Diário do Alentejo

Escola Superior de Educação de Beja promoveu Dia do Desporto Feminino

30 de junho 2024 - 08:00
“Sou mulher, mas posso…”
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

“‘Sim, eu também sou mulher, mas, se eu entender, posso ser uma excelente jogadora dentro da minha modalidade. E o que eu preciso de fazer? Qual é o caminho que eu preciso de percorrer para chegar lá?’ (…) As mulheres não são diferentes dos homens e deverão ter as mesmas oportunidades para praticar desporto”.

 

Texto Firmino Paixão

 

O projeto “Action Girls”, da Escola Superior de Educação de Beja (ESE), celebrou o Dia do Desporto Feminino no distrito de Beja. Celebrou as conquistas de mulheres atletas em diferentes modalidades e, sobretudo, destacou a importância de promover a participação feminina no desporto, seja ele ao mais alto nível, seja por simples apetência para a prática desportiva. E fê-lo com a participação de meia centena de meninas entre os 10 e os 16 anos, atletas de diferentes clubes e de diversas modalidades.

Um dia de intensa actividade, preenchido com dinâmicas de grupo, workshops, avaliação de competências motoras e, mais relevante ainda, partilha de experiências com jogadoras profissionais, referências como Ana Catarina Monteiro (natação), Marta Vargas (basquetebol), Madalena Costa (patinagem artística), Mariana Lopes (andebol), além da própria Bebiana Sabino, docente na ESE, promotora do projeto “Action Girls” e capitã da seleção nacional de andebol em seniores femininos, que disputará, em novembro próximo, o europeu da modalidade.

Foi a própria Bebiana Sabino que fez a avaliação desta ação pontual. “Foi um dia bastante intenso mas, no global, podemos concluir que foi um dia muito bom. Acho que foi um marco importante para o desporto feminino no Baixo Alentejo, porque conseguimos reunir aqui meia centena de atletas de diferentes modalidades, individuais e de desportos coletivos, e todos elas, seguramente, passaram um dia muito feliz”. E justificou: “Não dizemos isso, apenas, porque elas tiveram um momento em que estiveram dentro da sua própria modalidade, mas porque tudo o resto, todos os outros momentos, todas as outras atividades, foram para acrescentar outro valor que não teve de ser direcionado com a sua própria modalidade, mas, sim, sobre valores que o desporto nos traz e que em concreto a mulher enfrenta naquilo que é a prática desportiva”.

Terá existido, porventura, uma mensagem central, que terá estado presente neste Dia do Desporto Feminino, admitiu a docente: “Primeiro, quisemos passar a estas jovens a ideia de que é importante elas permanecerem na prática, independentemente daquilo que é o seu objetivo e antes daquilo que é o desporto. O objetivo pode passar por alcançar um elevado rendimento, mas também pode ser a aquisição de competências motoras, pode ser o estar bem dentro da equipa, a prática desportiva direcionada para a saúde, acima de tudo, elas conseguirem perceber que têm oportunidade para praticar e que, como não são diferentes dos homens, terão de ter as mesmas oportunidades para praticarem desporto”.

Depois, essa mais-valia que foi a participação de algumas atletas internacionais em diferentes áreas, a quem as jovens participantes puderam colocar as suas questões: “Uma das principais ações nas atletas femininas é criarmos pontos de referência dentro da própria modalidade e, hoje em dia, as redes sociais facilitam muito esta comunicação, mas é um trabalho que precisa de ser desenvolvido. Os clubes precisam de desenvolver esse trabalho. Nós, enquanto projeto, também o procuramos fazer. Uma forma de nós apoiarmos o crescimento do desporto feminino é criar referências dentro das modalidades”. Por isso, acrescentou Bebiana Sabino: “Procurámos fazer isso em modalidades diferentes, andebol, basquetebol, ginástica, natação e na patinagem, criarmos uma referência, por isso, neste caso, fizemo-lo com atletas que fizeram o seu percurso nas seleções nacionais e que competem em campeonatos de elevada performance, para elas perceberem: ‘sim, eu também sou mulher, mas, se eu entender, posso ser uma excelente jogadora dentro da minha modalidade. E o que eu preciso de fazer? Qual é o caminho que eu preciso de percorrer para chegar lá?’”.

Quanto à implementação e eficácia do projeto “Action Girls” a docente comentou: “Obviamente que é um projeto que depende sempre de financiamento externo e é liderado pelo professor Nuno Loureiro, com uma equipa de trabalho bastante vasta. Os nossos estudantes do laboratório e também os estagiários do próprio projeto conciliam o desenvolvimento de todas as dinâmicas, só que é difícil conseguirmos abranger todas as modalidades e todos os atletas. Gostaríamos, mas, neste momento, ainda não temos essa possibilidade. Decidimos fazer estes encontros pontuais para conseguirmos reunir e alertar um maior número de atletas. Não podemos ainda chegar, individualmente, a todos os clubes, nem a todos os treinadores e dirigentes, porque será também muito pela parte deles que o desporto feminino poderá ser mudado. Os treinadores e os dirigentes serão esse factor de mudança”.

A participação da mulher no desporto está a crescer, dizem-no as diferentes federações, e Bebiana sabe-o e congratula-se com isso, mas considera: “É um crescimento ainda muito reduzido, mas está a acontecer, e nós, através do projeto, estamos igualmente com esse objetivo, pelo menos, para que quem já tomou essa iniciativa de estar dentro do desporto, que não o abandone, porque o problema também da prática desportiva feminina tem a ver com o abandono ao longo da adolescência. Com isto, nós também procuramos que elas se sintam bem dentro do desporto e se, em algum momento, sentirem ‘eu não vou ser uma excelente nadadora, uma excelente ginasta, uma excelente andebolista, mas eu posso aproveitar o andebol para a minha prática desportiva, porque é algo que me dá prazer e gosto de praticar, por estar inserida num grupo e por me sentir bem e satisfeita com as minhas colegas’, não tem, necessariamente, de alcançar elevados níveis de excelência”.

Mas saberiam a atletas que estavam partilhando aqueles momentos com a capitã da seleção nacional de andebol? “Não!”, confessou. “Estou aqui a desempenhar um papel diferente, sou professora, sou apenas mais uma pessoa que aqui está para as ajudar, obviamente, com o meu conhecimento do ponto de vista desportivo, mas sou, apenas, mais uma para fazer as ações do dia a dia que precisamos para conseguirmos desenvolver o desporto feminino”.

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