Diário do Alentejo

Uma história às três tabelas

26 de julho 2024 - 12:00
Clube de Bilhar de Beja conseguiu inédita promoção à 1.ª divisão nacionalFoto| Firmino Paixão

O Campeonato Nacional de Bilhar (carambola às três tabelas) do próximo ano, competição organizada pela Federação Portuguesa de Bilhar, contará com a inédita participação do Clube de Bilhar de Beja.

Texto e Foto Firmino Paixão

“Fizemos história”, regozija-se Francisco Marreiros, presidente do Clube de Bilhar de Beja. “Nunca ninguém imaginou que isto acontecesse. Diziam-nos mesmo que nunca teríamos essa oportunidade”, conta o líder do clube fundado há cerca de uma década. Porém, lembra: “Prometemos que daríamos tudo por tudo. Fizemos uma primeira volta do campeonato espetacular. Andámos sempre na frente. Na parte final do campeonato, na verdade, fomo-nos um pouco abaixo e só conseguimos a promoção na última jornada. Praticamente, só com a prata da casa”.

Não foi um percurso fácil?Não foi nada fácil. Fizemos uma fase de apuramento espetacular, ficámos no primeiro lugar. Na segunda fase, já com as duas equipas da nossa série, candidatas à subida, começámos muito bem em Leiria, andámos sempre na frente. Nas últimas jornadas quebrámos e descemos para segundo. Fomos disputar o título nacional no Estádio da Luz, em Lisboa. Eram duas equipas do Leixões, nós e o Leiria. Ficámos na terceira posição, venceu o Leixões, merecidamente. Na próxima época, receberemos todas as equipas da zona sul e os primeiros quatro serão apurados para disputar uma final a oito. Disputámos também a Taça de Portugal, chegámos longe, mas fomos eliminados por uma equipa da 1.ª divisão. Agora, estamos a disputar o Open de Évora, prova em que participamos todos os anos.

Uma modalidade que, a este nível competitivo, exige muita capacidade de superação, muita resiliência…É muito complicado. Não temos as condições que têm muitos clubes. Estamos na Sociedade Filarmónica Capricho Bejense e temos só dois bilhares. Não é fácil, mesmo para treinarmos, mas com muita vontade temos conseguido. Não treinamos tanto como os outros atletas mas, graças a Deus, a Capricho facilita-nos e tem-nos ajudado imenso. As pessoas gostam do salão, só é pena não termos os quatro bilhares e ar condicionado. Mas o presidente do município já nos prometeu que, neste ano, teríamos lá o ar condicionado. Depois, são as habituais dificuldades com as deslocações. Temos um orçamento anual à volta dos três mil e tal euros e tivemos, apenas, uma ajuda de 250 euros do município. O resto foi à conta dos jogadores. Quotizamo-nos, pagamos as inscrições e as viagens do nosso bolso. Mas, enquanto pudermos, vamos mantendo o clube, sobretudo, agora que atingimos tão elevado patamar.

A 1.ª divisão dará mais visibilidade ao clube e à modalidade. Poderão abrir-se outras portas e conseguirem mais apoios?Quando concretizámos a subida à 1.ª divisão, fui logo contactado pelo presidente do município de Beja, Paulo Arsénio, que reiterou a promessa de climatização do salão onde jogamos. Acreditamos que virão outros tipos de apoios de outras pessoas que já nos prometeram ajuda. Pouco que seja, entre todos, será muito para nós. E esperamos que a câmara municipal nos apoie mais. Tem sido muito difícil. Cada jogo de bolas custa 160 euros, a mudança de pano de um bilhar custa 750, cada viagem a Lisboa são, no mínimo, 120 ou 130 euros. Por exemplo, o Clube de Bilhar de Évora tem duas equipas e tem um apoio financeiro significativo e transporte para as deslocações.

Os próximos adversários serão, obviamente, equipas de maior qualidade. Jogos com uma exigência maior?Iremos defrontar equipas muito fortes, por exemplo, as equipas principais do Benfica e do Sporting, do Estrela da Amadora ou do Ginásio do Sul. Equipas habituadas a grandes competições recheadas de campeões nacionais e mundiais, por exemplo, Jorge Teriaga, do Sporting. São atletas de grande nível. O Clube de Bilhar de Évora também tem muita qualidade, tem dois atletas estrangeiros muito bons. Daremos o nosso máximo, sabendo que temos que lutar muito.

O objetivo é a manutenção? Uma ambição legítima…Todas as equipas que, à semelhança da nossa, têm subido à divisão principal, não se têm aguentado lá. Mas a nossa vontade, a nossa ambição, é mantermo-nos na 1.ª divisão, sabendo que não será fácil. Perguntaram-me quem é que eu iria buscar para reforçar a equipa de Beja. Respondi que, em Beja, jogariam os atletas da terra. Sabemos que existem por aí bons jogadores de bilhar, não só em Beja, na Vidigueira, em Serpa, noutras terras aqui em volta. Tenho feito alguns contactos, pode ser que, por esta via, eles despertem para isso e nos venham ajudar. Se pudéssemos reunir os melhores jogadores da região teríamos uma equipa capaz de se manter neste patamar. O difícil é cativá-los, as pessoas não querem compromissos. Mas o bilhar é uma atividade saudável, movimenta todos os músculos do corpo, obriga a uma atividade mental enorme. Toda a gente devia praticar bilhar. Já devia, há muito tempo, ser praticado nas escolas. Há países a investir muito na modalidade, em Portugal isso não acontece. O bilhar está muito concentrado em Lisboa e Porto; depois, temos Évora, Setúbal, Coimbra e Leiria. Mas nós não desistiremos. Eles terão de vir jogar a Beja. Terão de vir à nossa capital.

Olhando por aí em volta qual é a modalidade que tem um clube numa 1.ª divisão nacional?No concelho de Beja o Clube de Bilhar de Beja será, porventura, o único que vai competir a esse nível. Queremos dar visibilidade ao clube, à modalidade e a esta região. Fomos felicitados pelo município e pelo Instituto Politécnico de Beja, sinal de que a comunidade está a reconhecer o mérito do nosso percurso. Mas precisamos que nos ajudem mais.

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