Diário do Alentejo

Jorge Belchior, o cantor do “The Voice Portugal” e ponta de lança do Futebol Clube Albernoense

30 de novembro 2023 -
“Tenho de abalar…”
Foto| Firmino PaixãoFoto| Firmino Paixão

Um sonhador sem limites. Vai queimando etapas, cumprindo desafios e refazendo novos projetos. Esteve recentemente no “The Voice Portugal”, concurso de talentos da “RTP”, e é jogador do Futebol Clube Albernoense.

 

Texto Firmino Paixão

“Tenho o mundo à espreita/O Alentejo vai-me acompanhar/Na hora da ceifa/Meu amor eu hei de lá estar”. Esta é uma mensagem em que Jorge Belchior se revê na perfeição e que interpreta como uma predisposição para sair do que diz ser a sua zona de conforto. Nascido há 25 anos em Aldeia dos Fernandes, no concelho de Almodôvar, sabe que não será por este pedaço de território no interior do País que alcançará o pleno dos seus sonhos, mas é aqui que está agarrado, é aqui que tem as suas raízes.

“A resiliência sempre foi um fator determinante na minha personalidade. Tenho conseguido tudo o que perseguia, sou um lutador, sou um sonhador e os sonhos existem para se cumprirem. Nesta altura, sonho lançar algo que seja meu, criar um projeto com a minha marca que dê a conhecer o meu nome e o meu trabalho ao nível da música”. Por isso, a pertinência do poema, escrito pela compositora Ana Rita Caixinha, musicado e cantado por Miguel Moura, que Jorge Belchior interpretou na “prova cega” do concurso televisivo. Um compromisso que lhe atrasou a recuperação do seu estatuto de goleador (na época anterior, no Beira Serra Naverredondense, marcou 21 golos em 23 jogos) com que pensa ajudar o Albernoense a cumprir o sonho, também, de atingir a divisão principal do futebol bejense.

Jorge Belchior iniciou-se no futebol nos benjamins do Ourique Desportos Clube e ali cumpriu algum do seu percurso inicial de formação, até que desceu até à região algarvia, onde procurou afirmar-se nas escolas de formação do Benfica e do Sporting, além de ter feito um estágio em Albufeira com a camisola do Liverpool. Ingressou, mais tarde, no Portimonense. “Uma época um bocado difícil em termos escolares e desportivos. Saía de casa pelas sete da manhã e regressava já de madrugada. Ocupava-me bastante tempo, fazia quatro treinos por semana e mais um jogo ao domingo”. Regressado à sua terra natal, uma lesão ter-lhe-á cortado as asas, impedindo um voo mais promissor. “Com 17 anos, jogando já nos seniores do Desportivo de Almodôvar, sofri uma lesão num joelho, uma rotura no ligamento cruzado anterior, que me condicionou o resto da carreira, mas, na verdade, também retomei os estudos, completei o 12.º ano e resolvi procurar um compromisso profissional”.

Com a camisola do Clube Desportivo de Almodôvar jogou ao lado do saudoso Filipe Venâncio, que recordou com natural emoção. “Fomos colegas no ano em que ele faleceu, partilhávamos o balneário lado a lado, foi uma perda muito dolorosa. Estará sempre na minha memória. Era um amigo e colega de equipa que também gostava de cantar a moda”.

Atualmente reparte o seu dia a dia como segurança nas minas de Neves Corvo, os treinos em Albernoa, a frequência de um curso técnico superior de Gestão da Qualidade, Segurança e Higiene no Trabalho, ministrado pelo Instituto Politécnico de Beja, e, naturalmente, por essa outra paixão – a segunda para além do futebol –, que é a música. “Claro que tenho esses dois amores, o mais antigo, que é o futebol, e agora este da música, que é o meu sonho principal. Quero desenvolver alguns projetos que tenho. Estou a preparar umas músicas novas. Tenho, para já, dois originais e depois pretendo lançar um álbum, aproveitando a visibilidade que tive em todo o País com esta minha passagem pelo ‘The Voice Portugal’. Quero dar a conhecer a minha música, dar a conhecer a minha voz, quero cantar as minhas músicas e não apenas as músicas de outros”.

Quererá, porventura, também, voltar a marcar imensos golos, para que o objetivo do Albernoense possa ser alcançado, até porque foi uma aposta do presidente do clube, Pedro Jonas, também ele um antigo músico. “Sem falsa modéstia, sei que a minha vinda para este clube era já um sonho do presidente do clube, Pedro Jonas. Não me considero nenhuma estrela, mas já vínhamos conversando nisso há cerca de cinco épocas. Era um sonho antigo do clube, e esta época foi possível”.

Um bom cantor tem de ter um bom ouvido e, nesse particular, Belchior não desilude. “Aprendi a cantar ainda muito novo, ouvindo as outras pessoas a cantar à alentejana num café que era propriedade dos meus pais. Foi assim que começou esse meu entusiasmo pelo cante”. Sublinhou também: “A minha família tem sido um suporte para que nunca tenha desistido, tem sido um elemento fundamental para a minha motivação”.

Jorge Belchior já tinha pisado o palco do “The Voice Portugal” em 2021, mas sem grande relevo, agora voltou com outro sucesso. “Agora, sim, digamos que realizei um sonho, sobretudo, porque foi uma oportunidade de me dar a conhecer. O Alentejo é uma região do interior, cada vez mais despovoada, afastada de grandes oportunidades mediáticas e sem existência de apoios para desenvolvermos os nossos projetos, e eu tive que ir à procura de outros desafios”. Ou seja, “tenho de abalar”… “Foi realmente essa a mensagem. Mas quero também agradecer ao Miguel Moura que me felicitou logo após ter passado a ‘prova cega’, com uma música que é dele, escrita também pela Ana Rita Caixinha, esposa do Rogério Caixinha, que é o produtor do Miguel. Todos me agradeceram a escolha e me desejaram a melhor sorte para o futuro”. Nós, também. Sorte, Jorge Belchior, tanto num, como no outro amor, porque, afinal, “tem o mundo à espreita” do seu sucesso.

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