Os jovens bejenses João André e Vasco Caçoila são dois irmãos futebolistas que têm, obviamente, muito em comum, mas também características e sentimentos, vá lá, que os diferenciam, desde logo, a idade e a profissão.
Texto e Foto| Firmino Paixão
João Caçoila, de 29 anos, médio ofensivo do Sport Clube Mineiro Aljustrelense, e o irmão, Vasco Caçoila, de 25, também centrocampista, atualmente no Futebol Clube Castrense, têm um percurso desportivo com algumas semelhanças, sobretudo, nas escolhas, e, às vezes, até coincidente, como foram as cinco épocas em que atuaram juntos na equipa da Associação Cultural e Desportiva de Penedo Gordo, de onde saíram na época passada. O percurso formativo de ambos foi iniciado no Despertar Sporting Clube, com os tais quatro anos de diferença de idade, e daí, uma vez concluída essa primeira, e fundamental, etapa nas suas carreiras, derivaram para outros clubes.
João saiu para o Penedo Gordo, esteve uma época no Castrense, outra em São Marcos e voltou ao conjunto treinado por António Calatróia, antes de, no início desta temporada, vestir a camisola tricolor do Sport Clube Mineiro Aljustrelense.
Vasco transitou do Despertar para o vizinho Clube Desportivo de Beja e daí para o Penedo Gordo, onde se juntou ao irmão, revelando até mais fidelidade àquele emblema. No início desta época saiu para o Futebol Clube Castrense.
Com este palmarés, foi com toda a legitimidade que perguntámos, a um e a outro, se já se tinham autoavaliado como jogadores e qual deles achavam que seria o melhor, o mais completo. João foi perentório: “É completamente difícil dizer-lhe isso. Somos jogadores que atuam na mesma zona do terreno, mas muito diferentes um do outro. O Vasco tem algumas qualidades um bocadinho melhores do que eu, e eu terei outras um bocadinho melhores do que o Vasco. Somos muito diferentes, mas, para mim, se pudesse decidir, escolheria ter o Vasco sempre na minha equipa”. Nem mais. Mas Vasco não teve dúvidas. “Qual de nós é o melhor jogador? É o João, sem dúvida, mas não lhe diga isso. Somos jogadores diferentes, mas ele tem um toque de bola mais requintado, é mais tecnicista, tem um último passe com grande qualidade e vê coisas que, às vezes, nós não conseguimos ver. Lê muito bem o jogo ofensivo, muito melhor do que eu”. Pediu que não disséssemos nada ao mano e não dissemos. Só o saberá quando nos ler!
Outra dúvida que nos assolou: no momento de passar a bola, tendo o irmão a jogar com a mesma camisola e na mesma zona do terreno, privilegia-se esse jogador em detrimento de um melhor colocado? “Nem por isso”, garantiu João. E adiantou: “Dentro do campo prevalece o sentimento de nos darmos muito bem, conhecermo-nos de olhos fechados, mas é um jogador como outro qualquer. Mas, sim, é sempre melhor tê-lo do meu lado”. Vasco garantiu: “Não, nunca! Sou um bocado cego a jogar. Mas vibrava muito quando o meu irmão fazia um golo, ou assinava um grande lance, tinha sempre esse sentimento de regozijo pelo sucesso que ele estava a conseguir”.
O futebol entrou na vida destes dois irmãos de uma forma bastante óbvia, recordou João: “O meu pai era treinador, o meu tio era jogador, o meu avô também jogou. Desde pequeninos que nos ligámos ao futebol e íamos assistir a imensos jogos. As nossas tardes e manhãs de domingo eram consumidas no Estádio Flávio dos Santos, no Municipal de Aljustrel ou no Estádio D. Afonso Henriques, em Ourique, locais por onde o meu pai passou”. Porém, Vasco custou a entrar nessa rotina: “Confesso que, quando era mais miúdo, não gostava nada de futebol, não ligava, até que o meu pai me disse para ir ter com uns meus amigos e experimentar jogar futebol. Lá está, estava no nosso ADN, estava adormecido e despertou. Mas depois fiquei completamente louco”.
Hoje, os papéis estão invertidos. São eles que olham para o público e veem a família entre os espetadores. Os seus maiores fãs, admitiram. Uma família muito dedicada e ligada entre si, revelou Vasco. “Isso sempre nos foi induzido desde a infância. Em primeiro lugar a família. É um lema de vida pelo qual gosto de me guiar, sabendo que isso é comum a todas as pessoas que nos envolvem e que também o seguem”. Uma família feliz, atalhou João. “Sempre fizemos o que gostávamos. Fomos sempre muito felizes e muito acompanhados pela família. Ainda hoje os meus pais tanto acompanham o Vasco como me acompanham a mim, onde quer que formos jogar. Sempre foram muito ligados a nós”.No final da época passada, ambos puseram termo a uma ligação familiar, duradoura e intensa, com a equipa do Penedo Gordo e rumaram a clubes diferentes. Os manos Caçoila separaram-se. Vasco comentou: “No Penedo Gordo existia, de facto, uma família muito unida, era algo incrível, foi um tempo muito bom. Contudo, eu precisava de algo mais desafiante. Sou uma pessoa que gosta muito de trabalhar. No Penedo Gordo, por vezes, faltava um pouco de seriedade e eu fui à procura de um bocado mais de compromisso, para conseguir conquistar títulos, porque é uma coisa que eu ambiciono e de que tenho falta para satisfazer o meu ego”. João também o lamentou, recordando: “Jogámos muitas partidas na mesma equipa, com a mesma camisola, mas também jogámos um contra o outro. Por exemplo, quando eu estava no Castrense e o Vasco no Penedo Gordo. Mas é muito melhor jogar com ele na mesma equipa do que jogar contra ele”.
A ambição, diremos, falou mais alto. João reconheceu-o: “Falta-me um título de campeão distrital, já esteve quase, e eu gostaria de lá chegar. Gostaria que fosse neste ano, mas se não acontecer também estará tudo bem e a vida continuará”. E Vasco não desafinou: “No futebol quero ganhar o máximo de títulos que me for possível e experimentar um campeonato superior. Quero ver se, com o meu trabalho e a minha ambição, conseguirei impor-me em campeonatos superiores”.
E como o futebol, a este nível, “não põe pão na mesa”, o futuro de ambos está assegurado. João licenciou-se, e fez pós-graduação, em Desporto e trabalha no ginásio da família. Vasco especializou-se em Matemática Aplicada à Economia e Gestão e trabalha como consultor financeiro. Boa sorte a ambos!