. Senão, vejamos! Um amigo contou-me esta história real: ele acompanhava as pedaladas de uma etapa da “Alentejana” que haveria de passar pela Amareleja. O calor era imenso. Tinha sede e alguma fome. Pensou: “Que bem que calhava agora um gaspachinho”. Adiantou-se ao pelotão, aventurou-se por aquelas ruas largas e longas e encontrou um café. Ansioso, cruzou-se na soleira da porta com um residente. Homem de meia-idade, tez escurecida pelo sol, sorridente e bem-falante. Perguntou-lhe: “Onde poderei comer um gaspacho, que me saberia tão bem?”. O homem respondeu de pronto: “Venha comigo! Vamos à minha casa e a minha Ana faz um para a gente os dois”.

Isto foi no Alentejo! Aconteceu em Amareleja, a terra onde o sol ilumina a generosidade das pessoas. Aquece-lhes a alma! O bom do homem que nunca na vida se tinha cruzado com o forasteiro ia abrir-lhe as portas de casa para a mulher fazer um gaspacho. Que pureza! Só que o tempo era curto para temperar a vinagrada e o “ciclista” desfez-se em desculpas e lá sprintou para retomar o seu lugar na frente da corrida. Sem fome, porque a generosidade lhe saciou o desejo. Sem sede, porque a gratidão lhe refrescou o sentimento.

 

 

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