O Centro de Cultura e Desporto de Trindade é outro dos clubes recém-chegados ao futebol federado, através da participação no Campeonato Distrital da 2.ª Divisão, época de 2024/25, da Associação de Futebol de Beja.
Texto Firmino Paixão
Em terras de fraca densidade populacional, como é o caso da aldeia de Trindade, no concelho de Beja, o futebol tem uma dimensão social muito relevante. Um papel que vai para além do entretenimento da população envelhecida e do exemplo de prática de atividade física para os mais jovens que possam ainda ali residir, mas pode, deve, potenciar a aproximação entre os que estão e os que vão a propósito de um jogo de bola. Paulo Cardoso, vice-presidente do Centro de Cultura e Desporto de Trindade, partilhou algumas ideias com o “Diário do Alentejo” no exato dia em que o Trindade recebeu a visita do vizinho Albernoense, que ali venceu por três bolas a zero.
Seguramente que gostariam muito de ter ganhado este jogo. Um dérbi entre dois clubes vizinhos…
Claro que sim! Gostaríamos de ter sido os vencedores. Mas são equipas diferentes, com objetivos distintos. Uma, o Albernoense, quer subir de divisão, a outra, o Trindade, é estreante neste campeonato. Nós temos a felicidade de termos, na nossa equipa, à volta de 12 jogadores mesmo da Trindade, e, então, o coração aí também joga muito nestes jogos. Mas, pronto, gostaríamos de ter ganho ao nosso vizinho, mas não foi possível.
São estreantes no futebol federado. Havia indicadores que deixavam prever essa inevitabilidade. Foi uma decisão fácil de tomar?
Fácil nunca é. As condicionantes são muitas. Sentimos muita dificuldade em arranjar patrocinadores, também, e principalmente, gente para trabalhar. Temos pouca gente para nos ajudar. Mas vamos tentando fazer as coisas. Nós queríamos muito tomar esta decisão, porque o Campeonato do Inatel era já uma prova onde víamos a nossa equipa um bocadinho deslocada. Sentíamos que já não era uma equipa de Inatel. De resto, os resultados que temos conseguido provam isso. Felizmente, o campeonato tem-nos corrido bem e esperamos que continue assim.
A vossa continuidade no Inatel era já um projeto esgotado?
Sim, tirando a parte financeira, que era aquela que nos vinha impedindo de assumir este projeto, que é a parte pior para nós e, seguramente, para os clubes todos, mas neste ano quisemos agarrar este desafio. Esperamos que tudo nos corra bem, para que possamos manter-nos neste patamar nos anos vindouros.
Que objetivos traçaram para o campeonato?
Este é o ano zero. Será um momento de experiências. Quisemos ver como será este campeonato distrital da segunda divisão. Temos várias equipas na nossa série que, em passado recente, também competiam no Inatel e vieram para este campeonato. Nós quisemos ver como é que as coisas nos iriam correr. Já estamos a constatar que, em termos de orçamentos, é uma coisa muito diferente do que estávamos habituados, mas o resto vamos tentar seguir em frente e ver como as coisas nos correrão.
Nos primeiros seis jogos conseguiram quatro vitórias e sofreram duas derrotas. Foi um início prometedor…
Sim, estamos agradados com este início de campeonato. Tem sido muito agradável verificar o nosso percurso, embora tenhamos a infelicidade de possuir um plantel curto. Um plantel tão curto como o nosso orçamento, por isso quando acontecem lesões crescem as dificuldades, mas estamos no início, vamos ainda na sexta jornada e tem sido realmente prometedor.
A Taça Distrito de Beja é outra frente desportiva. Que metas levarão no domingo para o jogo com o Desportivo da Sete nesta pré-eliminatória do troféu?
Como referi, estamos no tal ano zero. Não sabemos bem onde vamos, nem o que iremos encontrar, embora já tenhamos defrontado o Sete quando estávamos no Inatel. Antigamente nós conhecíamos a equipa mas, tal como a nossa mudou, certamente que a deles também se alterou. Vamos na incógnita, mas queremos ganhar, estamos cá para isso e estamos confiantes.
O orçamento, como diz, é curto. Não chega para pagar vencimentos aos jogadores?
Não! Os nossos jogadores não recebem compensações financeiras. Se as recebessem, então, estaríamos mesmo muito mal. Quando me refiro a um orçamento curto para os encargos falo de despesas com inscrições, deslocações e outros encargos correntes. A Trindade é uma aldeia muito pequena, mas, felizmente, saíram muitos jogadores nesta fornada de habitantes e é com eles que contamos. Temos cerca de 200 habitantes, a maioria das pessoas já tem uma idade avançada, precisamos de gente para nos ajudar e trabalhar no seio do clube. Somos poucos a lutar para que seja possível levar isto para a frente.
Um tão elevado número de jogadores da terra é um elo privilegiado para que a comunidade se identifique com a equipa?
Sim, é um facto. Os jogos de futebol são um entretenimento muito bom para as nossas gentes, têm uma função social relevante. Traz aqui as pessoas ao campo e também vem muita gente de fora, contrariamente ao que acontecia nos jogos do campeonato do Inatel a que nós estávamos habituados. Os adeptos que hoje vêm aqui ao futebol sempre fazem movimentar aqui muita coisa, embora nós não tenhamos muito comércio, mas vem aqui muita gente.
À volta da Trindade vão surgindo relvados sintéticos. Não será durante o atual mandato autárquico, mas estamos certos de que, em breve, poderão concretizar esse sonho…
Não é o objetivo principal, mas certamente que gostaríamos de ter aqui um relvado sintético. Temos umas infraestruturas fantásticas, por exemplo, em termos de balneários. Falta alterar a iluminação para LED e o piso sintético é claramente uma obra que está no nosso pensamento. Não sabemos quando, nem como, mas está nos nossos objetivos. Não é a participação neste campeonato o propósito para que isso possa acontecer, mas queremos que aconteça.
Não existindo aqui um tecido económico suficientemente forte para vos apoiar, como é que vão satisfazendo os compromissos?
A nossa aldeia não está assim tão distante de Beja. São apenas 13 quilómetros e temos a sorte de conhecermos alguns empresários que operam na sede de concelho e nos apoiam. Ajudam-nos com muito gosto e nós sentimo-nos muito honrados com esses apoios, naturalmente, também com aqueles que vêm das entidades institucionais, união de freguesias e município.