Diário do Alentejo

Luís Lebre, treinador do Futebol Clube Albernoense, quer continuar a fazer história no clube

23 de março 2024 - 12:00
“O que fizermos é com o Gefrison”
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

O Albernoense, primeiro classificado da série A na primeira fase do Campeonato Distrital da 2.ª Divisão da Associação de Futebol de Beja, foi uma das cinco equipas que entraram a ganhar na fase final da prova.

 

Texto | Firmino Paixão

 

O Albernoense apenas venceu a primeira de 10 finais, com as quais estão comprometidos até final da época. Contudo, seja qual for o sucesso da equipa, a subida de divisão ou, eventualmente, o título neste escalão, a dedicatória seria óbvia: Gefrison Candé Vinha, atleta que no dia 7 de janeiro último tombou no municipal de Mértola com a camisola do clube vestida. Uma garantia deixada pelo treinador do Albernoense, Luís Lebre: “Sem dúvida! Seria uma dedicatória ao nosso colega Gefrison. Quando aconteceu a tragédia, interiorizámos a mensagem que não faríamos nada por ele, mas que faríamos tudo com ele ao nosso lado. Está presente na nossa memória, no nosso coração e no nosso balneário, onde está bem identificado. Parece que foi há muito tempo, mas só passaram dois meses sobre a tragédia que o vitimou. As pessoas não se podem esquecer que este grupo de trabalho viu um colega falecer em campo. A nossa maior vitória foi termos voltado a competir depois disso. Todos juntos conseguimos. Não estamos a fazer nada por ele, estamos a fazer tudo com ele bem perto de nós”.

 

Venceram o primeiro jogo da segunda fase. Foi uma entrada com o pé direito?

Foi importante começarmos a fase final no nosso terreno e com uma vitória, porque serão as vitórias que nos galvanizam para os jogos seguintes. É sempre importante começar a ganhar, sobretudo, porque à conquista dos três pontos aliámos uma boa exibição.

 

O objetivo é o título ou apenas a subida de divisão?

O objetivo é disputarmos jogo a jogo. Na época passada ficámos a um ponto da subida de divisão. Não subimos por um golo e, neste ano, tentaremos fazer melhor do que no ano passado. O melhor seria subirmos de divisão, embora não sintamos esse peso nem essa responsabilidade sobre nós.

 

Não têm essa pressão, mas têm essa ambição…

Sim, claro. Não temos essa pressão mas, naturalmente, que temos essa ambição. Temos um grupo de trabalho ambicioso. Se assim não fosse, se não lutássemos por qualquer coisa, não valeria a pena andarmos aqui.

 

Na época passada tinham aqui um grande cartaz que dizia “Rumo à 1.ª Divisão”. Neste ano ainda não o colocaram?

Esse cartaz teve uma grande história que não vou aqui contar. Foi um cartaz que nos aborreceu a nós, equipa técnica, e aos jogadores. Não somos pessoas dessas coisas. Gostamos de estar no nosso cantinho a trabalhar discretamente. Foi uma ideia que apareceu do nada. Nós nem sabíamos que aquilo iria ser colocado. Até comentámos que aquilo acabaria por ser uma maldição. E acabou por se confirmar, porque o jogo após esse cartaz ser colocado, se calhar, foi aquele que nos impediu de irmos mais além. Jogámos em casa, com o Boavista dos Pinheiros, e perdemos 3-2 no último minuto.

 

O próximo jogo será em Santa Luzia que, algo surpreendentemente, foi o primeiro classificado da série C. Que previsões poderá deixar?

O primeiro lugar da equipa de Santa Luzia só surpreenderá quem não conhecer o valor da equipa. Jogámos, na pré-época, com eles e chamou-me muito a atenção a existência de muita qualidade individual e de um coletivo muito forte. As coisas estão a ser muito bem feitas em Santa Luzia. Têm um excelente grupo de trabalho e a mim não me surpreendeu nada a chegada da equipa a esta fase. Percebi, desde logo, que seria possível eles atingirem este momento competitivo.

 

A seguir virão os quartos de final da Taça Distrito de Beja, jogo que disputarão em Nave Redonda…

Temos uma deslocação ao terreno do Naverredondense, recinto onde tentaremos fazer mais um bocadinho de história para o Albernoense. Já temos tanta como, por exemplo, dois anos consecutivos na segunda fase. A passagem às meias-finais da taça, algo que aconteceria pela primeira vez, seria excelente, sabendo nós que o Naverredondense já eliminou duas equipas da primeira divisão (Cuba e Piense). Mas iremos lá com a ambição de conseguirmos chegar à eliminatória seguinte.

 

Como líder do grupo, coube-lhe minimizar o impacto da tragédia de Gefrison e fazer com que os jogadores se superassem?

Foi algo que aconteceu com a colaboração de todos nós. Sem dúvida que tive que me chegar à frente. Diz-se que os jovens treinadores são os treinadores académicos, mas, repare, que não há livro nenhum que nos ensine a lidar com uma situação destas. Conseguimos ir buscar um bocadinho ali, outro acolá, o apoio de um, ou de outro, das famílias, conseguimos quebrar o gelo e voltar a sentir um forte espírito de grupo. É uma situação que ainda permanece nas nossas memórias, mas com a qual temos vindo a lutar da melhor forma possível.

 

Olhando para a primeira fase do campeonato, que terminaram no primeiro lugar, perdendo apenas em Serpa, acha que foi quase perfeita?

O jogo em Serpa, onde perdemos por 4-1, serviu para nós aprendermos muitas coisas. Costumo dizer que, numa época inteira, só termos feito um jogo mau, foi fantástico. Nem os profissionais conseguem ter uma época totalmente perfeita. Tivemos um dia mau, correu tudo mal, jogadores a cumprir castigos, lesões, nós não teremos avaliado o jogo da melhor forma, e o Serpa venceu-nos com toda a justiça. Serviu para aprendermos, para crescermos e não voltarmos a repetir esses erros.

 

Os jogadores que tem à sua volta são “os melhores do mundo”? Não pode ter outros…

Bem, os melhores do mundo serão outros. Mas estes que estão no Albernoense são os que dão a cara por mim, dão a cara pelo clube e que me apoiaram no momento difícil por que todos passámos. Tenho aqui jogadores que já trabalham comigo há cinco anos, se não fossem bons não tentaria tê-los sempre perto de mim.

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